Violência no Campo

Delegado especial deve ser nomeado para investigar morte de sem-terra em Pernambuco

"Betão" foi assassinado por pistoleiros, no dia 21 de dezembro, no sertão do São Francisco

Brasil de Fato | São Paulo |
Nos últimos anos, cinco lideranças do assentamento foram assassinadas; MST exige investigação e punição dos culpados.
Nos últimos anos, cinco lideranças do assentamento foram assassinadas; MST exige investigação e punição dos culpados. - Flickr/Michele Rios

O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Jaime Amorim, informou ao Brasil de Fato que o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, pretende nomear um delegado especial para investigar o assassinato do trabalhador rural Cícero de Lima Costa, conhecido como Betão. 

O militante de 42 anos foi assassinado por pistoleiros quando chegava ao assentamento Catalunha, em Santa Maria da Boa Vista, no último 21 de dezembro.

O pedido de investigação foi feito pela direção estadual do MST, nesta quinta-feira (27), através de carta endereçada ao governador do estado. A carta exige investigação com celeridade e a nomeação de um delegado especial para acompanhar o caso. De acordo com a carta, é preciso acabar com o clima de impunidade e violência, incentivada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, “contra índios, quilombolas e sem-terras, e em defesa do latifúndio... O  discurso de Bolsonaro continua contaminando a sociedade com ódio e intolerância”, afirma Amorim.

Betão foi a 5ª liderança do assentamento Catalunha assassinada nos últimos anos, o que faz com que as 604 famílias do assentamento vivam em clima de tensão. “Cabe ao governo do Estado a apuração, investigação e punição”, cobra Amorim. “É preciso investigar, até para entender quem está por trás dos assassinatos e se os crimes estão vinculados. Só uma boa investigação pode dar tranquilidade para as famílias do assentamento”. Betão era casado e tinha dois filhos. Vivia na área desde 1996 e participou da ocupação que deu origem ao assentamento Catalunha.

Assentamento Catalunha

O assentamento Catalunha foi ocupado pelas famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nos anos 1990. No entanto, um dos maiores problemas enfrentados pelas famílias em permanecer na terra é a falta de água para irrigar suas plantações. 

“A área é boa, está pronta para irrigar, falta apenas ligar a adutora”, conta Amorim. Localizado no sertão do São Francisco, além de problemas com irrigação, o assentamento ainda espera a chegada do asfaltamento e da construção de uma escola. “Até agora nada foi resolvido”, lamenta.

Adailto Cardoso, dirigente do MST na região de Santa Maria da Boa Vista, compartilha das preocupações de Amorim. “Esperamos que haja intervenção estadual e até mesmo federal para que se ponha um fim nas situações de assassinatos e outras violências que ocorrem com as famílias ali assentadas, mas também que se solucione a questão da irrigação, para que as famílias possam produzir e viver de maneira adequada”. 

O Brasil de Fato entrou em contato com o gabinete do governador, com a Secretaria de Segurança e a Polícia Civil de Pernambuco, mas não conseguiu confirmar a informação sobre a nomeação de um delegado especial para o caso até o fechamento dessa nota. 

Edição: Tayguara Ribeiro