Rio de Janeiro

DESMONTE

Para professor da USP, extinção da rádio MEC AM é "crime contra história brasileira"

Emissora pioneira no Brasil será desligada como medida do governo Bolsonaro

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
A rádio MEC AM está no ar desde que foi fundada em 1923 pelo antropólogo Roquette-Pinto
A rádio MEC AM está no ar desde que foi fundada em 1923 pelo antropólogo Roquette-Pinto - Rádio MEC Rio/Facebook

“Mais um crime que se comete não só com os ouvintes da rádio mas também contra a história brasileira”, assim define o professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) Laurindo Leal Filho sobre o encerramento da rádio MEC AM pelo governo Jair Bolsonaro (PSC). O sinal será desligado no dia 31, segundo informou a coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, na última sexta-feira (5). 

“Quando uso a palavra crime não é nenhum exagero. Estamos vendo um processo de desmanche que vem ocorrendo há algum tempo e afeta todo sistema de comunicação pública no Brasil que estava se tornando robusto. Não pode haver uma sociedade que tenha rádio e televisão financiadas apenas pela propaganda. Tudo bem que exista essa forma, mas é fundamental o financiamento público porque não existe a contaminação dos interesses comerciais”, disse Leal em entrevista ao Programa Brasil de Fato RJ. 

Pioneira no Brasil, a emissora está no ar desde que foi fundada em 1923 pelo antropólogo Edgard Roquette-Pinto com o nome de Rádio Sociedade no Rio de Janeiro e foi doada em 1936 ao governo federal. “A origem da rádio vem dos meios acadêmicos e científicos,  havia um compromisso da sua natureza mais elementar com a transmissão da cultura. Basta ver os nomes de artistas, escritores, que passaram pela rádio MEC falando para o Brasil”, completa o professor da USP. A sigla MEC quer dizer “Música, Educação e Cultura”.

Desmonte

Para Leal, a medida é mais uma demonstração que o governo criminaliza o conhecimento, a cultura e a história do Brasil. O acervo da emissora conta com cerca de 50 mil registros e produções. E ainda um patrimônio de gravações de depoimentos que vão de Getúlio Vargas a Monteiro Lobato, passando por crônicas de Cecília Meireles e Manuel Bandeira, segundo descrição no site. 

"Infelizmente a medida vai na linha do que está acontecendo no país, a criminalização do conhecimento.Um governo que não tem nenhuma preocupação com a questão cultural e as raízes do Brasil. A tendência é que cada vez mais essas emissoras públicas sejam totalmente destruídas ou passem a servir  a interesses político-partidários como é o caso da TV Brasil que deixou de ser uma emissora pública que abria seus microfones e câmeras para as mais variadas correntes de pensamento existentes na sociedade para se tornar um órgão de divulgação das ações do governo. O que contraria toda a ideia de uma comunicação pública”, ressaltou Leal. 

Um movimento de funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) contra a destruição da emissora de rádio mais antiga do Brasil lançou uma nota denunciando a medida. “As emissoras AM da EBC não podem acabar! O vazio informativo no interior será ainda maior, diminuindo informações e entretenimento para milhões. É papel da EBC atingir locais que as emissoras privadas não se interessam. Não à extinção da rádio mais antiga do Brasil! #ficaMecAM”, diz o texto.

Edição: Jaqueline Deister | Redação: Clívia Mesquita | Entrevista: Denise Viola