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Preço da passagem de ônibus é uma das razões para evasão escolar em Porto Alegre

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Pesquisa feita pela orientadora do Colégio Julio de Castilhos mostra dados preocupantes
Pesquisa feita pela orientadora do Colégio Julio de Castilhos mostra dados preocupantes - Foto: CPERS Sindicato
É a Educação servindo apenas para uma pequena elite

A pesquisa feita pela orientadora do Colégio Julio de Castilhos com alunos evadidos ou faltantes mostra outros dados preocupantes, vários com certeza relativos à piora das condições econômicas das famílias brasileiras. Mas chamou atenção deste blogueiro que 26% dos alunos apontaram o preço da passagem como razão para abandonarem os estudos

Reprodução de publicação da página do CPERS SINDICATO 

Quando os jovens são OBRIGADOS a se afastar da educação e da escola por razões econômicas, se desenha um futuro sombrio para a nação. E o governo gaúcho quer fechar mais escolas, que segundo o Estado são deficitárias. Para isto inventaram o termo “enturmação”. Juntar mais alunos numa mesma classe já precariza a educação por si só, por que o professor tem que dar conta de mais alunos do que o ideal. Mas esta “enturmação”, em muitos casos, significa mesmo o fechamento de escolas inteiras, o fechamento de vagas em escolas já existentes. O resultado é que os jovens têm que se deslocar de um bairro para o outro ou, como no caso da escola “Julinho”, do bairro para o centro da cidade.

Afora o tempo gasto na locomoção, que pode chegar até mais de uma hora em alguns casos, há o preço da passagem. Meia passagem estudantil custa R$ 2,35. Parece pouco, mas não dá pra esquecer que as aulas acontecem todos os dias e os alunos têm que frequentar estas aulas cinco dias por semana. E têm que ir e voltar. Portanto, R$ 2,35 x 40 passagens = R$ 94,00. Imagina o jovem de uma família que recebe o Bolsa Família, que em média dá R$ 184,00 POR FAMÍLIA, pagar esta passagem. Estamos falando da metade deste valor.

E o prefeito da cidade, Nelson Marchezan Junior (PSDB), já fez várias tentativas acabar com a meia passagem estudantil. Imagina as consequências. Cada vez mais evasão escolar. Cada vez mais jovens fora da escola. E o governo Bolsonaro, que corta bilhões de reais do orçamento da Educação, propagandeia as tais “Escolas Militares”. Mas é só olhar o conteúdo da propaganda e a gente vê que estão previstas poucas escolas deste tipo, mas com um orçamento gigantesco. É a Educação servindo apenas para uma pequena elite. Enquanto isso, a grande massa de jovens que não terá acesso a essas “escolas militares” ficará mesmo de fora de qualquer escola.

O governo que ousou propor que 75% dos royalties do Pré-Sal, maior reserva petrolífera do mundo, fossem para a Educação, foi apeado do poder. Dado o Golpe, nem os 75% dos royalties do Pré-Sal irão para a Educação. Tampouco os lucros e dividendos do Pré-Sal ficarão no Brasil, visto que está sendo entregue a multinacionais estrangeiras, em especial americanas.

Enquanto isso, muitos jovens já não tem mais dinheiro nem para ir ao “Julinho” em Porto Alegre, assim como milhões de jovens no Brasil.

Segue artigo do CPERS SINDICATO sobre a importante pesquisa realizada pela orientadora Gina Marques, do Colégio Estadual Julio de Castilhos, o popular Julinho.

Depressão e problemas financeiros estão entre as principais causas de evasão escolar no Julinho 

Enquanto o Estado se abstém de promover políticas para entender e evitar a evasão escolar, educadores(as) vão além das suas atribuições e dão bons exemplos. É o caso da orientadora Gina Marques, do Colégio Estadual Julio de Castilhos, o popular Julinho.

Gina contatou pessoalmente 128 alunos com problemas de frequência para compreender os motivos por trás do afastamento. Mais do que mapear as razões, a iniciativa possibilitou a reversão de alguns casos. A pesquisa identificou que o elevado preço da passagem de ônibus é o principal catalisador da evasão, com 34 alunos justificando as faltas por insuficiência de recursos para arcar com o transporte até a escola.

“Nossos alunos vêm de muito longe pois não há vagas no bairro onde residem. Por isso eu acho que a questão não é fechar escolas, como quer o governo, mas sim abrir. Se o estudante não tem dinheiro para passagem e passa dificuldades para chegar até a escola, são altas as chances de ele desistir e não querer mais estudar”, enfatiza Gina.

Gina também ressalta o alto número de estudantes que relatam doença, ansiedade e depressão. Foram entrevistados 21 alunos nestas condições. Na escola, existem casos de alunos que estudam em domicílio em razão de ataques de pânico e até tentativa de suicídio. “Esses alunos não tem uma perspectiva de futuro. O que vão ser quando crescer? Estão tirando todos os direitos deles”, questiona a orientadora.

Sem política, governo corta

Para a diretora do colégio, Maria Berenice Alves, a falta de uma política pública que dê suporte aos estudantes e evite a evasão é uma das razões para os altos números.

“Aqui nós recebemos alunos de tudo quanto é canto, Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Camaquã… nos últimos anos perdemos muitos deles. Por mais que a causa seja a falta de dinheiro, o estudante precisa se sentir acolhido, mas cortando recursos das escolas o governo não permite isso”, argumenta Maria Berenice.

“A única política que o governo Leite conhece é a da tesoura”, afirma o diretor do CPERS, Daniel Damiani. Em razão da redução do número de estudantes, a Seduc orientou neste mês o fechamento de nove turmas. “O governo olha os números e nem sequer procura conhecer os motivos. A evasão é celebrada, pois facilita o projeto de enxugamento da máquina pública”, explica.

A infrequência serve como justificativa para enturmações sem qualquer diálogo com a comunidade, à revelia da realidade dos estudantes e dos educadores(as). “Nós temos duas turmas de terceiro ano com muita dificuldade de convivência e relacionamento. Se enturmar como é que vai ser o dia a dia desses alunos? Ninguém nos questionou sobre isso”, conta Gina.

O CPERS tem denunciado a súbita explosão de casos de enturmações e multisseriações, bem como fechamento de escolas em toda a rede. Em coletiva na última segunda, o Sindicato comunicou a imprensa sobre a existência de planos para fechar até 5 mil turmas e implantar turno único em 480 instituições, reduzindo drasticamente a capacidade de atendimento da rede estadual.

Somente em Porto Alegre, na última semana, além do Julinho, as escolas Emílio Massot, Santos Dumont, Padre Reus,  e Cândido Godói foram comunicadas pela Seduc sobre a ordem de reduzir turmas. Já na escola Alvarenga Peixoto, a orientação é para unir as turmas de 6º e 7º ano do EJA, a chamada multisseriação – quando alunos de níveis diferentes de escolaridade têm aulas na mesma classe.

Apesar da tendência de queda no número de estudantes da rede estadual ao longo dos anos, 2019 aponta para uma possível reversão na tendência. De acordo com o próprio governo, 30 mil estudantes a mais se matricularam na rede para o atual ano letivo.

O CPERS defende que o Estado estude a fundo o problema da evasão escolar antes de recorrer a soluções tecnicistas e altamente prejudiciais à qualidade do ensino. “Tudo isso significa uma brutal ruptura do processo de ensino e aprendizagem”, comenta a presidente Helenir Aguiar Schürer. “Quando o IDEB gaúcho apresentar um desempenho aquém do desejado, não faltará quem responsabilize os educadores. Nós, apesar dos salários atrasados e congelados, da desvalorização e do descaso, fazemos a nossa parte. E o governo, quando fará a sua?”, conclui.

Abaixo, apresentamos os dados completos da pesquisa sobre evasão levantados pela orientadora educacional.

Edição: Marcelo Ferreira