Autoristarismo

Ayrton Centeno: "Estamos no limite de perder as poucas liberdades democráticas"

Autor de "Os vencedores" analisa o papel da mídia na atual conjuntura do País

Brasil de Fato (SP) |
Jornalista diz que a mídia sempre se comportou como um partido político, e passou dos limites após 2013
Jornalista diz que a mídia sempre se comportou como um partido político, e passou dos limites após 2013 - Foto: Divulgação

Ayrton Centeno, jornalista que passou por vários veículos de imprensa, é documentarista da questão da terra no Brasil e autor de Os vencedores, que aborda a questão da ditadura militar, em entrevista neste domingo (7) para a Rádio Brasil de Fato, analisou os riscos à democracia que estão em jogo nessas eleições.

Centeno avalia que não se trata de reduzir a disputa a “votar no PT, votar contra o PT, votar no Haddad, votar contra o Haddad”. Para ele, trata-se de uma questão muito maior. “Chegamos a um ponto agora, na nossa evolução pós-ditadura de 64, estamos no limite de perder as poucas, e insuficientes ainda, liberdades democráticas, que foram conquistadas penosamente ao longo de décadas”.
Para ele, o confronto que estas eleições expõe não é entre pessoas ou partidos, é entre concepções de sociedade. “[De um lado] Uma sociedade fechada, autoritária, que propõe até, segundo o candidato, o assassinato; a barbárie, de um lado. E, do outro lado, a democracia. Porque o PT passou esses governos e não houve nenhum ataque à democracia”.

Ao analisar o comportamento da mídia no pleito eleitoral, o jornalista, que passou pelo O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Veja, Agência Estado e Brasília Confidencial, disse que não apenas nesse processo vem se comportando como um partido. “A mídia sempre se comportou como um partido, mas é claro que após os acontecimentos de 2013 [houve um exacerbamento]”. 

Ele relembra momentos similares e até expressões que volta e meia retornam. “Algumas expressões que são usadas no presente, são expressões que foram usadas no passado. Um exemplo, a expressão mar de lama foi cunhada por Carlos Lacerda, jornalista talentoso, de direita, para descrever o que havia abaixo do Palácio do Catete, onde estava Getúlio Vargas. Em 2016, essa expressão será usada novamente por Aécio Neves, assim como foi em 2014 em sua campanha”.

Os movimentos de idas e vindas na história sempre foram acompanhadas pela mídia, de maneira parcial, segundo ele. “Acho difícil que haja um país com uma mídia tão parcial como no Brasil. Foi admitido claramente pela presidente da Associação Brasileira dos Jornais, ainda no primeiro governo da Dilma, quando ela disse: ‘nós temos que fazer uma oposição, porque quem deveria fazer oposição, os congressistas não fazem’. É claramente uma oposição aos governos Lula e Dilma, assim como foi o jornalismo de situação dos dois governos do governo Fernando Henrique”.

Ao comparar com as eleições de 1989, que tinha um candidato defendido pela mídia “Fernando Collor”, Centeno diz que a mídia tem alguns pontos de contato com o atual processo, mas diferente do passado não havia o candidato para enfrentar a esquerda. “Apostaram no Alckmin [PSDB], mas ele não deu resposta. Ainda durante o primeiro turno começaram a haver deserções do Alckmin rumo a Bolsonaro. Assim como as candidaturas do Ulysses [Guimarães], do Aureliano Chaves, que tinham um grande tempo de televisão, foram desidratados em 89 também. Houve a traição do MDB e do DEM traíram o Aureliano e o Ulysses para se juntar ao Collor. Hoje traíram o Alckmin para se juntar ao Bolsonaro”.

Para ele, o atual cenário polariza também para a mídia. “Ou está de um lado ou de outro, não tem meio termo”.

Edição: Daniel Giovanaz