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Por que a vacina BCG deixa uma cicatriz no braço?

Dizem por aí que se não tem cicatriz a vacina não funcionou, mas não é verdade

A BCG combate a bactéria Mycobacterium tuberculosis, que é a doença infecciosa que mais mata no mundo
A BCG combate a bactéria Mycobacterium tuberculosis, que é a doença infecciosa que mais mata no mundo - Marcelo Camargo / Agência Brasil
Dizem por aí que se não tem cicatriz a vacina não funcionou, mas não é verdade

O tema de hoje foi sugerido pelo João, amigo e leitor do Brasil de Fato. Valeu, João!

Já reparou que das várias vacinas que tomamos ao longo da vida uma deixa uma marquinha no local de aplicação? É a Bacillus Calmette-Guérin (ou BCG), usada para prevenir tipos severos de tuberculose.

Essa doença infecciosa é causada por uma bactéria, geralmente da espécie Mycobacterium tuberculosis. Em sua forma mais comum, afeta os pulmões, o que causa sintomas como dores, tosse, febre e perda de peso. Quando não tratada, apresenta alta taxa de mortalidade. É atualmente a doença infecciosa que mais mata no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2018, 1,5 milhão de pessoas morreram devido a ela, em um total de 10 milhões de casos em todo o mundo.

A tuberculose é tratada com antibióticos e a principal forma de prevenção é a vacinação. A BCG é produzida a partir das bactérias vivas atenuadas, ou seja, incapazes de causar a doença. Quando o nosso sistema imunológico entra em contato com essas bactérias presentes na vacina, ele produz anticorpos que evitam que novas infecções ocorram e causem prejuízos ao organismo.

A BCG é uma das primeiras vacinas administradas no recém-nascido. Esse procedimento deve ser feito de preferência nas primeiras doze horas de vida. A vacina é administrada via injeção intradérmica, ou seja, na camada interna da pele, a derme. Por padrão, sempre no braço direito. No Brasil, é oferecida gratuitamente a toda população graças ao Sistema Único de Saúde.

O ferimento e a posterior cicatriz formada no local de aplicação é uma reação normal do sistema imunológico à presença da bactéria. Há até um mito popular que diz que se a cicatriz não se formar quer dizer que a vacina não fez efeito. Isso não é verdade. Mesmo nos raros casos em que não ocorre a feridinha, o efeito preventivo é garantido.

No Brasil, até 2005 era indicado que a partir dos dez anos de idade fosse dada uma segunda dose da BCG. Como os testes mostraram que o reforço não era necessário, tal indicação foi abandonada. Por isso, é provável que, caso você tenha mais de 25 anos de idade, tenha duas marquinhas em seu braço, enquanto os mais novos tenham só uma.

Caso a vacina seja administrada com uma micro agulha, apelidada de carimbo, não deixa a famosa cicatriz. No Brasil, apenas cerca de 3% das pessoas são vacinadas com a micro agulha. Em outros países, esse número pode ser bem maior. Isso explica o fato de quase todos os brasileiros terem a marquinha da BCG e nenhum japonês a ter!

E você, gosta da sua marquinha?

Um abraço e até a próxima!

Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.

Edição: Elis Almeida