Tradicionalmente no mês de janeiro acontece, em Salvador, a Lavagem do Bonfim, uma das maiores manifestações populares da cidade. Apesar de ser mais conhecida, a lavagem antecede em três dias a celebração do dia de Nosso Senhor do Bonfim, comemorado no segundo domingo após o dia de Reis. Esse ano a lavagem será no dia 17 e o dia de Nosso Senhor do Bonfim será no dia 20. Entre os dias 10 e 19 acontece o novenário.
No dia da lavagem, o cortejo sai às oito horas da Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no Comércio até a Colina Sagrada, no bairro do Bonfim. É formado um tapete branco com milhares de pessoas numa caminhada de oito quilômetros, para agradecer, reafirmar a fé e reverenciar o Senhor do Bonfim. Banho de folhas, lavagem das escadarias pelas baianas, as famosas fitas coloridas do Senhor do Bonfim amarradas nos pulsos ou no gradil da Basílica, distribuição de mungunzá e a parte profana após o rito religioso são algumas das marcas desta festa. É marcada também pela cultura sincrética baiana, que reúne elementos das religiões católicas e de matriz africana, tem o orixá Oxalá reverenciado e homenageado no mesmo período. 
Com mais de dois séculos, tem origem na chegada a Salvador da imagem, que representa Jesus Cristo, trazida de Portugal pelo Capitão de Mar e Guerra Theodozio Roiz de Faria no ano de 1745 após ter alcançado uma graça. Ela ficou na igreja da Penha em Itapagipe e depois foi levada para a colina sagrada onde foi construída a capela do Senhor do Bonfim a partir de 1754. 
Em coletiva de imprensa realizada em dezembro, o Reitor da Basílica do Bonfim, Padre Edson Menezes, apresentou os motivos para escolha do tema “Jesus, o amado Senhor do Bonfim é a nossa paz”. “O tema escolhido para a Festa do Bonfim 2019 tem algumas motivações: primeiro uma motivação espiritual, rezar pela paz da cidade do Salvador, do estado da Bahia, do Brasil e do mundo inteiro; segundo, uma motivação cultural e procedimental: nós queremos valorizar a tradição do povo baiano de vestir branco para subir a ladeira da Colina Sagrada. Assim, vestiremos branco durante toda a programação da festa para participar das atividades pedindo, suplicando ao Senhor do Bonfim a paz”, pontua. Uma novidade é que uma bandeira branca entre 80 e 100 metros será conduzida pelos fiéis até a Igreja do Bonfim durante a lavagem, carregando a mensagem de paz.
Mayara de Queiroz da Silva, Farmacêutica, participa da Lavagem do Bonfim desde criança, pois sempre foi uma tradição familiar ir à festa. “Com o passar dos anos meu olhar foi ficando mais elaborado e carinhoso em relação aos festejos. É uma festa rica de fé, sincretismo e alegria. Pessoas que professam diferentes credos se encontram na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia e caminham até a colina sagrada ao som de sambões, fanfarras, mini-trios e até mesmo louvores católicos,” ressalta.
Mayara já viveu a festa de diversas maneiras,  desde ir andando às  5h da manhã do comércio ao Bonfim pagar uma promessa pela saúde do pai de uma amiga, até ficar no próprio Bonfim, sua residência há 24 anos, e se emocionar com a chegada das baianas e a lavagem das escadas. “Nos últimos anos tenho a alegria de passar a lavagem com um grupo de amigos. Fazemos camisas personalizadas e vamos até a da Conceição da Praia até a Colina Sagrada. Como costumamos dizer: “Do colo da mãe aos braços do Pai”.
Ela conta ainda que no ano passado seu aniversário coincidiu com o dia da lavagem e foi algo muito especial. “Fizemos o ‘Colados com May no Bonfim’. Para mim além de especial teve um sentido único: receber as bênçãos do Senhor do Bonfim no dia em que meu ano começou foi fantástico. Hoje posso afirmar como moradora do Bonfim, que aprendi a amar a Igreja, a festa e suas tradições e por isso recomendo muito uma passadinha por lá no dia 17 de janeiro próximo”, conclui.
 

Edição: Elen Carvalho