Rio de Janeiro

ALIMENTAÇÃO

Aumentos dos combustíveis impactam no prato do brasileiro

Elevação no preço dos alimentos e bebidas dos cinco primeiros meses de 2019 chega a 3,15% , segundo IPCA

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Um dos fatores que puxaram o preço dos alimentos nos últimos anos foi a mudança na política de preços dos derivados de petróleo na Petrobras
Um dos fatores que puxaram o preço dos alimentos nos últimos anos foi a mudança na política de preços dos derivados de petróleo na Petrobras - AFP

“Olha, tudo aumentou nos últimos anos, na feira e no mercado. Toda a despesa subiu, mesmo eu tendo tirado ou diminuído algumas coisas das compras”, afirma Magnólia Maria Santos Lima, 56 anos, moradora de Osasco (SP), município da grande São Paulo. 

Magnólia é cozinheira na Barra Funda, em São Paulo (SP), e responsável pela compra dos alimentos que se tornam o almoço diário de aproximadamente 15 pessoas. “Há dois ou três anos, a gente pagava R$ 1,90 no quilo do tomate, agora você não encontra por menos de R$ 8,00. A batata eu pagava 59 centavos, no máximo R$ 1. Hoje eu paguei R$ 9,75 por um quilo e meio”, relata. 

E a percepção dos aumentos no bolso da população, que gasta cerca de 25% da sua renda em alimentação, também podem ser verificados no balanço do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2018, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, houve um aumento de 4,04% no preço dos alimentos, com alguns produtos encabeçando a lista: tomate (71,76%), frutas (14,1%) e leite (8,43%).  

Neste ano de 2019, nos cinco primeiros meses, o aumento acumulado no preço dos alimentos e bebidas dos cinco primeiros meses chega a 3,15%, de acordo com dados do IPCA. 

Reajuste 

Um dos fatores que puxaram o preço dos alimentos nos últimos anos foi a mudança na política de preços dos derivados de petróleo nas refinarias da Petrobras. A partir de 2016, com a mudança na direção da estatal, os preços dos derivados passaram a ser reajustados de acordo com a cotação internacional do barril do petróleo e da variação do dólar. 

Como o valor do barril de petróleo disparou desde junho de 2017, os combustíveis passaram a sofrer reajustes diários nas refinarias e, consequentemente, nas bombas dos postos de gasolina. Nos últimos dois anos, o preço da gasolina subiu 35% nas refinarias e 28% nos postos. Já o diesel apresentou alta de 38% nas refinarias e 22% nos postos. 

Anteriormente, entre 2011 e 2015, a Petrobras manteve uma política de controle dos preços, subsidiando as variações internacionais e repassando os aumentos de forma defasada ao consumidor.  

De acordo com o integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Humberto Palmeira, essa é uma escolha política equivocada. “Uma empresa pública e estatal, com os preços regulados pelo governo e não pelo mercado internacional, significa a gente ter um custo de produção de alimentos mais barato, tanto na produção como na distribuição. Com o golpe [de 2016], o que se verificou foi exatamente o oposto”, opina.  

Orgânicos 

Os combustíveis estão presentes em toda a cadeia produtiva dos alimentos, desde a sua utilização nos maquinários responsáveis semeadura, manejo e colheita, até o transporte rodoviário entre a roça e os consumidores. 

Mesmo assim, de acordo com o representante comercial de produtores rurais, Daniel Oliveira Machado, o preço dos alimentos orgânicos não sofreram reajustes nos últimos anos. “Apesar dos preços para o consumidor estar igual há cinco ou seis anos, todos os custos para quem está envolvido na cadeia produtiva dos orgânicos aumentaram”, relata. 

Dono da empresa Atrix, com sede em Curitiba (PR), Machado revela que muitos dos agricultores que representa estão com dificuldades financeiras. “Eu conheço diversos produtores de orgânicos que estão pensando em mudar para outra cultura, na linha de monocultura tradicional, para conseguir manter o negócio de pé. Em Tijucas do Sul [no Paraná], diversos produtores de hortaliças não estão conseguindo se sustentar”, exemplifica. 

A mesma situação é relatada pelo dono da distribuidora de orgânicos Nativa, com sede em Limeira (SP), Francisco Gagliardi. “Não foi possível repassar ao preço final na mesma proporção dos aumentos no combustível, porque o orgânico já é mais caro. Eu conheço muitos produtores que tiveram que aumentar o preço dos produtos ou diminuir o tamanho da roça porque não estavam dando conta”, revela. 

Privatização

Para a produção de alimentos convencionais, outro derivado do petróleo que interfere no custo de produção é o fertilizante, que também subiu de preço nos últimos anos. Um dos motivos é a baixa participação da Petrobras no setor. Atualmente, apesar de ser o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, o Brasil importa cerca de 75% dos insumos nitrogenados. Além disso, o governo anunciou que pretende privatizar as fábricas sob domínio da Petrobras.

Após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar a venda de subsidiárias de estatais sem a prévia autorização do Congresso, a Petrobras anunciou no último dia 14 que retomará o processo de venda da sua participação nas fábricas de fertilizantes Araucária Nitrogenados (Ansa) e Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN III).

Edição: Mariana Pitasse