retaliação

Após greve, afiliada da TV Record em Alagoas demite 14 trabalhadores

Sindicato trata demissões como retaliação a profissionais que aderiram o movimento e denuncia “ato antissindical”

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Para sindicalista, "essas demissões são atos antissindicais, tomados única e exclusivamente por retaliação à greve"
Para sindicalista, "essas demissões são atos antissindicais, tomados única e exclusivamente por retaliação à greve" - Foto: Johnatan Lins

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Desde a última segunda-feira (5), mais demissões de jornalistas e cinegrafistas aconteceram em Alagoas, dessa vez na TV Pajuçara, afiliada da RecordTV. Foram 14 profissionais desligados de seus cargos da emissora, 12 jornalistas e dois cinegrafistas. Todos participaram da greve de nove dias contra 40% da redução salarial e corte de benefícios, que foi iniciada no dia 25 de junho e afetou os três grandes grupos de comunicação: Pajuçara (Record), Gazeta (Globo) e Ponta Verde (SBT). 

:: Justiça nega redução salarial e determina reajuste a jornalistas de Alagoas ::

Muitos dos profissionais demitidos eram ligados à apresentação ou reportagem. Gernand Lopes, por exemplo, trabalhava na TV Pajuçara há 17 anos, e desde 2012 era apresentador do programa Fique Alerta, um dos mais importantes da emissora. Profissionais de programas como Pajuçara Noite, Cidade Alerta Alagoas, Balanço Geral também foram desligados.

Thiago Correa, secretário-executivo do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, afirma que a adesão à greve foi relevante. “Algo como 200 pessoas [participaram], talvez até mais, porque tivemos os estudantes. Porém, tivemos mais de 95% de adesão. Para que se tenha uma ideia, tivemos dois telejornais da empresa que não foram ao ar porque não tinha conteúdo para ir ao ar”, explica.

Para o dirigente, não há dúvidas sobre a motivação política do afastamento dos profissionais. “No entendimento do sindicato, essas demissões são atos antissindicais, tomados única e exclusivamente por retaliação à greve, porque só os grevistas estão sendo demitidos, somente os grevistas estão passando por essa reformulação.”

Gesia Maleiros trabalhou 23 anos como pauteira e produtora na TV Pajuçara, e disse que a proposta de redução de 40% do salário caiu como água gelada na cabeça dos jornalistas. Considerando a luta legítima, resolveu entrar em greve. “Sabemos que hoje estamos em uma empresa e amanhã poderemos estar em outra. E, se isso ocorresse seríamos contratados com um piso salarial 40% menor que o atual”.

Ela acredita que as demissões fazem parte de uma perseguição ao movimento grevista. “Fico triste por ver uma empresa que eu praticamente vi nascer e sempre senti muito orgulho de trabalhar, ter tirado do ar o principal telejornal de notícias e ter dispensado pessoas que dedicaram boa parte de suas vidas a essa construção”, completa.

O sindicato, junto aos demitidos, devem judicializar a questão, alegando atitude antissindical e descumprimento do Dissídio Coletivo firmado na Justiça do Trabalho no dia 5 de junho.

Brasil de Fato entrou em contato via telefone e e-mail com a Rede Pajuçara, mas até o fechamento da matéria não obteve resposta.

TV Gazeta

Um processo semelhante aconteceu na TV Gazeta local, afiliada à Rede Globo. No mês passado, 15 pessoas foram demitidas apenas um dia após o fim da greve, que foi considerada legítima e vitoriosa, com o piso salarial mantido e reajuste de 3%. 

Após ação na justiça, o Tribunal Regional do Trabalho da 19ª Região determinou que os demitidos fossem recontratados nas mesmas funções que exerciam. Além disso, pediu à Justiça que fosse determinado o pagamento de uma indenização de R$ 700 mil por danos morais coletivos, mais multa de R$ 50 mil por dia de descumprimento. 

Contudo, a determinação judicial foi descumprida e os profissionais foram rebaixados de cargo, e alguns colocados em férias forçadas. De acordo com Thiago, o sindicato já informou a justiça e aguarda posicionamento.

Após as demissões, os professores do curso de jornalismo da Universidade Federal de Alagoas divulgaram uma nota de repúdio, criticando a TV Pajuçara e afirmando que o afastamento dos profissionais são “contra o exercício qualificado e amplo do jornalismo, elemento fundamental na preservação dos direitos humanos e da democracia.”

Confira a nota na íntegra:

Os professores do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas, abaixo assinados, vêm a público manifestar solidariedade aos jornalistas demitidos pelo Pajuçara Sistema de Comunicação - PSCom.

As demissões aconteceram ontem e hoje, 05 e 06 de agosto de 2019, pouco mais de um mês após o encerramento da greve dos jornalistas do estado de Alagoas, motivada pela proposta das empresas de comunicação de reduzir o piso salarial da categoria.

O PSCom se junta, dessa maneira, à Organização Arnon de Mello, perseguindo os profissionais que se opuseram à perda de suas garantias trabalhistas e à retirada de direitos. Nesse sentido, repudiamos veementemente as demissões desses profissionais.

Vale lembrar que o jornalismo brasileiro atravessa tempos sombrios e que os profissionais de imprensa, juntamente com os professores do ensino público, foram escolhidos como inimigos do país pelo governo autoritário e truculento, que ora ocupa o Palácio do Planalto.

Não bastassem as demissões, o PSCom anuncia o fim de seu telejornal diário, Pajuçara Noite, privando a sociedade alagoana de relevante e reconhecida produção jornalística, reduzindo ainda mais a diversidade de informações na TV alagoana.

As demissões em massa compreendem, assim, mecanismo extremamente perverso não só contra os profissionais que perderam seus postos de trabalho, como também contra o exercício qualificado e amplo do jornalismo, elemento fundamental na preservação dos direitos humanos e da democracia.

Maceió, 06 de agosto de 2019.

Júlio Arantes Azevedo

Lídia Maria Marinho da Pureza Ramires

Janayna da Silva Ávila

Carlos Alberto Sarmento Cavalcanti de Gusmão

Ronaldo Bispo dos Santos

Magnólia Rejane Andrade dos Santos

Mércia Sylvianne Rodrigues Pimentel

Ruy Matos e Ferreira

Ricardo Coelho de Barros"

Edição: Rodrigo Chagas