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BdF indica | Daniel Munduruku

Escritor indígena, doutor em educação pela USP e fundador do Instituto UKA é um dos convidados da Bienal do Livro do CE

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |

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Daniel já recebeu o prêmio Jabuti e o prêmio da Academia Brasileira de Letras
Daniel já recebeu o prêmio Jabuti e o prêmio da Academia Brasileira de Letras - Governo do Estado do PI

Até o próximo dia 25, a cidade de Fortaleza sedia a XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, com o tema “A Cidade e as Letras”. Se sucedem, todos os dias, das 9h às 22h, exposição e venda de livros, debates e apresentações artísticas no Centro de Eventos do Ceará, local que sedia o evento. Entre os cerca de 300 convidados que participarão de espaços de debates nesta Bienal, está Daniel Munduruku, escritor, indígena, doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e fundador do Instituto UKA – Casa de Saberes Ancestrais. Daniel, que já recebeu o prêmio Jabuti e o prêmio da Academia Brasileira de Letras, participou nesta segunda-feira (17) de um dos debates da Bienal com o tema “Uma abordagem da literatura oral brasileira”
Falando de como começou a escrever, ele retoma sua infância, “nasci no meio da floresta e tive que aprender a ouvir a floresta, seus ensinamentos, para meu povo isso é uma questão de sobrevivência. Depois, aprendi a fazer e ouvir o silêncio. O silêncio nos permite viver e ouvir o agora. Ao aprender a ouvir e observar, fui percebendo que também podia contar essas histórias”. Daniel é hoje o escritor indígena mais publicado no Brasil.
“O Brasil, ainda hoje, não conhece seus povos indígenas, tudo que nós sabemos são ideias e imagens dos povos indígenas que foram reproduzidas ao longo do tempo. Não costumamos ouvir os povos indígenas e sim aqueles que falam dos povos indígenas”, afirmou Daniel, mas também fez questão de frisar a importância dos diálogos entre os povos indígenas e não indígenas, “quando a gente aprende com os outros, nos tornamos mais brasileiros. Amar esse país significa colocar os pés no chão, nos sentir parte, lutar para que ele não seja entregue nas mãos dos outros”.
Daniel também apontou que é preciso mudar o ponto de partida de como é contada a história do Brasil por aqueles que se consideram vencedores. “Os povos indígenas sempre foram considerados menores, vencidos e nunca puderam contar suas próprias histórias, mas estamos aqui para escutar, falar e ouvir o que os outros tem a dizer para que posamos construir juntos uma verdadeira identidade brasileira e isso passa pelos povos indígenas”, concluiu.

Edição: Marcos Barbosa