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Bruno, Richarlyson e os ídolos que escolhemos

Estamos falando de alguém que jamais demonstrou qualquer sinal de arrependimento

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Bruno fez a sua estreia com a camisa do Poços de Caldas neste último final de semana
Bruno fez a sua estreia com a camisa do Poços de Caldas neste último final de semana - Reprodução / Facebook / Poços de Caldas Futebol Clube
Estamos falando de alguém que jamais demonstrou qualquer sinal de arrependimento

Condenado a 20 anos e nove meses de prisão pelo assassinato de Eliza Samudio, o goleiro Bruno fez a sua estreia com a camisa do Poços de Caldas FC neste final de semana, numa vitória por 2 a 0 sobre o Independente Juruaia, uma equipe amadora de Minas Gerais. A partida contou com a presença de pouco mais de 200 torcedores que não deram bola para as manifestações contrárias à sua contratação pelo Vulcão e tietaram bastante o goleiro. Durante a entrevista coletiva, Bruno se limitou a responder apenas perguntas sobre futebol e não falou sobre Eliza Samudio e sobre os crimes cometidos em 2010.

Richarlyson tem 36 anos e foi campeão por grandes equipes do futebol brasileiro ao longo de pouco mais de 15 anos de carreira. Atualmente sem clube, o ex-jogador de São Paulo, Atlético-MG, Guarani e Seleção Brasileira trabalha como auxiliar no time de vôlei feminino do SESI-Bauru a covite do técnico Anderson Rodrigues. Richarlyson sempre foi perseguido por ataques e piadas homofóbicas sem nunca ter se assumido gay publicamente. Em 2017, quando foi anunciado como reforço do Guarani para a disputa da Série B, a torcida do clube protestou com bombas e xingamentos nas redes sociais.

Que ídolos estamos escolhendo? Ou melhor: o que queremos de alguém quando o escolhemos para ser ídolo do nosso time de futebol, vôlei ou qualquer outro esporte? E quando foi que passamos a achar "normal" alguém que foi condenado por homicídio triplamente qualificado ou por agressão doméstica e assédio sexual voltar para os holofotes como se nada tivesse acontecido?

Antes que me acusem de hipocrisia ou de promoção da balbúrdia, deixo claro que Bruno tem sim direito a exercer sua profissão como qualquer outro cidadão brasileiro. A grande questão tratada aqui é que estamos falando de alguém que jamais demonstrou qualquer sinal de arrependimento dos crimes cometidos em 2010 e que sempre se colocou como "vítima". Será que outros presos não poderiam ganhar uma oportunidade? Será que nossos clubes não poderiam oferecer empregos num programa de ressocialização para homens e mulheres? Por que Bruno e não outros?

A contratação do ex-goleiro de Flamengo e Atlético-MG dá visibilidade. Dá marketing. Mesmo com todo o histórico do jogador. E no meio disso tudo, existe a falsa ilusão de "estar abrindo portas para um condenado pela justiça de se reerguer" ao mesmo tempo em que muitos outros seguem estigmatizados e esquecidos. Falamos tanto em proteger nossas crianças nessas últimas semanas. Que mensagem estamos passando para elas? Que está tudo bem contratar e idolatrar um jogador condenado por homicídio triplamente qualificado e que não há problema em enxotar um outro que nem se assumiu publicamente (e que somente o deve fazer se assim desejar) por conta da sua orientação sexual? Tudo bem bater e matar mulheres? Mas ser gay não?

Vale lembrar que Richarlyson jamais se envolveu em grandes polêmicas, mas foi rejeitado por ser gay sem nunca ter se assumido publicamente. Lá nos Estados Unidos, Colin Kaepernick nunca mais conseguiu fazer parte de nenhum time da NFL depois de protestar contra a violência contra os negros durante o hino nacional. Ao mesmo tempo, jogadores com histórico comprovado de violência doméstica e assédio sexual continuam sendo contratados e tratados como grandes ídolos por torcedores e imprensa.

A contratação do goleiro Bruno pelo Poços de Caldas FC e o esquecimento de outros nos dizem muito sobre a sociedade em que vivemos. É o retrato perfeito das aparências que gostamos de manter diante dos nossos preconceitos há muito arraigados na nossa sociedade. Ou a gente se livra do nosso machismo, da nossa homofobia e de todo tipo de preconceito, ou paramos de fingir que somos bonzinhos e tementes a Deus. Do jeito que está não dá, pessoal.

O EMPATE FICOU DE BOM TAMANHO PARA O FLU

O Fluminense foi até Belo Horizonte encarar o Cruzeiro e conseguiu um pontinho fora de casa. Mesmo assim, eu não fui o único que ficou com a impressão de que os comandados de Marcão poderiam ter feito mais. Faltou um pouco mais de ousadia.

ACABOU A SECA DO BOTAFOGO

O Botafogo finalmente acabou com a sua seca de vitórias ao bater o Goiás por 3 a 1 nesta quarta-feira (10), no Engenhão. O time teve uma postura bem diferente das últimas partidas e deu mostras de que pode melhorar nessa reta final de temporada. A conferir.

FLAMENGO ENCARA O GALO

O time de Jorge Jesus enfrenta o Atlético-MG nesta quinta-feira (10) no Maracanã. É mais um jogo complicado no meio da maratona que o Flamengo vem encarando para se manter no topo. Mas é bom deixar claro que não será o fim do mundo se o Fla tropeçar.

VASCO PRECISA VENCER O AVAÍ

A derrota dentro de casa para o Santos acabou deixando os comandados de Vanderlei Luxemburgo sem o alívio necessário para vôos mais altos. Mais do que nunca, o Vasco precisa da vencer o Avaí fora de casa para se manter longe da zona do rebaixamento. É vencer ou vencer.

Edição: Brasil de Fato (RJ)