Coluna

A defesa da alegria

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"Desde 2017 percebo o quanto o  carnaval funciona como um termômetro das tensões sociais que o país vem passando"
"Desde 2017 percebo o quanto o carnaval funciona como um termômetro das tensões sociais que o país vem passando" - Reprodução
O povo aprendeu a lutar cantando e até sorrindo

 

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Aqui em Pernambuco, mais especificamente entre Recife e Olinda, há quem diga que o carnaval começa no dia 07 de setembro quando a turma da Pitombeira dos Quatro Cantos toma as ladeiras de Olinda dizendo que se “a turma não saísse não havia carnaval” e a partir de então, todos os domingos em Olinda tem gente, bloco e muito frevo até fevereiro.

Para quem nunca curtiu a folia de momo pelas bandas de cá, vos digo: venham que não vão se arrepender. Para os veteranos e veteranas reafirmo: voltem sempre. A ideia é continuarmos batendo a meta de ser o maior carnaval em linha reta da américa latina. Mas tirando o meu bairrismos da conversa, a real é que o carnaval, onde quer que seja, só é tão bom de ser vivido porque é repleto de cor, de música, de riso, de alegria, ou seja, é repleto de povo.

Essa alegria de quatro dias é celebrada de diferentes formas em diferentes cantos do país e quando chega a quarta-feira a gente já está com saudade de ser feliz daquele jeito de novo. Desde 2017 percebo o quanto o  carnaval funciona como um termômetro das tensões sociais que o país vem passando. Lembro-me que ano passado foram frequentes os relatos pelo país dos vários momentos em que o povo bradou “Fora Temer” pelas ruas, avenidas e ladeiras  em repúdio ao golpe e ao ilegítimo presidente, já esse ano Lula voltou a ser o tema na boca do povo e cantar o velho “olê olê olá Lula, Lula” se tornou um canto de resistência, principalmente quando o canto era interrompido por vaias ou xingamentos vindos daqueles que desde fevereiro gestavam a onda fascista que iria desaguar de maneira mais nítida durante o  período eleitoral.

Eis que estamos em outubro, setembro passou e a Pitombeira esse ano não saiu (devido ao falecimento de seu ex-presidente) e estamos vivenciando um momento desafiador para aquelas e aqueles que defendem a democracia. Como já afirmou o poeta Mário Benedetti é tempo de “defender a alegria como um destino”, em detrimento daqueles que defendem o ódio e a violência.

Mas o que tem a ver o carnaval com tudo isso? alguém deve estar se perguntando. É que por aqui, nesta terra Brasil de contradições e esperanças mil, o povo aprendeu a lutar cantando e até sorrindo. É por isso que já existem vários blocos chamados “Vem com Lula” que já foi às ruas chamar o povo pra trincheira da alegria, é por isso também que vai ter a Verde e Rosa cantando no sambódromo a resistência de Marielle tantas outras vozes silenciadas e, mais uma vez, é por isso que vai ter mais de quinze blocos de carnaval nas ladeiras de Olinda próximo domingo dizendo que defendem o amor, a democracia e que desejam o povo feliz de novo não somente no carnaval, mas nos próximos quatro anos porque estão com Haddad e Manuela e o povo brasileiro.

Portanto, como já dizia o escritor-folião recifense Jomard Muniz de Britto: “Carnavalizemos: por uma questão de radicalidade democrática”.

Edição: Monyse Ravenna