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Cada um sabe onde dói o seu calo

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Dona Cândida, tinha um dente doendo, mas sem coragem para ir ao dentista.
Dona Cândida, tinha um dente doendo, mas sem coragem para ir ao dentista. - Pixabay
Toda dor incomoda, faz sofrer. Não há como preferir uma ou outra

 “É uma dor de dente!”

Essa é uma expressão usada para falar de alguma coisa ou alguém que não lhe dá sossego, incomoda demais. Acho até que já falei sobre isso aqui, mas devido a uma coisa que aconteceu comigo há poucos dias, falo de novo.

Dor de dente é realmente uma desgraça. Mas não só de dente. De vez em quando ouço pessoas falando da pior dor que existe. Tem quem diga que é a do parto, a de pedra nos rins, a de apendicite aguda, a do nervo ciático inflamado... Pode ser qualquer uma: a pior é a que a gente está sentindo. Toda dor incomoda, faz sofrer. Não há como preferir uma ou outra.

O que tive nesses dias foi uma baita dor de dente. Um horror! E o tratamento, além de muito caro, é dolorido também. Anestesia ajuda bastante, mas conforme o tratamento a boca fica meio estropiada depois que ela passa. Mas, ruim com anestesia, pior sem ela, não é?

Falei com o dentista sobre o tempo em que não existia anestesia, e extrair um dente era uma tortura. Não que eu tenha conhecido esse tempo, mas quando criança conheci uns velhos que me contaram.

Uma mulher, dona Cândida, tinha um dente doendo, mas sem coragem para ir ao dentista. Aguentava a dor tomando chazinhos que não resolviam muito, mas não queria encarar um motor dos antigos ou um boticão. Tinha medo. Até que soube da chegada de um dentista muito bom a uma cidade vizinha. Diziam que tinha até anestesia, uma novidade na época.

Criou coragem e foi lá, para extrair o dente maldito, esperando tomar a anestesia e não sentir mais dor. Voltou sem o dente dolorido. Perguntaram se o dentista tinha usado a tal de anestesia e ela contou como o dente foi extraído.

Segundo disse, o dentista perguntou:

— Quer arrancar com dor ou sem dor?

Quis saber o preço e o dentista falou:

— Sem dor é cinco mil-réis. Com dor é dez mil-réis.

Ela achou que ele estava enganado. Com dor custava mais caro do que sem dor?

— Estranhei — ela contou. — E perguntei: não é o contrário?

Mas o dentista confirmou: com dor era o dobro do preço. E ela quis sem dor, é claro. 

— Então ele deu anestesia? — perguntou um amigo.

E ela contou, garantindo que era verdade:

— Nada! Deu anestesia coisa nenhuma! Foi logo metendo o boticão. Comecei a gritar e ele ainda me deu bronca: “Num grita que com dor é dez”.
 

Edição: Michele Carvalho