Minas Gerais

SAÚDE

Em Minas Gerais, mais de 600 médicos cubanos deixam o SUS

A Região Metropolitana de Belo Horizonte foi uma das áreas do estado que mais contou com a atuação dos profissionais

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
O coletivo de bordadeiras Linhas do Horizonte entregou lenços a 16 médicos cubanos, como forma de agradecimento e reconhecimento
O coletivo de bordadeiras Linhas do Horizonte entregou lenços a 16 médicos cubanos, como forma de agradecimento e reconhecimento - Reprodução

A saída dos médicos cubanos do Programa Mais Médicos, anunciada no último dia 14 pelo governo de Cuba após declarações depreciativas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), tem causado incerteza e desassistência nas unidades de saúde. Em todo o país, a expectativa é que médicos com registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) que se inscreveram para ocupar as vagas do Programa comecem as atividades até o dia 18 de dezembro, conforme cronograma do Ministério da Saúde.

Em Minas Gerais, mais de 600 médicos cubanos foram desvinculados do Sistema Único de Saúde (SUS).  A Região Metropolitana de Belo Horizonte é uma das áreas do estado que mais contou com a atuação desses profissionais, o que, segundo o médico Ailton Cezário Alvez Júnior, trouxe qualidade no atendimento à população.

"É evidente o ganho que ocorreu em termos de acesso da população ao profissional médico. O Programa agregou valor à Estratégia da Saúde da Família, na medida em que conseguiu vincular o profissional com maior estabilidade", comenta Ailton que trabalha no SUS há 20 anos. Para ele, o ponto forte da atuação dos profissionais cubanos é a experiência prática na promoção e prevenção da saúde.

Iliana Sánchez é uma das médicas cubanas que atendia pelo Programa Mais Médicos. Ela chegou ao Brasil em novembro de 2013, motivada em conhecer o país, compartilhar a cultura e cuidar da saúde da população, sobretudo a mais pobre. Até semana passada ela trabalhou em Sabará, na Região Metropolitana de BH. Casada com um brasileiro e em processo de nacionalização, Iliana está apreensiva sobre seu futuro.

“Eu ainda tinha um ano de trabalho. Eu sabia que tinha que deixar o Mais Médicos, mas a gente se prepara. Eu trabalho há cinco anos para o povo brasileiro, pra gente pobre. E até hoje, até o ultimo dia em que trabalhei, os pacientes gostam de mim, gostam do meu trabalho. Nunca tive nenhum problema com meus pacientes. Estou sem saber o que fazer”, lamenta Iliana, que exerce a medicina há 29 anos e já trabalhou prestando solidariedade também na Bolívia e na Venezuela.

Vínculo

Entre as qualidades do Programa Mais Médicos, se destaca a vinculação dos médicos aos territórios, construindo relações mais fortes com as equipes de saúde e também com a comunidade. As áreas contempladas geralmente são periferias da capitais, cidades interioranas, áreas indígenas e comunidades de difícil acesso.

Em todo país, 8230 profissionais inscritos no Programa já estão alocados nos municípios. No entanto, até o domingo (25), somente 40 médicos tinha se apresentando nas unidades básicas de saúde, conforme informação do Ministério da Saúde.

Médicos tinham relação mais próxima com equipe de saúde e com a comunidade

Homenagem aos cubanos que tiveram que ir embora

Os médicos cubanos já começaram a deixar o país na última semana. Em Belo Horizonte, o Conselho Municipal de Saúde (CMS) homenageou os quase 50 médicos cubanos que atuaram em mais de 20 Centros de Saúde. Somente na capital, foram quase 200 mil usuários do SUS beneficiados, segundo levantamento do CMS.

No sábado (24), o coletivo de bordadeiras Linhas do Horizonte entregou aos 16 médicos cubanos que trabalhavam em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana, uma bandeira para o país e um lenço para cada um deles, com mensagens de agradecimento e reconhecimento. Beatriz Alkmin, médica anestesista e bordadeira do coletivo, afirma que está triste com a situação.

“Os cubanos fizeram um discurso que eu achei muito emocionante. Apesar do momento ser ríspido, eles não se queixaram. Fizeram questão de enfatizar o amor que eles têm pelo Brasil, a gratidão à população que os recebeu e, também, pelos profissionais do SUS, que os acompanharam. A palavra deles era de alegria ao voltar para casa, mas de tristeza por abandonar a segunda casa”, conta Beatriz.

Edição: Joana Tavares