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Bolsonaro quer governar através do caos

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"Bolsonaro está aproveitando-se das consequências desastrosas da crise econômica que vive o Brasil, para apresentar-se como figura empática aos mais necessitados". - Marcello Casa Jr./Agência Brasil
A desinformação de como o Estado funciona ainda é a melhor arma de manipulação ideológica.

Para os últimos acontecimentos, acredito ser sugestivo trazer lições – nada convencionais - de Ilya Prigogine e o seu livro "As leis do Caos". Mesmo sendo um livro que trata sobre ciências exatas, ele aponta um pressuposto fundamental e que tem paralelo com a situação política neste momento: o caos é sempre a consequência de fatores de instabilidade. Partindo dessa assertiva, podemos compreender a maneira que Bolsonao tem conduzido sua estratégia neofascista. 
Na teoria do caos existe dois conceitos base: a irreversibilidade e probabilidade. De maneira metafórica, vou utilizá-los para  apontar como o governo bolsonarista abre janelas de oportunidade para continuar avançando e assegurando condições de governabilidade.
As diversas ações que estão sendo conduzidas por Bolsonaro comprovam sua perspicácia política, fruto de 28 anos no baixo clero. Ele tem convicção de dois pontos: I) que o caos ocasionado pela crise sanitária lhe dará margem para manobras institucionais- jurídicas e II) que a representação política das forças armadas no seu governo lhe autoriza a impor uma retórica belicosa. Sem isso, ele sabe que já estaria “fritado”. 
Mesmo com toda a narrativa de que as coisas não seriam como antes, que colocaria um fim a “velha política”, Bolsonaro vendo sua fragilização, iniciou um movimento de articulação com os partidos do centrão, a exemplo do PTB, PP, PSD, entre outros, distribuindo cargos e mais cargos. Somando os partidos que fazem parte do centrão, chega-se a um total de 220 deputados/as. Para quem não imaginava Bolsonaro mudar esse panorama, já que no início do mandato se colocava contra negociatas, ele mostrou-se extremamente reversível.  
Outro elemento que tem lhe ajudado na aproximação do centrão é a própria chantagem que Bolsonaro está fazendo às bancadas federais. Quanto mais ele dificulta a ajuda aos estados e ataca aos governadores, ele também fragiliza a relação entre deputados, senadores e governadores. Este atrito acaba beneficiando o governo, pois lhe garante força política para manobrar nas disputas internas. 
Muito provavelmente ele está apostando que essa composição de uma maioria parlamentar lhe favorecerá, para no momento mais adequado (quando o Brasil se tornar o novo epicentro da pandemia), e tendo a quantidade de votos necessários, ele possa aprovar algum mecanismo jurídico - parlamentar, como a Garantia da Lei e da Ordem, a Intervenção federal, o Estado de Sítio ou Estado de Defesa. Dessa forma, garantiria os atributos necessários para fechar o regime e legitimar para a sociedade sua “solução” autoritária.
Além dessa manobra em âmbito parlamentar, Bolsonaro está aproveitando-se das consequências desastrosas da crise econômica que vive o Brasil, para apresentar-se como figura empática aos mais necessitados. Quando ele vai às ruas dizer que o povo precisa trabalhar, que acha errado o povo ser prejudicado pela decisão dos governadores/as, ele se fortalece. A desinformação de como o Estado funciona ainda é a melhor arma de manipulação ideológica.  
Apesar da fissura na sua base social com a saída dos lavajatistas do seu governo, a probabilidade dele sair fortalecido ainda é grande. A depender da sua iniciativa política, ele pode ser decisivo para às 80 milhões de pessoas que segundo dados, necessitarão de auxílio emergencial no próximo período. Cuidemos, pois Bolsonaro está sabendo manejar o caos a seu favor!
 

Edição: Elen Carvalho