Rio Grande do Sul

RESISTÊNCIA

“Não sairemos das ruas”, prometem os estudantes

A juventude, que tomou as ruas em maio, não vai abandoná-las, prometem as lideranças estudantis

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
O bom humor é uma das características das mobilizações dos jovens pelo país
O bom humor é uma das características das mobilizações dos jovens pelo país - Fotos: Carol Ferraz | Sul21

Não sairemos das ruas, não pararemos de passar em salas de aula, nas paradas dos ônibus para dialogar com todo mundo, avisa Marina Lehman, diretora de cultura da União Nacional de Estudantes (UNE). “Em julho, a UNE vai realizar seu 57º Congresso Nacional, em Brasília, numa movimentação clara de enfrentamento”, agrega Vitor Martinez, do Levante Popular da Juventude. “As mobilizações não iniciaram no dia 15 e nem terminaram no dia 30”, reforça Vitória Cabreira, presidente da União Metropolitana de Estudantes Secundaristas de Porto Alegre, a UMESPA.  

“Iremos pra rua até o governo recuar sobre os cortes e garantir mais investimento na educação”, diz Vitória. Acrescenta que 11 de agosto é Dia do Estudante, data em que historicamente os alunos se manifestam. “Vão ocorrer grandes mobilizações, como foram em 2018, quando a UMESPA colocou 15 mil estudantes nas ruas de Porto Alegre em defesa do meio-passe estudantil”, recorda. 

“Chamam de 'balbúrdia' o que é pensamento crítico”

Para Tirza Ferreira, coordenadora do DCE da UFRGS, as mobilizações “cada vez serão maiores! A luta está só começando! A indignação dos estudantes e dos trabalhadores vêm aumentando e podemos perceber como isso tem se transformado em luta unitária e coletiva”, analisa. Jessica da Silva, do Levante, diz que os atos servirão “para lembrar o governo Bolsonaro que o país é do povo, é nosso, e que estaremos nas ruas para barrar todos os ataques aos direitos conquistados a duras penas pelos trabalhadores”. Felipe Eich, da União Estadual de Estudantes (UEE–Livre) concorda: “Queremos aglutinar nada vez mais gente em defesa da educação”. Gerusa Domingues Pena, da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), adverte: “Qualquer passo que esse governo der (contra a universidade pública) a gente vai estar preparada”. 

Além dos cortes de recursos e das ameaças, os ataques do ministro Abraham Weintraub, da Educação, e do presidente jogaram gasolina no fogo nas manifestações. Weintraub disse que as universidades eram “uma balbúrdia” e Bolsonaro chamou os estudantes de idiotas. “A universidade (pública) produz mais de 95% das pesquisas científicas brasileiras!”, reage Tirza. “Flui conhecimento crítico e cultura”. Marina pondera que chamam de “balbúrdia” aquilo que é “ação e pensamento crítico”. 

“Vociferações que expressam medo”

Para Jessica, Bolsonaro persegue a universidade visando “entregar os recursos, a força de trabalho e o conhecimento produzido no país aos interesses do capital”.  Vitor enxerga as declarações como “vociferações que expressam apenas medo”.  Felipe observa que, para contestar o menosprezo do governo, criou-se no Facebook  a página “O que faz a federal”. Ali, alunos e professores mostram as pesquisas que desenvolvem em diversas frentes da ciência. “Eles chamam de balbúrdia – interpreta Tirza -- porque têm medo do potencial revolucionário que nós carregamos dentro das universidades”.

Com a palavra, as lideranças estudantis gaúchas engajadas na defesa da universidade pública e gratuita:

Sete momentos em que a juventude fez história

Não se conta a história recente do Brasil sem a participação dos estudantes. O fervor de suas manifestações perpassa os últimos 80 anos. Algumas evidências:

1 | Combate ao nazi-fascismo – Em 1942, estudantes ocuparam o clube Germânia, no Rio, considerado reduto de simpatizantes de Hitler e Mussolini. O prédio seria transformado na primeira sede da UNE. 

2 | O Petróleo é Nosso – Nos anos 1950, a UNE engajou-se na defesa do petróleo brasileiro e na luta para a criação da Petrobras.

3 | Campanha da Legalidade – Com a renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, os estudantes defenderam a posse do vice João Goulart, juntando-se à resistência ao golpe militar em articulação.

4 | Golpe de 1964 – A primeira medida dos golpistas foi metralhar a sede da UNE que, tornada ilegal, passaria à clandestinidade.

5 | Ditadura – Com os sindicatos sob intervenção e os partidos extintos, os estudantes eram maioria nas mobilizações contra a ditadura até 1968. Com o AI-5 e o fechamento completo do regime, foi do estudantado que vieram os quadros da luta armada.

6 | Fora Collor – Secundaristas e universitários fizeram as primeiras passeatas pela saída do então presidente.

7 | Em defesa da Educação – Milhares de estudantes saíram às ruas de centenas de cidades nos dias 15 e 30 de maio de 2019 em protesto contra o governo Bolsonaro. 

Edição: Marcelo Ferreira