ÁFRICA

Ataque aéreo contra centro de detenção de migrantes deixa 44 mortos na Líbia

Ao menos 130 pessoas ficaram feridas; vítimas usam o país para alcançar o Mediterrâneo e buscar refúgio na Europa

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O ataque “claramente chega a um nível de crime de guerra”, afirmou o enviado das Nações Unidas na Líbia, Ghassan Salame
O ataque “claramente chega a um nível de crime de guerra”, afirmou o enviado das Nações Unidas na Líbia, Ghassan Salame - Foto: Mahmud Turkia/AFP

Ao menos 44 pessoas morreram e 130 ficaram feridas em um ataque aéreo contra um centro de detenção de migrantes nos arredores de Trípoli, capital da Líbia, norte da África, na madrugada desta quarta-feira (3). 

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A ofensiva é considerada a maior em número de mortes desde que as forças do general Khalifa Haftar iniciaram há três meses uma série de ataques contra tropas terrestres e aeronaves do país. O objetivo das investidas é tomar a capital, reconhecida pela comunidade internacional como sede do governo líbio. 

O ataque “claramente chega a um nível de crime de guerra”, afirmou o enviado das Nações Unidas na Líbia, Ghassan Salame. Segundo ele, “o absurdo dessa guerra atingiu hoje seu resultado mais odioso e mais trágico com esse massacre sangrento e injusto”. 

O alvo foi o centro de detenção de Tajoura, que fica dentro de um quartel militar. Cerca de 600 pessoas viviam nas instalações. Os migrantes, a maior parte de países da África subsaariana, foram pegos enquanto tentavam alcançar o litoral europeu atravessando o Mediterrâneo. A lei líbia considera crime a tentativa de entrar ou sair irregularmente de seu território. 

Atualmente, existem 25 centros como esse no país, onde estão detidos 5.695 refugiados e imigrantes. Segundo informações do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, 2.433 estão em Trípoli. 

O episódio levanta novos questionamentos à política da União Europeia (UE) de firmar parcerias com milícias líbias para impedir que migrantes atravessem o Mediterrâneo. A ação os coloca, muitas vezes, nas mãos de traficantes de pessoas ou faz com que sejam detidos. As condições dos centros de prisão, segundo grupos de direitos humanos e a ONU, são desumanas. 

Autoria

Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque, mas o governo sediado em Trípoli atribui a culpa a Haftar e ao seu autoproclamado Exército Nacional da Líbia. O militar participou, em 2011, do movimento que ajudou a depor o então presidente Muamar Kadafi. 

De lá para cá, Haftar passou a liderar uma milícia que controla o Leste da Líbia e não reconhece as autoridades apoiadas pela ONU, o Governo de Unidade Nacional. O militar chegou a afirmar, na última sexta-feira (29), que passaria a atingir, além do governo apoiado pela ONU, aviões, embarcações e cidadãos da Turquia na Líbia. 

Em nota, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que atua no país, afirmou que “as notícias de hoje são devastadoras. Os migrantes já estão vulneráveis a doenças, encarceramento, exploração e violência diária. Ver tantos mortos em um ataque tão grande é de partir o coração”. 

A instituição afirmou que a “prioridade imediata desde o incidente tem sido a de apoiar as instalações médicas que tratam dos feridos”. Informou ainda que está entregando kits cirúrgicos, luvas cirúrgicas, kits de infusão, curativos e bolsas para corpos no Hospital de Campo de Tajoura.

Edição: João Paulo Soares