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Rostos da Luta pela Terra: Maria de Jesus Barros, uma vida de luta contra a violência

Esposa de Francisco Barros, assinado por pistoleiros no final da década de 1980, Maria vive no Assentamento Melancias

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Atualmente está com 71 anos, continua contribuindo com o MST, sendo uma das matriarcas na luta pela terra
Atualmente está com 71 anos, continua contribuindo com o MST, sendo uma das matriarcas na luta pela terra - Aline Oliveira

Maria de Jesus da Silva Barros nasceu em Acaraú, em 16 de agosto de 1947, filha de Jorge Gregório da Silva e Maria Cordeiro da Silva. Sendo a mais velha de seis irmãos, seu pai trabalhava como vaqueiro. Como os filhos ainda eram pequenos para ajudar o pai nos trabalhos, seu primo Francisco veio morar com eles. 
Francisco e Maria de Jesus se casam e tem sua primeira filha Luzia, em 1968. Após o casamento foram morar com os pais de Francisco na comunidade de Palmeiras, município de Itarema, aonde seria o assentamento em que ela reside até hoje. Nasceram ali seus outros cinco filhos.
Na década de 1980 começou a se inserir nas pastorais da Igreja, período em que as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) começam a se organizar na região, Maria inicia sua militância na luta pela terra. Com a impossibilidade de desapropriar a terra em que viviam, por se tratar de área pequena, passaram a lutar pela terra vizinha, que pertencia a família de um padre chamado Aristides, segundo Maria de Jesus, ele chegou a dizer que ela e família morariam no inferno, mas nunca nas terras dele.
Várias comunidades rurais começaram a se organizar na luta pela terra. As reuniões eram feitas de forma clandestina, as mulheres se reuniam e organizavam momentos de orações e reflexões em casas de vizinhas e em outras comunidades, geralmente à noite. Enquanto os homens eram responsáveis pela vigília do local. Assim, ela ia de comunidade em comunidade, realizando junto com as CEBs rodas de conversas e reuniões com moradores das fazendas vizinhas às comunidades
Em 1987 as comunidades se organizam para realizar um trabalho coletivo na comunidade de Patos, que fazia parte da fazenda do Padre Aristides. Francisco foi convocado para o trabalho, assim como todos os homens das comunidades vizinhas. Haviam sidos contratados pistoleiros armados que tinham ordem para atirar em quem quer que fosse. Assim, com as ordens dadas, o fizeram. Durante a realização do trabalho, começaram os tiroteios vindos do mato, Francisco foi atingido na perna. O que fez com que caísse imediatamente de bruços no chão, em seguida, o pistoleiro que o atingiu pegou sua própria ferramenta de trabalho e o golpeou no pescoço.
Quando um dos amigos da família foi dar a notícia do falecimento de Francisco Barros, Maria de Jesus foi forte, acalmando todos que estavam dentro da pequena casa de taipa. O corpo veio em uma rede, seguravam sua cabeça com as duas mãos. Foi colocado sob uma esteira e ela mesma ajudou limpar o sangue e vestir a roupa com qual seria enterrado, enquanto conversava com ele.
O caso gerou grande comoção e repercussão na mídia e na Assembleia Legislativa. No final dos anos 1980, foi gravado por uma equipe vinda da Itália, o documentário Laços de Luta, em que conta a história de vida de Francisco Barros e a força com que Maria de Jesus teve para criar sozinha seis filhos.
Na década de 1990, ainda estava impune o assassino. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) colaborou para que o caso fosse resolvido, dando apoio e suporte para a viúva. A partir desse período Maria de Jesus se inseriu na luta pela terra ao lado do MST, aonde afirma com orgulho ser Sem Terra.
Atuou como Agente da Pastoral da criança em 1997, logo após a desapropriação da fazenda Canaã, e assumiu a presidência da associação da comunidade no mesmo período. Atualmente está com 71 anos, reside no assentamento Canaã – Melancias em Amontada, continua contribuindo com o MST, sendo uma das matriarcas na luta pela terra.
 

Edição: Monyse Ravena