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Os "fenômenos" da política brasileira

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Em meados do século passado houve um eclipse que o principal local de observação era uma pequena cidade do Rio Grande do Sul
Em meados do século passado houve um eclipse que o principal local de observação era uma pequena cidade do Rio Grande do Sul - Pixabay
O político fazia pose de que tudo de bom que acontecia lá era coisa dele

Há algumas semanas, teve um eclipse do sol que foi muito noticiado, até festejado.

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Houve uma época em que as pessoas associavam eclipses a tragédias, achavam que era uma mensagem de Deus anunciando alguma desgraça para punir os humanos por seus pecados.

Ainda existem pessoas que pensam assim. Talvez algumas estejam nos mais altos escalões do governo atual, que vê pecado em tudo, e tem um instinto de punição, de castigo.

Bom, mas não é dessas pessoas que quero falar.

Contam que lá pelos meados do século passado houve um eclipse que o principal local de observação era uma pequena cidade do Rio Grande do Sul.

E o tal eclipse aconteceria num sábado.

Como era uma época em que às vezes o tempo ficava muito fechado, se acontecesse isso na hora do eclipse, ele não seria tão visível assim.

O prefeito da cidade estava eufórico, mas pensava que seria uma pena se o fenômeno tão raro não pudesse ser visto pela população local.

Então baixou um decreto: se o tempo estiver fechado no sábado, o eclipse será adiado para domingo.

E lembro-me de uma outra história relacionada aos eclipses.

Quem me contou foi o Betinho, que ficou muito conhecido como irmão do Henfil, na música “O bêbado e o equilibrista”, de Aldir Blanc e João Bosco.

Ele foi exilado na época da ditadura e a música homenageava pessoas exiladas como ele, e assassinadas pela repressão, como Vladimir Herzog.

A história que o Betinho me contou aconteceu na sua terra, Bocaiúva, no norte de Minas Gerais, quando ele era criança.

Um político manhoso que nasceu em Bocaiúva foi o José Maria Alkmin, deputado que ocupou vários cargos importantes em Minas e no Brasil.

Em Bocaiúva, ele fazia pose de que tudo de bom que acontecia lá era coisa arrumada por ele. Desde a construção de uma estrada ou uma escola, até nomeação de gente para cargos públicos.

Pois nessa época os cientistas previram um eclipse que seria total em Bocaiúva, o melhor lugar para ser observado por cientistas.

E nas vésperas do grande acontecimento, Bocaiúva se encheu de cientistas e entrou no noticiário de rádios e jornais, pois ainda não havia televisão.

O Betinho me contou que ouviu pessoas falando o seguinte:

– Foi o Alkmin que arrumou esse eclipse pra nós.    
 

Edição: Michele Carvalho