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Crise financeira: Vasco entre a cruz e a espada

Até que ponto vale abrir mão dos seus princípios por causa de dinheiro?

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Presidente Alexandre Campello e Luciano Hang se encontraram mais de uma vez para acertar o patrocínio da Havan para o Vasco
Presidente Alexandre Campello e Luciano Hang se encontraram mais de uma vez para acertar o patrocínio da Havan para o Vasco - Reprodução / Twitter
Até que ponto vale abrir mão dos seus princípios por causa de dinheiro?

O torcedor do Vasco encerrou o ano de 2019 com uma pequena ponta de esperança. O time conseguiu se recuperar no Brasileirão e chegou até a sonhar com uma vaga na Libertadores, mas perdeu fôlego na reta final e acabou mesmo se classificando para a Copa Sul-Americana. Ótimo desempenho para quem era apontado como candidato ao rebaixamento não tem muito tempo.

O grande problema, no entanto, está fora dos gramados. A situação financeira do clube beira o desespero. Jogadores importantes na temporada passada já afirmaram que só permanecem no Vasco se os salários atrasados forem pagos. Ao mesmo tempo, o clube corre o risco de ser proibido até de registrar atletas por conta de dívidas antigas.

Essa situação financeira caótica levou a diretoria do Vasco a buscar patrocinadores para injetar dinheiro no clube. E no final de dezembro de 2019, o presidente Alexandre Campello anunciou que estava em negociações com Luciano Hang, dono da Havan, para uma possível parceria. O valor do acordo ainda não foi revelado e a ideia é que a cadeia de loja de departamentos exponha sua marca nas mangas da camisa de jogo, numa placa de publicidade em São Januário e em outra no Centro de Treinamento.

A grande questão aqui é o posicionamento político de Luciano Hang, defensor assumido do presidente Jair Bolsonaro e propagador da ideia de que questões importantes como racismo, machismo, homofobia e desigualdade social não passam de “mimimi”, postura completamente contrária ao que o Club de Regatas Vasco da Gama defendeu (e defende) ao longo de 122 anos de história.

Vale lembrar que o Gigante da Colina foi um dos pioneiros na luta contra a discriminação racial no esporte. O episódio conhecido como “Resposta Histórica” (no qual o clube peitou a organização do Campeonato Carioca nos anos 1920 por conta da escalação de jogadores negros pelo time de São Januário) é exaltado pela sua torcida como um verdadeiro título, um marco importantíssimo na trajetória da instituição.

É aí que entra a tal “escolha de Sofia”. O que fazer? Manter seus princípios e seguir de pires na mão, ou abraçar Luciano Hang e a Havan sem pensar muito no assunto?

O Vasco colhe os frutos amargos de uma série de gestões terríveis nos últimos anos. Dívidas trabalhistas, dívidas fiscais, calote em empresas prestadoras de serviços e uma porção de problemas que fazem muita gente se perguntar como o clube ainda não fechou as portas. É bem verdade que o dinheiro da Havan seria extremamente importante para afrouxar (um pouco) o cinto. Mas seria também uma completa negação dos princípios defendidos ao longo das últimas décadas.

É claro que o futebol também é regido por relações econômicas. Mas até que ponto vale abrir mão dos seus princípios por causa de dinheiro?

O que vai ser do Botafogo S/A?

O Botafogo é mais um clube que está tentando se reerguer financeiramente. E tudo na base do “bom e barato”. Mas as dívidas ainda estão lá. E a diretoria precisa apresentar um projeto claro para iniciar a resolução de todos esses problemas. Qual é a desse “Botafogo S/A”, minha gente?

O que se passa no Flamengo?

O Flamengo teve um 2019 dos sonhos. Campeão brasileiro, campeão sul-americano e vice-mundial, dinheiro sobrando e tudo mais. O que se sabe é que, apesar de tudo isso, o clima nos bastidores segue fervendo. Paulo Pelaipe saiu e expôs a guerra interna no clube. Assim fica difícil se manter em “outro patamar”.

Fluminense tentando encontrar seu rumo

A dificuldade para contratar e manter seus principais jogadores é clara. Mesmo assim, o Fluminense conseguiu pagar todos os salários antes da virada do ano. Agora é colocar a casa no lugar e formar um time que consiga brigar por títulos ou, pelo menos, não assustar a torcida. É o mínimo.

Edição: Brasil de Fato (RJ)