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PAPO ESPORTIVO | O que será que o Doutor Sócrates estaria pensando agora?

Sócrates foi um dos que mais lutou pelas Diretas nos anos 1980. O que ele estaria pensando de nós hoje, em 2018?

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Sócrates brilhou no Corinthians e na Seleção Brasileira
Sócrates brilhou no Corinthians e na Seleção Brasileira - Reprodução / Site oficial da CBF
Sócrates foi um dos que mais lutou pelas Diretas nos anos 1980. O que ele estaria pensando de nós hoje, em 2018?

Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. Os mais novos provavelmente não tiveram o prazer de ver o grande Sócrates em campo. O Doutor (apelido que ganhou da sua formação em Medicina) foi simplesmente um dos maiores jogadores que o Brasil já viu e brilhou intensamente com as camisas do Corinthians, do Flamengo e da Seleção Brasileira. Infelizmente, ele nos deixou em 2011, vítima do alcoolismo que o perseguiu durante boa parte dos seus 57 anos de vida.

Sócrates não foi brilhante apenas dentro de campo. Fora dele, o nosso Doutor foi um dos principais idealizadores da “Democracia Corintiana”, movimento que ficaria conhecido no mundo inteiro pelas suas ideias até então revolucionárias para o futebol. Decisões importantes como contratações, regras de concentração e liberdade para expressar opiniões políticas eram decididas através do voto igualitário de todos os membros do clube. O Corinthians também se colocaria à frente dos demais quando decidiu usar camisas com frases de cunho político como “Diretas Já” ou “Eu quero votar para presidente”. E isso no início da década de 1980, quando o país ainda era governado pela ditadura militar. Nem é preciso dizer que a “Democracia Corintiana” e as atividades e opiniões políticas do “Magrão” incomodaram bastante os militares. Estes chegaram a pedir moderação à diretoria do clube.

Diante disso tudo e muito mais que pode ser dito sobre Sócrates, eu me pergunto o que ele estaria pensando sobre nós hoje depois das eleições para presidente e governador.

A pergunta é bem complicada de ser respondida. Vivemos num tempo de verdadeira guerra nas redes sociais, brigas entre amigos e familiares e violações de direitos justificadas por ódio a um partido. Além disso, grandes nomes do nosso futebol como Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho (dois jogadores que conquistaram muito mais do que Sócrates conquistou em toda sua carreira) declararam publicamente seu voto no candidato vencedor das eleições presidenciais, evidenciando um processo que já se arrasta há algum tempo. Infelizmente, defender minorias, lutar pelo respeito aos Direitos Humanos e pautas do gênero virou coisa de “comunista”.

Sócrates também queria ver um Brasil diferente. Sem o autoritarismo de quem estava no poder. Sem a malícia dos políticos que vão de um lado para o outro apenas para se manter no poder e participar da “boquinha”. E sem a ignorância de quem traz apenas raiva dos que pensam diferente deles dentro do coração. Você até pode dizer que o Doutor era um bêbado safado e que queria “transformar o Brasil num antro de prostitutas e ladrões”. Mas faço questão de te lembrar mais uma vez que Sócrates tocava na ferida, no âmago da hipocrisia de todos aqueles que diziam querer um Brasil limpo, mas que apenas queriam manter seu espaço para expor seus preconceitos sem serem incomodados.

Acredito que Sócrates esteja lá em cima olhando pela gente e rezando para que nosso futuro não seja tão pesado. É complicado, eu sei. No entanto, assim como ele fazia dentro de campo, resolvendo jogadas complexas com um simples passe de calcanhar, cabe a nós mesmos sairmos dessa. Ajudemos os outros. Sejamos solidários. Lutemos contra as injustiças. Denunciemos as atrocidades e violações de direitos. E espalhemos o amor. Quer maior revolução do que essa?

Meu caro Sócrates, espero que você esteja bem aí em cima. Aqui embaixo nós vamos tocando o barco. Do jeito que dá.

Aquele abraço, pessoal...

Edição: Jaqueline Deister