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Um país, uma Nação à deriva

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O fascismo está à vista. Foi instalado o que se chama ‘DOPS do Bolsonaro’, (re)inaugurando o estado policial dos tempos da ditadura.
O fascismo está à vista. Foi instalado o que se chama ‘DOPS do Bolsonaro’, (re)inaugurando o estado policial dos tempos da ditadura. - Guilherme Santos
Hora de resistir, como sempre o povo brasileiro resistiu.

“Não adianta falar em vida, vida, vida, porque isolamento mata. Temos que enfrentar o problema de cabeça erguida. Lamentavelmente, vai morrer gente? Lamentavelmente, vai morrer gente. Não tem como evitar. Tem que pensar na economia. O objetivo do isolamento é não haver aglomerados na frente de hospitais, sem atendimento.” E o presidente da República, depois de falar, ergueu, tal como Hóstia, uma caixa do remédio hidroxicloroquina na frente de seus apoiadores, como se este remédio fosse a cura dos males da pandemia do coronavírus, o que é contestado pelas autoridades médicas do mundo inteiro.

Em qualquer país do mundo, se alguém dissesse que as palavras e o gesto acima são do presidente da República, haveria uma repulsa geral. E o presidente seria expulso do Palácio e do poder. ‘Lamentavelmente’, estas são frases e palavras do presidente da República Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro.

“Sabe quem está falando, seu policial analfabeto? Negro e arrogante!” São palavras do desembargador Eduardo de Almeida Prado Rocha para o guarda civil de Santos, que o abordou por estar andando na praia sem máscara, pedindo que a colocasse no rosto, como é recomendação para todas e todos que andam na rua em tempos de pandemia.

Em qualquer país do mundo, um desembargador que não respeita as leis seria afastado de suas funções e julgado, por desrespeito à lei, por preconceito e racismo.

“Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.” Foi o que disse o coronel Jarbas Passarinho, então ministro da Educação do presidente militar Costa e Silva, ao votar a favor da decretação do AI-5, em 1968. 

“O orçamento das Forças Armadas é de 3 vezes o do Fundeb. Qual a prioridade desse governo? Tá sobrando pra alguns e faltando pro povo. Para a educação, o governo não tem nem 3 ou 5 bilhões a mais.” Declarações do ex-ministro da Educação Fernando Haddad na Globo News, dia 19 de julho, sobre a proposta do governo federal de recursos para o Fundeb (Felizmente, a Câmara dos Deputados desconheceu a proposta e aprovou a continuidade e os recursos para o Fundeb).

Bilionários brasileiros enriqueceram R$ 176 bilhões durante a pandemia, aponta Oxfam. 42 bilionários passaram de US$ 123,1 bilhões para US$ 157,1 bilhões, mais US$ 34 bilhões, entre 18 de março e 12 de julho de 2020. Segundo Katia Maia, Secretária Executiva da Oxfam, “a covid-19 não é igual para todos. Enquanto a maioria da população se arrisca a ser contaminada para não perder o emprego, ou para comprar o alimento de sua família no dia seguinte, os bilionários brasileiros não têm com o que se preocupar”.

Quatro exemplos dos últimos dias do que está acontecendo no e com o Brasil. Um país, uma Nação à deriva? “Pela primeira vez, na história, o Brasil corre o risco de desmanchar-se como Nação”. “Fracassamos como nação?”, é a pergunta do jurista Lênio Streck.

E poder-se-ia falar de muito mais coisas que acontecem hoje no Brasil.

O fascismo está à vista. Foi instalado o que se chama ‘DOPS do Bolsonaro’, (re)inaugurando o estado policial dos tempos da ditadura.
Há violência policial sem freios, matando nas ruas e esquinas, especialmente jovens negras e negros, mulheres e os mais pobres entre os pobres. O crime organizado e os milicianos instalaram-se impunes nas periferias, `prendendo` o povo em suas casas, sem liberdade e sem autonomia.

A corrupção grassa em plena pandemia, atingindo diferentes governos estaduais, na compra de respiradores e aparelhos para enfrentar o coronavírus.

Foi aprovada a privatização da água e está em curso a privatização de estatais como a Petrobras, Eletrobras. O patrimônio do povo brasileiro sendo vendido a troco de banana. É o estado mínimo e o mercado livre e absoluto a pleno vapor. 

O genocídio indígena acontece a olhos vistos, a partir das políticas ou não políticas de defesa dos indígenas do governo federal, assim como de quilombolas e outras populações historicamente escravizadas.

O ódio e a intolerância tornaram-se arma do cotidiano e as fake news circulam livres e impunes pelas redes sociais.
As ameaças à Amazônia e ao meio ambiente (hora de passar a boiada, nas palavras do ministro) assombram e isolam o Brasil do resto do mundo.
A fome, a miséria e o desemprego voltaram ao Brasil, que está voltando ao Mapa da Fome, de onde saíra em 2014 por declaração da ONU.
A histórica desigualdade econômica e social brasileira, que tinha recuado na primeira década dos anos 2000, tornou-se de novo uma das maiores do mundo.

Quase 100 mil brasileiras e brasileiros morreram em poucos meses da pandemia. Não se criaram, especialmente por parte do governo federal, políticas públicas para salvar a vida do povo. O presidente da República zomba de quem se preocupa com a vida, ridiculariza os que defendem a dignidade do povo, diz que o isolamento social produz desemprego e arruína a economia.

A democracia está sob real risco, os direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores e dos mais pobres entre os pobres estão ameaçados, quando não liquidados. A soberania nacional está sendo desprezada e atirada no lixo.

As elites brasileiras, as Forças Armadas e os poderosos em geral nunca amaram o povo brasileiro, nunca defenderam a soberania de uma Nação, nunca respeitaram a democracia, quase sempre apoiadas pelos grandes meios de comunicação. Sempre agiram como escravocratas, como golpistas e como subservientes aos EUA e aos países centrais.

São tempos, pois, absolutamente perigosos esses de hoje. E imprevisíveis. Hora de resistir, como sempre o povo brasileiro resistiu. Mais que nunca, na rua e em todos os lugares, hora de luta, mobilização e unidade de todos os progressistas e democratas brasileiros: garantir a democracia, os direitos do povo, a soberania nacional. E confiar na sabedoria popular e na histórica capacidade de resistência do povo brasileiro.    

Edição: Marcelo Ferreira