Coluna

Uma viagem ao Paraguai

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Me espantei com a honestidade do povo paraguaio
Me espantei com a honestidade do povo paraguaio - Pixabay
Podia-se andar em Assunção até de madrugada sem medo de assaltos

Na década de 1980, minha namorada e eu resolvemos passar uns dias de férias no Paraguai e aproveitar para conhecer algumas ruínas das missões jesuíticas. Saí daqui brincando, dizendo que ia conhecer o Brasil do futuro. Voltei dizendo que, sob certos aspectos, para o Brasil ser um Paraguai no futuro, precisaria melhorar bastante.

O Paraguai era péssimo exemplo em certas coisas na época da ditadura de Stroessner. Essas coisas continuam como naqueles tempos: bebidas falsificadas, contrabando, histórias de alta corrupção e bandidagem. Mas me espantei com a honestidade do povo paraguaio.

Toda a bandidagem parecia ser coisa do governo, dos militares e da polícia. Podia-se andar em Assunção até de madrugada sem medo de assaltos.

Um dia, andando por um bairro de classe média de Assunção, reparei que todas as casas tinham quintais grandes, com mangueiras. Não havia muros para a rua, só muretas de menos de um metro de altura. Em cima de algumas muretas, vi muitas mangas enfileiradas. Era um hábito de lá colher as mangas que caíam de maduras durante a madrugada, a família ficar só com as que consumiria no dia e colocar as restantes para quem quisesse. E vi famílias com feições indígenas passar por ali e pegar apenas uma manga por pessoa. “É civilização demais!”, pensei.

Uma vez, ao comprar um jornal, distraído, dei dinheiro a mais e o menino correu atrás de mim para me devolver. Comecei a dar dinheiro a mais, de propósito, em várias situações, e sempre me devolveram. Agora vem até cigarro falsificado de lá. Mas acredito na honestidade do povo: quem produz é gente do governo.

E tenho boas lembranças daquela viagem.

No dia em que chegamos a Assunção, fomos tomar uma caña e uma cerveja num bar ao ar livre, com vista para o rio Paraguai lá embaixo. Bonito. Para acompanhar a bebida, precisávamos de um tira-gosto. Na parede, havia propaganda dos "panchos", e queríamos saber o que era isso. Chamei o garçom, um rapazinho ainda e perguntei:

— Que es pancho?

Ele pensou, pensou, e respondeu:

— Es como um panchito, pero muuuuy grande.

— Y como es um panchito?

Ele coçou a cabeça e disse saindo rápido:

— Bueno... Es muuuuy difícil explicar!

Ficamos curiosos, esperando que alguém pedisse pancho para ver o que era. Finalmente um casal ao lado pediu dois panchos. Vieram dois cachorros-quentes, ou hot-dogs, pra quem prefere a língua dos gringos. Só que grandes, muuuuy grandes. Brinquei com o garçom:

— Muuuuy difícil explicar!

Edição: Michele Carvalho