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28 de maio: a redução da mortalidade materna ainda é um desafio

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Nem Rede Cegonha nem Rede Mãe Paranaense estão dando conta - Fiocruz
Infelizmente o número absoluto de óbitos volta a subir em 2018

A mortalidade materna e seu respectivo coeficiente é indicador da qualidade de vida e revela a qualidade da assistência à saúde prestada a uma população. Para Engelmann, em 1888, “...as práticas obstétricas de uma tribo ou nação indicam-lhe o grau de cultura, princípios morais e até a sua civilização”.

A falta da mulher e mãe no lar causa normalmente a desestruturação da família, senão até de uma população, como citado pela OPS/OMS (1993): “Uma morte materna afeta diretamente a um número grande de membros da família e da comunidade que depende dela. As mortes maternas, quando muitas, podem produzir graves consequências para as comunidades, as nações e a população.”

Reconhecendo a magnitude deste problema, no IV Encontro Internacional Mulher e Saúde, em 1984, em Amsterdam, Holanda, foi definido o 28 de maio como Dia Internacional de Luta/Ações pela Saúde da Mulher. “Em 1987 iniciamos a Campanha Mundial pela Saúde da Mulher e de Combate à Morbimortalidade Materna, que se consolidou a partir de 1990 como uma das estratégias coletivas de maior impacto político e social do movimento feminista, obrigando inclusive alguns governos a apoiar tais atividades.”

No Brasil, o Ministério da Saúde referendou o dia 28 de maio como Dia Nacional de Combate à Mortalidade Materna, para demonstrar o reconhecimento da necessidade de realizar ações amplas para reduzir a mortalidade materna.

O conhecimento desse indicador é indispensável para o planejamento e gerência das ações de saúde, em qualquer instância, sendo obtido por meio da análise das declarações de óbito e, se possível, de investigações da causa básica do óbito das mulheres em idade fértil. Os resultados do estudo desse coeficiente são de alta abrangência, fornecendo dados específicos da assistência pré-natal, ao parto e ao puerpério, sem deixar de lado questões como a gravidez indesejada, aborto e tantos outros itens.

Nessa abrangência, o coeficiente de mortalidade materna espelha a qualidade da assistência à vida reprodutiva dos cidadãos, e indiretamente, a concepção de seus dirigentes, especialmente no que diz respeito à assistência à saúde da mulher, comprovando-se por meio dos diferentes índices encontrados para países desenvolvidos e em desenvolvimento.

O estudo da mortalidade materna deve levar em conta aspectos bastante diversos que envolvem este tipo de evento. Os resultados encontrados são influenciados pela qualidade e cobertura dos dados disponíveis; pela qualidade da assistência prestada à gestação, ao parto e ao puerpério; bem como pelas características individuais em interação com o meio onde essas mulheres vivem. Embora seja evidente que as oportunidades de vida e os riscos de morte sejam diferentes para as diferentes pessoas, grupos sociais e raciais, não é tão simples expressar numericamente essas variações.

Estes parágrafos servem como introdução ao tema. Escrevi há uns 15 anos. De lá para cá passamos pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), agora repactuados em Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), Agenda 2030. No Brasil a Rede Cegonha, aqui no Paraná a Rede Mãe Paranaense e, com cerca de 92% das mortes maternas poderem ser evitadas, o Ministério da Saúde divulgou que, de 1990 a 2017, a mortalidade materna sofreu uma redução de 55%, entretanto o índice voltou a crescer, passando de 62,1 em 2013 para 64,5 óbitos maternos a cada 100 mil nascidos vivos, em 2017.

Com dados bem diferenciados entre as regiões, tendo a região norte índice de 88,9 para cada 100 mil nascidos vivos e a região sul 38,5, o que evidencia a qualidade da assistência a população. O estado do Paraná possuía a menor taxa, 31,7 por 100 mil nascidos vivos, infelizmente o número absoluto de óbitos volta a subir em 2018.

Qual o significado? Precisamos melhorar nossas políticas públicas/ ações pela saúde da mulher ainda em 2020. Nem Rede Cegonha nem Rede Mãe Paranaense estão dando conta.

 

TOTAL DE ÓBITOS MATERNOS NO PARANÁ – 2018 A 2020.

Ano do Óbito

Aborto

Obstétricas diretas

Obstétricas indiretas

Obstétricas tardia

Outras

Total

2018

5

39

15

22

1

82

2019

2

39

12

1

12

66

2020

0

11

2

3

1

17

Total

7

89

29

26

14

165

Fonte: TabNet – Paraná/ Site da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA/PR). Acesso em 20/05/2020.

 

Edição: Pedro Carrano