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Blocos identitários reivindicam e ocupam espaço no Carnaval

Blocos temáticos discutem racismo, homofobia e a política brasileira

Bloco das Montadas, no Distrito Federal, levou 15 mil pessoas às ruas em 2018
Bloco das Montadas, no Distrito Federal, levou 15 mil pessoas às ruas em 2018 - Flickr/Mídia Ninja
Blocos temáticos discutem racismo, homofobia e a política brasileira

Um bloco é feito de estandarte, de música, harmonia, alegria, suor e muita gente fantasiada, purpurinada e brincando o carnaval. No tradicional festejo brasileiro blocos e troças tomam as ruas de animação que dura os quatros dias de carnaval e termina na ingrata quarta-feira de cinzas.

Mas o que muita gente não sabe é que muito além da chuva, suor e cerveja, blocos de carnaval problematizam e fazem escárnio de mazelas sociais, injustiças e figuram como resistência.

Em Pernambuco,  um dos estados onde brincar carnaval é coisa séria, o frevo reina, o galo da madrugada reúne multidões, assim como o homem da meia noite, os bonecos gigantes nas ladeiras paralisam e  a tradição do carnaval é aprendida desde criancinha.

Um bloco genuinamente pernambucano  é o “Grêmio Lítero Recreativo Cultural Misto Carnavalesco Eu Acho é Pouco”. Fundado em 1976, em plena ditadura militar, o bloco foi a forma mais autêntica que amigos e amigas encontraram para declarar seu descontentamento e desprezo ao regime.

O trecho da tradicional marchinha “Doutor eu não me engano” ganhou versão adaptada em um bloco de carnaval de São Paulo.

Ao som de “Doutor eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano”, o Bloco 77 traz, segundo a própria organização, a MPB, Música Punk Brasileira, cantando As Mercenárias, Ratos de Porão, Cólera e tantos outros em ritmos de marchinha, pelas ruas do bairro de Pinheiros, região oeste de São Paulo.

Entre tantas iniciativas, uma das que mais chamou atenção em 2018 e promete seguir o mesmo roteiro neste ano é o Bloco das Montadas, no Distrito Federal.

A festa, que é protagonizada por drags queens e tem como foliões centrais dessa alegria a comunidade LGBTI+, arrastou mais de 15 mil foliões para as ruas no ano passado.

Honerix Sobrinho afirma que “ o bloco surgiu a partir de um processo autor-organizado do Distrito Drag, que é um coletivo de artistas dragqueen aqui de Brasília”, diz.

A meta para 2019 é levar mais gente para a rua “É a segunda edição do bloco, que no ano passado levou mais de quinze mil pessoas para as ruas. Nossa expectativa, para esse ano, é de 25 a 30 mil pessoas”, completa Honerix.

O Bloco das Montadas já tem data e local de partida: será no Setor Bancário Norte, domingo, 03/03, a partir das 15h.

Saindo da capital federal, chegamos a Fortaleza (CE), para contar a história do bloco "Doido é Tu", cujo tema deste ano é “Manicômio Nunca Mais”.

Daniella Bargas, atriz e educadora social, ressalta a importância do debate sobre saúde mental em um momento de retrocessos do governo federal no debate sobre o tema.

“Temos nos formado politicamente a partir desse tema, e comunicado para a sociedade que não queremos os retrocessos do nossos direitos, tampouco o retorno de uma política biomédica. Nós, como sociedade, reconhecemos uma metodologia de saúde mental baseada na convivência e na relação criativa”, explica.

Descendo o Brasil, do nordeste para o sul, chegamos ao Paraná. Na capital Curitiba, uma reunião de amigos fez com que uma cidade prioritariamente branca tivesse, desde o Carnaval do ano passado, um mar de pretos e pretas dançando, sorrindo e, claro, reivindicando.

O bloco "Pretinhosidade" reúne influências das músicas baianas para quebrar estereótipos e mostrar a cultura negra à população local.

Ângela Maria da Silva, que é coordenadora do movimento, comenta que o Pretinhosidade é uma forma enfrentar o conceito de “cidade europeia” criado para falar de Curitiba.

Para ela, é preciso mostrar que pretos e pretas também ocupam esse espaço e tem direito sobre ele.

“Curitiba é chamada de “capital europeia” do Brasil. Existe o mito de aqui não existem negros, como se apenas italianos e holandeses tivessem construído a cidade", questiona.

"É um enfrentamento ser negro aqui. Andamos na rua e perguntam se somos da Bahia, do Rio de Janeiro. Nunca acham que sou de Curitiba”, salienta Ângela.

Reivindique, sambe, sorria e curta o Carnaval com respeito e alegria!

Edição: Guilherme Henrique