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Lama de Brumadinho vira painel em prédio de SP homenageando trabalhadores mortos

Artista pintou mural de 800 m² inspirado na obra Operários de Tarsila do Amaral

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Foram utilizadas 250 quilos de lama para a pintura da obra - Foto: Pedro Stropasolas
Artista pintou mural de 800 m² inspirado na obra Operários de Tarsila do Amaral

Quando completou um ano do crime, a obra ficou pronta. No dia 25 de janeiro de 2019, o artista Mundano inaugurou o painel Operários de Brumadinho, feito a partir da lama tóxica que matou 271 pessoas no rompimento da barragem do Córrego do Feijão da Vale. 

“Quem aqui lembra de Mariana e Brumadinho? É um jeito de tatuar um prédio, o concreto, no meio do centro de São Paulo, esse centro financeiro, para mostrar e todo mundo lembrar que a mineração tem custo” diz Mundano para explicar da onde veio a inspiração de sua obra.

O painel de Mundano é uma releitura do quadro Operários de Tarsila do Amaral, de 1933. A inspiração casou bem com objetivo do painel: prestar uma homenagem aos trabalhadores de Brumadinho. 

São 22 rostos pintados com tinta à base da lama – de 250 quilos de terra foram feitos 270 de tinta. Nos olhos, o cansaço de quem busca cotidianamente a esperança pela Justiça, assim como os operários de Tarsila do Amaral, que carregam as olheiras da industrialização da década de 1930.

Na parte de baixo está o capacete com o símbolo da mineradora Vale S.A. Um pouco mais acima, um único rosto segura um olhar firme e um megafone na mão direita. Acima de todos, mostra-se a mineradora, impune,  pesando sobre os trabalhadores e cercada de poluição, refletida em um céu amarelado.

Assista ao vídeo do Brasil de Fato sobre o painel de Mudano

O painel pode ser visto do Mercado Público. Mundano explicou que fez questão que sua obra fosse feita em um local público. O artista defende que a arte deve ser democrática, e não elitizada.

"Se essa obra estivesse em um ambiente fechado, não teria o mesmo impacto. Para mim, a obra de arte tem isso: só faz sentido se estiver contribuindo para uma transformação, um legado e não apenas uma obra só decorativa. Acho que a arte da próxima década será ‘artivista’.”

Para realizar a obra, foi um ano inteiro de estudos, um mês de preparação e sete dias para a execução. Mundano teve o apoio de mais quatro artistas. O trabalho ficou pronto no aniversário de um ano do crime socioambiental de Brumadinho. A obra foi financiada pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo

 

Edição: Lucas Weber