Pernambuco

Jornalismo

“A comunicação sempre tem um projeto político”, afirma o radialista Omar Torres

Com mais de 30 anos no rádio, o comunicador relembra a importância do rádio como ferramenta de transformação

Brasil de Fato | Petrolina (PE) |
Omar nos últimos anos de trabalho no Rádio em Petrolina
Omar nos últimos anos de trabalho no Rádio em Petrolina - Arquivo pessoal

Nascido na cidade de Curaçá, no norte da Bahia, Omar Torres, conhecido como Babá, tem sua história diretamente ligada a luta popular e a comunicação no Vale do São Francisco. Por inicialmente trabalhar na área de administração de empresas, era frequente a mudança de cidade, até que na década de 1980, uma demanda profissional e pessoal de resgatar a história da sua cidade, que fica a 85km de Petrolina, fizeram com que Omar se fixasse no Vale do São Francisco. “Eu me preocupava muito com Curaçá. Eu tinha um livro de 1920 onde tinha a história de uma cidade muito maior e importante do que aquela Curaçá que eu tinha vivido e eu me questionava porque houve essa curva descendente tão rápida. A cidade perdeu muito território, suas riquezas, muita coisa.”
Foi a partir dessa inquietação que veio a ideia de trabalhar com comunicação “Eu percebi que esse resgate da história da minha cidade e a necessidade de unificar os vários povoados da região seria possível com a comunicação. Curaçá e as comunidades da região eram como um arquipélago, que eram povoados isolados como organismos com vida própria, que não se interligavam. Foi daí que fundamos o Jornal Asa Branca. A gente começou a fazer comunicação e a comunidade a se reconhecer como um todo. Depois de três anos, percebemos que o jornal sozinho não dava conta do nosso projeto, porque mais de 60% da população era analfabeta. Foi daí que surgiu o programa de rádio, eu fui ler e comentar as notícias do jornal no rádio, no programa que chamamos de Nossa Presença”, relembra.

Inicialmente na frequência AM, o programa feito no Vale do São Francisco não chegava apenas a Curaçá, sua cidade natal, mas também em diversas cidades de Pernambuco, Bahia, Piauí e Sergipe. Ainda na década de 1980, no final da ditadura militar, Babá esteve na criação do Movimento contra a Carestia, uma articulação nacional para contestar as várias políticas econômicas da ditadura militar que acentuavam a concentração de renda no país. “Essas barquinhas que atravessam o povo pelo rio, por exemplo, são fruto de uma luta da sociedade, uma mobilização grande. Nós mobilizamos o movimento porque a Joalina, empresa de ônibus, tinha passagens caríssimas. Então, contra a carestia da empresa de ônibus nós propusemos as barcas. A família Diniz Cavalcante, dona da Joalina entrou na justiça contra a gente. Nós fomos para a rua, fizemos ocupação e tivemos o direito das barquinhas a preços baixos, que estão aí até hoje”, relembra.
Mesmo estando cinco anos longe das rádios, até hoje ele tem o trabalho lembrado “As pessoas ainda me reconhecem. Certa vez fui a Pinhões, um cidade próxima daqui, para um bate papo com pais e alunos de uma escola e os pais me conheciam ainda da época do rádio. Uma vez encontrei uma jornalista que decidiu a profissão porque quando criança os pais incentivavam ela a ouvir o programa, ligar para a rádio, ler poesias e dar recados da comunidade. Anos depois nos encontramos e ela me disse que foi fazer jornalismo por causa de mim. Ainda fico impressionado”.
Para Omar, a comunicação tem uma ligação estreita com a política, e principalmente com a missão de alertar, conscientizar e propor uma reflexão cotidiana sobre a realidade “O rádio tem uma importância grande nas convicções das pessoas. A comunicação sempre tem um projeto político. Quando você tem posições coerentes, as pessoas se identificam. Para quem faz comunicação por ideologia, por acreditar num projeto político, as pessoas passam a acreditar nele também. Você tem importância na vida das pessoas e isso é forte”, conclui.

Edição: Monyse Ravena