Brasília

Ato denuncia propostas devastadoras de Bolsonaro para o meio ambiente

Protesto ocorreu em frente à sede do Ministério do Meio Ambiente, pasta que líder do PSL pretende extinguir

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Ativistas, servidores públicos, entidades e outras lideranças reunidas durante ato em frente ao Ministério do Meio Ambiente, em Brasília
Ativistas, servidores públicos, entidades e outras lideranças reunidas durante ato em frente ao Ministério do Meio Ambiente, em Brasília - Simone Vendruscolo/ANA

Ambientalistas, movimentos populares, servidores públicos, indígenas, entidades e atores políticos se reuniram, no início da tarde desta sexta-feira (19), em Brasília (DF), para protestar contra a política de meio ambiente defendida pelo candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL).

O ato ocorreu em frente à sede do Ministério do Meio Ambiente (MMA), na Esplanada dos Ministérios. O órgão está entre os alvos do líder do PSL, que defende a extinção do MMA, com a consequente junção da pasta com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), apontou que a iniciativa traz diversos riscos. Ela afirma que, em primeiro lugar, comprometeria, entre outras coisas, as políticas ambientais urbanas, que estão entre as atribuições do MMA e poderiam ser sufocadas diante das prioridades do Mapa.

Tais políticas aglutinam, por exemplo, ações de consumo sustentável, regulação da poluição, medidas relacionadas à reciclagem e ao tratamento de resíduos, etc.

Em segundo lugar, Adriana Ramos destaca que a junção das pastas representaria um maior risco de vulnerabilidade das políticas ambientais à pauta do agronegócio, segmento que tem grande interlocução com o Mapa.

"A agenda ambiental está sempre mediando relações com os projetos de desenvolvimento, então, você não pode subordinar ela a decisões relativas a nenhum setor. Seria um desastre para um país que tem o patrimônio ambiental que o Brasil tem”.

A rede de defesa do meio ambiente, que inclui especialistas, entidades e movimentos, é uma das que mais têm se manifestado contra a candidatura de Jair Bolsonaro. Isso porque o presidenciável tem histórico de conflitos com o tema da preservação dos recursos naturais.

Entre outras coisas, ele já foi multado por pesca ilegal em área de preservação, critica o trabalho dos órgãos de fiscalização ambiental, defende a liberação da caça recreativa de animais silvestres e repreende o que chama de uma suposta “indústria da multa”, numa referência ao trabalho de fiscalização dos órgãos de proteção ao meio ambiente.

“O que o Bolsonaro está propondo são coisas que vão contra a Constituição e contra as nossas missões institucionais”, afirma o conselheiro Gustavo Cruz, do Indigenistas Associados (INA), que também participou do ato.  

A declaração é uma referência, entre outras coisas, ao artigo 225 da Carta Magna, que trata da necessidade de o Estado garantir um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Bolsonaro também tem proximidade com a bancada ruralista, que reúne os parlamentares ligados ao agronegócio, tradicionalmente associado ao uso de agrotóxicos e à devastação ambiental. O grupo é apoiador oficial da campanha dele.

O candidato disse recentemente que pretende proibir todos os “ativismos”. A declaração, alusiva ao engajamento político e social, foi uma das coisas mais criticadas pelos militantes durante o ato desta sexta-feira.

“Momento decisivo”

Para a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o país vive, neste segundo turno das eleições, “um momento histórico e decisivo”. É o que afirma a militante Sônia Guajajara, da coordenação-executiva da entidade.

Ela destacou que uma eventual vitória de Bolsonaro traria mais retrocessos na área ambiental, além do risco de “práticas autoritárias”.

“É hora de a gente escolher um lado; um lado que pelo menos nos permita lutar, porque o que está em jogo agora é isto: ou a democracia ou a ditadura. Então, o lado em que estamos é aquele do direito de continuar lutando”.

No protesto, os manifestantes disseram palavras de ordem em defesa da candidatura de Fernando Haddad (PT), que tem Manuela d´Ávila (PCdoB) como vice. O entendimento dos grupos de defesa do meio ambiente é o de que a chapa PT/PCdoB representaria de forma mais democrática os interesses do setor.

O ato também atraiu cidadãos com diferentes perfis, como o militante Rumi Cruz, do movimento Nación Pachamama, que tem uma visão espiritualista da relação com a natureza. Ele considera que a luta em defesa do meio ambiente precisa se estender além do poder público e das entidades que atuam na área.  

“Pra mim, isso é mais que uma luta individual ou grupal. É uma luta mundial de preservação. Se isso for precarizado, a gente não vai ter qualidade de vida, oxigênio, água, povos originários, cultura, comida, etc”.

 

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira