Coluna

Milagre para todos os tamanhos

Imagem de perfil do Colunistaesd

Ouça o áudio:

Mouzar Benedito conta sobre um padre milagreiro em uma pequena cidade na Zona da Mata em Minas Gerais; foto do Parque Estadual Serra do Brigadeiro (MG) - Foto: Evandro Rodney/Imprensa MG
— O homem cura tudo! — garantia um viajante

— Milagre! Milagre!      

Continua após publicidade

Esse era um grito comum na igreja de uma pequena cidade da Zona da Mata, em Minas Gerais, onde um padre ganhou fama de milagreiro.

Foi há muitos e muitos anos, mas ainda tem gente que se lembra. A igreja virou um verdadeiro pátio dos milagres. Cada dia chegava mais gente à procura de solução para seus problemas de saúde.

A fama do padre milagreiro chegou até a cidade de Tombos, segundo me contou uma amiga de lá.

— O homem cura tudo! — garantia um viajante que passou pela cidade e contava ter visto uma montanha de muletas de ex-aleijados, milhares de óculos de ex-cegos, muitos ex-votos e fotografias de gente curada pelo padre.

Geraldo Magela, que vinha reclamando de um “incômodo” no pulmão, tomou a dianteira e organizou uma romaria. Logo arrumou um monte de gente que queria se curar de algum problema e lhe adiantou o dinheiro para alugar um ônibus.

Eram cegos, aleijados, mulheres que queriam engravidar, todo tipo de gente querendo curas milagrosas. Até um anão, o Joaquim Bertolino, conhecido como Quinca Anão, viu aí sua grande oportunidade.

Queria crescer, deixar de ser anão, e se inscreveu na romaria. Achou que o padre faria ele ficar grande de uma hora pra outra.

Muita gente entrou na lista do Geraldo Magela, e ele nem se preocupou com detalhes como a lotação do ônibus. Daí a confusão na hora da saída. Tibúrcio, o motorista, impôs a condição de só viajar gente sentada:

— Nós vamos pegar asfalto. Se a policia pegar passageiro de pé, prende o ônibus — ele disse.

Foi um desconsolo. Quem estava sentado, não se levantava de jeito nenhum.

 “Foi ao vento, perdeu o assento”, lembravam-se. Muita gente ameaçava bater no Geraldo Magela, que prometia devolver o dinheiro quando voltasse, mas muitos não aceitavam isso.

Houve quem tentasse argumentar que seu problema era mais grave ou urgente do que o de algumas pessoas que já tinham ocupado lugar no ônibus, e quem tentasse comprar um lugar...

O anão estava entre os que ficaram de fora. Estava desconsolado. Dona Vicentina se condoeu e gritou para o motorista:

— Seu Tibúrcio, deixa o Quinca Anão entrar. Ele é pequenininho, vai no meu colo.

O motorista até que estava topando. Quem não gostou foi o anão, que pôs as mãos na cintura e falou bravo:

— Ah, é? Ah, é? E como é que eu vou voltar?

 

Edição: Lucas Weber