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Todo canalha é bolsonarista

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Moa do Katendê, mestre de capoeira morto a facadas após declarar voto no PT durante as eleições de 2018
Moa do Katendê, mestre de capoeira morto a facadas após declarar voto no PT durante as eleições de 2018 - Reprodução/Facebook
O que é novo, talvez, é a comprovação quase diária da assertiva

Sim, todo canalha é bolsonarista. Mas nem todo bolsonarista é canalha. Pode-se dizer, aliás e com pouca chance de erro, que a grande maioria daqueles que conduziram Bolsonaro ao poder não é canalha. Claro que, quanto ao núcleo duro do bolsonarismo, é mais difícil sustentar otimismo.

Dizer que todo canalha é bolsonarista não é novidade. Canalha, aqui, se traduz geralmente por violento e covarde. O que é novo, talvez, é a comprovação quase diária da assertiva.

E não há como negar que um presidente abertamente machista, homofóbico, racista, xenófobo tem tudo a ver com o empoderamento dos seus iguais. Uma figura que sempre admirou homicidas e torturadores e que defendeu, mais de uma vez, o assassinato dos seus adversários.

O esgoto começou a transbordar na campanha. Em apenas dez dias de outubro de 2018, levantamento da Agência Pública constatou dezenas de atos violentos em 18 estados. A maioria das agressões – 50 -- foi obra de apoiadores de Bolsonaro.

Em Recife (PE), uma jornalista foi esfaqueada e escapou por pouco de um estupro. “Quando o comandante ganhar a eleição, a imprensa vai morrer”, avisou o agressor. Em São Paulo, uma cozinheira foi espancada, xingada de “puta fedida”, presa e jogada nua na cela por escrever a frase “Ele Não” em um muro.

Em Curitiba (PR), outro jornalista foi propositalmente atropelado por usar uma camiseta vermelha com a estampa de Lula. Culminou com as 12 facadas em Moa do Katendê, 63 anos, em Salvador. Em 2019, basta acompanhar o noticiário para saber que pouco mudou.

Em Londrina (PR), por exemplo, um casal foi preso por agredir o filho adotivo de oito anos, que foi parar numa UTI. O conselho tutelar encontrou indícios de tortura. Em 2018, na sua rede social, a dupla convocou “Bora votar 17”.

Em Cuiabá (MT), um médico acostumado a exaltar Bolsonaro no Facebook agrediu uma empresária com socos e tapas. Quando a mulher avisou que iria denunciá-lo, o agressor prometeu, segundo ela, matar e cortar sua filha em pedaços.

O “Dia do Fogo” no Pará, violência contra a Amazônia que espantou o planeta, foi uma articulação de fazendeiros, madeireiros e grileiros admiradores de Bolsonaro. O jornalista que os denunciou teve que deixar a cidade após ser ameaçado de morte.

Outro traço do canalha é a hipocrisia. Em Londres, três paulistas adoravam compartilhar textos e imagens de exaltação a Bolsonaro. Também curtiam as operações das PF. “Os corruptos piram”, postaram. Só não curtiram quando foram presos pela Scotland Yard por chefiarem um mega esquema de prostituição, bordéis clandestinos, segurança ilegal e venda de drogas. Condenados, fizeram a delícia dos tabloides ingleses.

Em São Paulo, uma mulher foi flagrada com 30 quilos de pasta base de cocaína. Nas redes sociais, em baixo de sua foto na cabine era possível ler “Bolsonaro 2018”.

Em Balneário Camboriú (SC), um homem de 44 anos matou a socos e pontapés um idoso de 61. O homicídio aconteceu após discussão sobre política. Testemunhas declararam que o assassino ofendeu verbalmente a vítima e partiu para a agressão a socos e pontapés. Mesmo caído, o homem continuou a ser massacrado. Sofreu uma parada cardíaca e morreu no local. Nas redes, o assassino usava sua foto acompanhada dos dizeres “Bolsonaro, muda Brasil de verdade”.

Edição: Julia Chequer