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Assentado do MST promove cursos para uma alimentação mais saudável

Valdir Martins ocupa seus dias ensinando técnicas de agroecologia

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Alunos do curso de bioconstrução
Alunos do curso de bioconstrução - Valdir Martins
Valdir Martins ocupa seus dias ensinando técnicas de agroecologia

Em São José dos Campos, um pequeno sítio, localizado no assentamento Nova Esperança I, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, se destaca por seu trabalho agroecológico, que vai muito além do cultivo de alimentos para a comercialização.

Há cerca de 3 anos, o espaço abre as suas portas para quem quer aprender um pouco mais sobre os conceitos e práticas da agroecologia. O assentado e dono do sítio, Valdir Martins, explica como surgiu a ideia de dar cursos voltados para essa temática.

"Eu tinha a ideia de ter um sítio mais para meu consumo próprio, não pensava em fazer algo que também atendesse a sociedade. Então, comecei a fazer. Depois, como teve uma procura muito grande para conhecer o trabalho que eu faço, surgiram várias propostas para a gente abrir o sítio para fazer um trabalho na região, na ideia dos cursos, nas vivências, nas visitas de campo guiadas, para a gente criar um grupo na região que fosse voltado para agroecologia".

Valdir conta que o seu público alvo é bem diverso, além de pequenos agricultores da região, ele também atende universitários e pessoas que vem de outros países para aprender as práticas que ele aplica diariamente no sítio.

Desde a primeira turma, cerca de 500 pessoas já participaram das aulas de sistema agroflorestal e de bioconstrução, entre outros. Além dos cursos, as pessoas também podem participar das visitas guiadas ao sítio, que permitem uma maior aproximação e familiaridade com as técnicas para um cultivo livre de veneno.

Hoje, os cursos têm duração de 3 dias, mas a ideia é ampliar a carga horária e fazer com que mais pessoas participem das formações. Por lá, eles iniciaram a construção de uma casa de atividades, com mais espaço e estrutura para receber os alunos, como explica Valdir.

"Vai ter um espaço para atender 70 pessoas sentadas, para participar das atividades. Vamos ter uma cozinha industrial para atender a parte dos cursos e a parte do beneficiamento dos produtos. A gente vai ter dormitórios para atender os estágios. A gente tem recebido muito gente, de dentro e fora do movimento, procurando a gente para fazer estágio de um mês, dois meses, pessoas de fora do Brasil que querem vir".

Nas aulas, os alunos aprendem técnicas de cultivo e manejo que respeitam os processos e tempos da natureza, como por exemplo, a oficina de tijolos de adobe, composto basicamente por terra crua, água, palha e fibras naturais, como esterco de gado.

Como a iniciativa não conta com nenhum tipo de ajuda governamental ou do setor privado, Valdir conta que os recursos para a construção do novo prédio vem dos rendimentos com os cursos. "Apareceram várias empresas interessadas em financiar o projeto todo, que são mineradoras, são essas grandes corporações que querem fazer investimento. A gente nem está discutindo isso. Falei para as duas empresas que me procuraram que não tenho interesse, como é um sítio, um trabalho com a sociedade, a gente gostaria de não ter participação de grandes empresas".

O trabalho de incentivo à produção e ao consumo de produtos agroecológicos ultrapassa os limites e portões do sítio. Valdir também faz consultoria para outros produtores interessados em aprender as técnicas agroecológicas, promove, junto com outros agricultores, feiras para vender os alimentos sem veneno e participa de grupos de consumidores interessados em comprar o que ele cultiva. 
 

Edição: Tayguara Ribeiro