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PAPO ESPORTIVO | Os 95 anos da "resposta histórica" do Vasco

Ao defender negros e pobres, Vasco protagonizou um dos maiores exemplos de combate ao racismo há 95 anos atrás

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Time do Vasco em 1923
Time do Vasco em 1923 - Reprodução / Facebook / Vasco da Gama
Ao defender negros e pobres, Vasco protagonizou um dos maiores exemplos de combate ao racismo há 95 anos atrás

Todo mundo sabe que o Club de Regatas Vasco da Gama é um dos gigantes do futebol brasileiro. Mesmo tendo passado por dificuldades nos últimos anos (incluindo três rebaixamentos para a Série B), o Trem Bala da Colina já conquistou quase tudo que disputou ao longo desses mais de 120 anos de vida. Poderíamos ficar uma semana falando dos grandes títulos do Vasco. Mas nenhum título é tão simbólico e tão importante como a chamada “Resposta Histórica”.

Essa história começa no início dos anos 1920, num tempo em que o velho e rude esporte bretão era dominado pelas elites e pelos “rapazes bem nascidos”. Sem a mesma tradição dos times da Zona Sul no então nascente Campeonato Carioca, o Vasco adotou a estratégia de montar elencos com jogadores das classes sociais menos favorecidas. Foi assim que o Vasco foi campeão da Segunda Divisão em 1922 e assegurou o direito de disputar a primeira divisão no ano seguinte.

Mantendo a base da temporada anterior, o Vasco conquistou 11 vitórias em 14 partidas e levou o título do campeonato organizado pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (a LMDT). Os outros clubes, no entanto, incomodados pela ascensão do clube da Colina Histórica, decidiram criar uma nova liga, a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (a AMEA). Esses mesmos clubes exigiram a exclusão de 12 jogadores do plantel vascaíno que, segundo eles, não apresentavam “condições sociais apropriadas para o convívio esportivo”. Pois é…

Vocês tão pensando que o Vasco abaixou a cabeça? Nada! No dia 7 de abril de 1924, a diretoria cruzmaltina desistiu de integrar a recém-criada AMEA e endereçou carta à liga esclarecendo que rechaçava a ordem de abrir mão de jogadores negros e pobres. Um dos trechos da carta assinada pelo então presidente José Augusto Prestes diz o seguinte: "O ato público que pode maculá-los nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias". O Vasco via sua popularidade aumentar junto às camadas mais pobres, lotava estádios e voltou a se sagrar campeão do torneio regido pela LMDT em 1924.

Não por acaso, a AMEA resolveu admitir o Vasco em 1925 depois de tanto sucesso junto ao povo. O clube da Colina Histórica não foi o primeiro a contar com negros no seu elenco, mas foi o responsável por quebrar barreiras no futebol brasileiro. Teve o primeiro presidente negro (Cândido José de Araújo, que ficou no cargo entre os anos de 1904 e 1906) e abriu as portas do velho e rude esporte bretão para os menos favorecidos sem se preocupar com classe social ou a etnia dos seus atletas.

Num tempo em temos que defender o óbvio, o exemplo do Vasco deve ser exaltado e disseminado. Ainda mais quando o racismo descarado vem disfarçado de “incidente”.

CURTINHAS

O que importa é a classificação na Copa do Brasil. Mas o Vasco fez mais uma partida horrorosa. Chegou a doer nos olhos.

O Fluminense fez o suficiente. Fez dois gols no segundo tempo e não deu chances ao Luverdense. Mas o time pode jogar mais que isso.

O Flamengo precisa vencer o San José. Sem meio termo e sem desculpas. É isso ou praticamente jogar a Libertadores no lixo.

O mesmo deve que ser dito do Botafogo. Uma eliminação na Copa do Brasil diante do Juventude pode ser terrível.

Edição: Brasil de Fato (RJ)