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Associação Novo Amanhecer: reciclagem de papel e vida digna às famílias trabalhadoras

No dia 7 de setembro, completam-se 12 anos da ocupação do barracão, que hoje envia para reciclagem mais de 20 toneladas

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Daiane é presidente da Associação, assim como sua mãe já foi.
Daiane é presidente da Associação, assim como sua mãe já foi. - Giorgia Prates

A história de Daiane Aparecida de Souza e da Associação de materiais recicláveis Novo Amanhecer, no bairro CIC, em Curitiba, se confundem e se encontram. Hoje, presidente da entidade, ela percorreu um caminho parecido como o de sua mãe. Ambas foram catar papéis na rua após perderem seus trabalhos quando engravidaram.

“Em 2004 eu engravidei, trabalhava em casa de família. Fiquei um ano em casa cuidando das minhas filhas gêmeas, até conseguir creche. Ficou muito apertado para criar duas filhas e foi aí que eu comecei a catar papel e trabalhar na Associação junto com a minha mãe, que já tinha sido presidente da entidade.” Em entrevista para o Brasil de Fato, Daiane conta a história de lutas que ainda se mantém para dar dignidade ao trabalho dos catadores de papéis.

Sua mãe, há mais de 30 anos atrás, era cozinheira e após engravidar do irmão de Daiane, perdeu o emprego. “Ela foi catar papel junto com a minha tia. Por um ano, o papel era guardado na nossa casa. Só depois que ela encontra a Associação e começa a se integrar.” Por dois mandatos a mãe de Daiane esteve à frente da presidência da entidade, assim como a filha, que depois torna-se presidente por duas vezes, também. “Depois que minha mãe começou a vender os papéis direito para a Associação, o nosso custou devida melhorou.”

12 anos de luta

Em 2007, cerca de 45 famílias de catadores de papéis deste coletivo, no feriado de 7 de setembro, ocuparam um terreno que era do Estado - o depósito da Fundação Educacional do Estado do Paraná (Fundepar, ligada à Secretaria de Educação), que se encontrava desocupado e sem função social. A ocupação aconteceu quando no terreno antigo, que utilizavam na região do CIC Barigui, não conseguiam pagar mais aluguel.  “Tínhamos duas opções: fechar o barracão e ficar sem o trabalho ou lutar pela continuidade. Ocupamos esse terreno que era do Estado. Com isso, pudemos iniciar diálogo com o Governo, na época com o Governador Roberto Requião.” Questionada se enfrentaram problemas com os governos posteriores, Daiane cita que durante o Governo Beto Richa, chegaram a receber três cartas para desocupação. Na época da ocupação, a Associação Novo Amanhecer contou com uma declaração de Apoio assinada por 21 associações de catadores locais.

Atualmente, a Associação aguarda e vem trabalhando junto a entidades parceiras e advogados pelo título de usucapião ou a cessão do terreno pelo Governo.  “Com isso, poderemos participar de programas, por exemplo, como o Lixo que não é Lixo da Prefeitura de Curitiba.  Daiane diz que por mês, são mais de 20 toneladas de materiais recicláveis que são separados para a reciclagem. São cerca de 50 famílias de catadores de papéis envolvidos.  

Daiane diz que o número já foi maior ainda que as 20 toneladas. “Por causa da crise, percebemos uma diminuição de recicláveis. Já teve família aqui que conseguiu ganhar até 1mil por mês.  Hoje é bem menos.”

Maioria das crianças na escola

Uma das regras da Associação é que crianças não entram no barracão por que, segundo Daiane, não é local para elas. Apesar de se observar na cidade, ainda muitos catadores de papéis levando seus filhos para a rua, a luta da entidade foi sempre a de conseguir que as crianças estivessem na escola. “Conseguimos estabelecer uma parceria com o CRASS da região e já podemos dizer que a grande maioria das famílias conseguiram que seus filhos tenham vaga e frequentem escolas,” explica. “Minhas duas filhas que hoje tem 14 anos nunca vieram aqui. Elas querem estudar e ir para os Estados Unidos, “conta rindo Daiane que quando criança sonhava em ser juíza.

Para ela, ainda o preconceito sobre a profissão de acatador de papel é grande e faz um pedido, emocionada: “Quando cada um olhar para um carrinheiro, pensa que por trás daquela pessoa empurrando um carrinho, tem outras pessoas atrás, uma família que ele está lutando para dar dignidade.”

 

 

 

 

 

 

Edição: Laís Melo