Rio de Janeiro

MEMÓRIA

Um ano sem Marielle no RJ é marcado por protagonismo das mulheres negras na luta

Manifestantes cobraram das autoridades quem mandou matar e por qual motivação executaram a vereadora há um ano

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Dia de homenagens a Marielle Franco e Anderson Gomes encerrou com ato político e cultural na Cinelândia
Dia de homenagens a Marielle Franco e Anderson Gomes encerrou com ato político e cultural na Cinelândia - Pablo Vergara

A cidade do Rio de Janeiro amanheceu neste 14 de março com diversas homenagens em memória e pela justiça e o legado de Marielle Franco (PSOL). O assassinato da vereadora eleita com mais de 45 mil votos e de seu motorista Anderson Gomes completou um ano nesta quinta-feira.

No bairro do Estácio, o Amanhecer por Marielle dispôs flores brancas, velas e um girassol, símbolo do mandato da parlamentar, na calçada da rua onde aconteceu o crime. Na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), 365 girassóis coloriram de amarelo as escadarias do Palácio Tiradentes em uma manifestação silenciosa na Praça Quinze. Em outro ponto, na igreja da Candelária, uma celebração ecumênica foi organizada por familiares.

A flor preferida de Marielle, o girassol, também apareceu nesta manhã (14) nas escadarias da Câmara Municipal, onde ela trabalhava e lutava pela causa dos direitos humanos, da juventude negra, favelada, mulheres, e LGBT’s. Participantes seguravam cartazes com frases que Marielle costumava usar nos discursos como “eu sou porque nós somos” e “não seremos interrompidas”.

No final da tarde, um grande ato político e cultural encerrou o dia marcado por homenagens à vereadora executada. Milhares de pessoas se reuniram na Cinelândia, em frente à casa legislativa, para enaltecer o legado das pautas que ela defendia e cobrar das autoridades um veredito completo sobre a investigação.

“O legado da Marielle é esse empoderamento das jovens negras. Vejo o renascimento da luta pela verdadeira democracia e pela organização das mulheres. A gente não pode aceitar portas fechadas, tem que meter o pé na porta, arrombar e ir em frente”, afirma a servidora pública, Andrea Fonseca, presente na manifestação. Para ela, a execução de uma representante do povo só pode ter relação com um mandante.

Apesar das prisões do PM reformado Ronnie Lessa e do ex-PM Élcio Vieira de Queiroz esta semana, acusados de serem o autor dos 13 disparos e o condutor do carro que perseguiu a parlamentar, os manifestantes se perguntavam a todo momento a mando de quem e por qual motivação eles cometeram o crime.

A historiadora Maria Santiago, do Movimento Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, que contribuiu na organização do 8 de março no Rio de Janeiro, comenta que Marielle ampliou a voz de outras mulheres ao se eleger vereadora sendo negra e favelada. Por isso, sua morte abalou a democracia e precisa de uma resolução.

“Quando vi a notícia da morte pela televisão fiquei completamente em choque. Agora, a pergunta é aquela, achou quem matou mas quem mandou?”, questiona. “Graças a Marielle muitas mulheres saíram das sombras, se reergueram e hoje lutam com a gente”, completa.

No palco montado na praça da Cinelândia, diversos grupos culturais fizeram apresentações de teatro, dança e poesia com temáticas ligadas à violência policial nas periferias e a identidade das mulheres negras. Mais cedo, uma grande aula pública reuniu centenas de pessoas. Após o assassinato da vereadora, o estado do Rio institui no calendário oficial o 14 de março como Dia Marielle Franco, de luta contra o genocídio da mulher negra.

Edição: Nina Fideles