AMÉRICA LATINA

Brasil será entregue “em bandeja de prata” às transnacionais, afirma Maduro

Em entrevista a Ignacio Ramonet, mandatário criticou processo de privatização adotado após impeachment de Dilma

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Nicolás Maduro concedeu entrevista ao jornalista Ignacio Ramonet na última quinta-feira (27)
Nicolás Maduro concedeu entrevista ao jornalista Ignacio Ramonet na última quinta-feira (27) - Venezolana de Televisión

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, concedeu na última quinta-feira (27), no Palácio de Miraflores, uma entrevista ao jornalista espanhol Ignacio de Ramonet. Nela, o mandatário reeleito em maio de 2018 para um mandato de mais seis anos, rebateu as alegações de fraude eleitoral, falou sobre o novo pacote de reestruturação econômica e fez previsões a respeito do governo de Jair Bolsonaro. 

A entrevista foi transmitida nesta terça-feira (1) na rede Venezolana de Televisión

Segundo Maduro, após o impeachment de Dilma Rousseff, em agosto de 2016, o governo de Michel Temer iniciou um intenso processo de privatizações. “O petróleo foi privatizado, estão privatizando os serviços públicos de eletricidade, água, etc. Estão privatizando tudo, de um dia para o outro”, afirma.

Para ele, “com a chegada do governo de extrema-direita neofascista de Jair Bolsonaro ao poder, praticamente entregaram em uma bandeja de prata o que significa o Brasil na América do Sul, na América Latina, às transnacionais estadunidenses. Realmente é um processo triste de retrocesso”. 

Disse ainda que o surgimento de representantes de extrema direita foi alimentado pelos recentes casos de perseguição midiática e judicial contra líderes latino-americanos de esquerda. 

“Nos últimos anos houve uma ofensiva brutal contra os movimentos populares e lideranças alternativas que, a partir dos anos 1990, enfrentaram e desmontaram o neoliberalismo na América Latina. Recordemos, por exemplo, o [caso do] presidente Lula, no Brasil; da ex-presidente Cristina Fernandes [Kirchner], na Argentina; entre outras lideranças”, frisa.

No entanto, o mandatário considera que o processo de transição a governos neoliberais em curso na América Latina pode impulsionar o fortalecimento de movimentos sociais de oposição e de líderes de esquerda. 

Um exemplo seria a eleição de Andrés Manuel López Obrador, no México. O representante da coligação de esquerda Movimento Regeneração Nacional (Morena) venceu o pleito que ocorreu em julho de 2018, pondo fim a um longo período de hegemonia do Partido Revolucionário Institucional (PRI), de direita. O PRI governou o México de modo ininterrupto de 1929 a 2000, voltando ao poder em 2012 com a eleição de Enrique Peña Nieto.

Segundo Maduro, “nós constatamos que ao lado desse grande retrocesso atual em vários países hoje governados por grupos neoliberais, a capacidade de ação de movimentos populares e sociais em bairros, no campo e nas cidades está se fortalecendo”. 

Segundo ele, a volta de governos de esquerda como resposta ao cansaço das políticas neoliberais lembram “o renascer dos formidáveis movimentos populares que enfrentaram a ALCA [Área de Livre Comércio das Américas] em 1990. Aqueles movimentos de resistência não tinham, então, grande perspectiva de alcançar o poder político”.

Reeleição presidencial

Em maio de 2018, Maduro foi reeleito presidente da Venezuela para um mandato de mais seis anos. O atual presidente venceu com 67,8% dos votos válidos, 47% a mais que o candidato de oposição Henri Falcón, que somou 21,2% dos votos. O próximo mandato começa no dia 10 de janeiro.

Após o resultado das eleições, adversários de Maduro o acusaram de ter fraudado o processo. No entanto, para ele, as eleições de maio aconteceram sob grande “controle de observadores nacionais e internacionais”. Maduro afirmou ainda que o sistema eleitoral venezuelano foi “reconhecido por personalidades internacionais de indiscutível prestígio, como [o ex-presidente dos Estados Unidos] Jimmy Carter, que afirmou que ‘o sistema eleitoral venezuelano é o mais transparente que ele viu no mundo’”. 

Além disso, segundo ele, a oposição ao seu governo foi convidada para diversas sessões de diálogo, “isso sem contar o diálogo permanente que meu governo mantém com os setores privados e com a sociedade em geral”. 

Maduro afirmou também que, com o resultado das eleições, “o povo da Venezuela corroborou a Revolução Bolivariana, o chavismo - que é uma força política e social real, que existe nas ruas, nos bairros e nos campos - e corroborou também, devo dizer-lhe com humildade, a minha candidatura”. 

Reestruturação econômica

Em agosto de 2018, o governo de Maduro colocou em vigor uma série de medidas econômicas que tinham como objetivo conter o avanço da inflação no país. A principal mudança foi o corte de cinco zeros na moeda local, que passou a se chamar bolívar soberano. 

Também foi aprovado um decreto do governo que derruba a "Lei de Ilícitos Cambiais", vigente desde 2010, que proíbe transações em moeda estrangeira dentro do território do país. 

Segundo Maduro, “a principal conquista do Programa de Recuperação Econômica, Crescimento e Prosperidade é que já temos as rédeas do que é um plano de crescimento e recuperação. Nós temos as rédeas para a proteção do emprego, a proteção da renda dos trabalhadores. Nós temos as rédeas para o crescimento organizado dos setores fundamentais da economia”.

O presidente também afirmou que o pacote permite que o país se mantenha em melhores condições para enfrentar “a cruel e duríssima batalha contra as sanções internacionais que fizeram a Venezuela perder, só durante 2018, cerca de vinte bilhões de dólares”.

Ainda segundo ele, o governo está empenhado em elevar “a produção petroleira, a elevar a capacidade da Venezuela em sua petroquímica, na produção de ouro, de diamantes, de coltan…no aumento da produção de ferro, alumínio etc. Riquezas abundantes que a Venezuela possui”. 

:::O que está acontecendo na Venezuela?:::

Edição: Luiza Mançano