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Ivermectina? Só se for para tratar piolho

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O problema é que esta história de que a ivermectina funciona para Covid-19 surgiu em uma pesquisa na Austrália, onde a droga mostrou atividade em laboratório, mas com uma dose muito acima do que seria seguro para o ser humano - Volodymyr Hryshchenko
Para tratar piolhos a droga é uma excelente opção terapêutica. Para Covid-19, não tem ação alguma

No final da semana passada, o prefeito de Petrolina Miguel Coelho fez 2 anúncios referentes a medidas de combate à Covid-19 aqui no município. O primeiro deles foi sobre um novo período de 15 dias de quarentena mais rígida, com o fechamento do comércio, feiras e outros espaços públicos, a partir desta segunda-feira, dia 13/07. É uma medida acertada, pois está comprovada a efetividade destas ações para controle do crescimento da curva de casos e mortes por esta doença.

Mas houve também o anúncio do uso de uma droga chamada Ivermectina como medicação a ser utilizada no combate ao coronavírus no município. Segundo as notícias que circularam na imprensa, o prefeito teria dito que esta droga "ajuda a reduzir a carga viral" de uma pessoa contaminada. Este ponto nos deixou bastante intrigados porque não há absolutamente nada na literatura médica que comprove esta afirmação. Será que não há um corpo técnico que esteja junto ao prefeito para impedir que sejam divulgadas informações equivocadas como estas ao público de Petrolina?

Para quem não conhece, a ivermectina é um antiparasitário muito utilizado para o tratamento de piolhos e alguns outros parasitas em seres humanos. Apesar de ser um medicamento que age no sistema nervoso, não costuma causar problemas em seres humanos quando usado na dose recomendada.

O problema é que esta história de que a ivermectina funciona para Covid-19 surgiu em uma pesquisa na Austrália, onde a droga mostrou atividade em laboratório, mas com uma dose muito acima do que seria seguro para o ser humano. Outra pesquisa mostrou que, mesmo que funcionasse, para ter ação efetiva no corpo humano, a dose tomada teria que ser 17 vezes maior que a dose máxima permitida para humanos. Ou seja, não parece, nem de longe, uma boa idéia.

Já se sabe que as fake news causam graves problemas quando o assunto é saúde. Porém, mais preocupante ainda é quando isto parte de autoridades públicas. Seguimos na torcida para que apareça uma droga com resposta efetiva a Covid-19 o mais rápido possível. Mas o fato é que esta droga ainda não existe. Qualquer outra notícia nesta linha apenas atrapalha a ação mais efetiva até hoje para controle da pandemia: medidas de distanciamento e isolamento social.

Para tratar piolhos e sarna, a droga é uma excelente opção terapêutica. Para Covid-19, não tem ação alguma. Esta posição não é um princípio contra a ivermectina, mas a favor da ciência e da segurança das pessoas. É compreensível o medo diante uma doença nova e tão rápida, mas esse medo não pode ser maior que o risco de receitar um medicamento sem benefícios comprovados. O dinheiro gasto com este medicamento pode ser muito melhor aplicado em ações e insumos efetivos, como sedativos, máscaras, alimentação para população vulnerável e por aí vai.
 

Edição: Vanessa Gonzaga