EDITORIAL E CHARGE

Nós avisamos

Frase sobre a atuação do governo Bolsonaro é uma das mais ouvidas no início do terceiro mês de 2019

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Charge
Charge - Santiago

"Eu avisei”. É uma das frases mais ouvidas  no início do terceiro mês de 2019.  As pessoas repetem “Eu avisei” ao verem confirmadas suas piores expectativas. É menos uma represália e mais um lamento já que todos sofrerão as consequências da eleição de Jair Bolsonaro. Aliás, já estão sofrendo. Que o digam, por exemplo, a avicultura e os abatedouros de aves do Sul do Brasil, sob risco de perderem o rico mercado árabe por conta de um capricho presidencial. A região, aliás, propiciou uma das maiores vitórias ao candidato da ultradireita. Logo, soa natural a insistência: “Eu avisei”.

Dizem a mesma coisa ao verem o ministério circense, montado sob a orientação de um ex-astrólogo que duvida que a Terra gire em torno do Sol. Ou ao contemplarem o festival de cabeçadas, as tolices, a proliferação de recuos e desmentidos. Repetem a frase diante da iminência do agronegócio brasileiro – outro esteio eleitoral de Bolsonaro – ver murchar suas vendas para a China.  Muita gente ouviu “Eu avisei” mesmo antes do fiasco presidencial em Davos.

Porém, mesmo quem diz “Eu avisei” espanta-se com as ramificações do escândalo dos depósitos inexplicáveis que promete engolfar o clã, expondo ainda sua intimidade com milícias e milicianos, desembocando em suspeitas de crimes muito mais tenebrosos. Choca-se com o elogio presidencial ao corrupto e pedófilo Alfredo Stroessner, antigo ditador do Paraguai. E pasma com um presidente que posta vídeos pornôs no twitter como se fosse um adolescente disfuncional. Quebra de decoro que já o ameaça de impeachment. 

Nós, aqui, sem a menor pretensão de sermos donos da verdade, vínhamos avisando. Pressentíamos os riscos da aventura. E avisamos porque era nosso dever perante os fatos. Continuaremos questionando e denunciando os ataques contra o que restou dos direitos dos trabalhadores, a violência contra os mais fracos, as agressões ao  meio ambiente, as ameaças à democracia, a entrega da soberania nacional. Tem sido a nossa tarefa. E seguirá sendo. 


Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 11) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.

Edição: Marcelo Ferreira