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Papo Esportivo | Flamengo: futebol é contexto antes de qualquer coisa

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Se Domènec Torrent errou feio e errou rude no desastre diante do Atlético-GO, os jogadores também possuem uma considerável parcela de culpa - Divulgação/ Flamengo
Treinador espanhol tem sido apontado como o principal responsável pela ruína momentânea do Flamengo

A contratação do espanhol Domènec Torrent pelo Flamengo esteve cercada de expectativas. O substituto de Jorge Jesus foi auxiliar de Pep Guardiola durante vários anos e mostrava um vasto conhecimento de futebol nas suas entrevistas coletivas pelo New York City FC (clube dos Estados Unidos) e na sua chegada ao Fla. No entanto, a retórica e a teoria costumam ser bem diferentes da prática.

O primeiro jogo foi logo contra o Atlético-MG de Jorge Sampaoli. Time sem entrar em campo há 25 dias, jogadores quase sem ritmo algum e com o novo treinador chegando ao clube na semana da abertura do Brasileirão. Mesmo jogando melhor do que seu adversário em alguns momentos, o Flamengo perdeu por 1 a 0 com um gol contra de Filipe Luís. A partida do último domingo (9), no entanto, também acabaria marcada pela utilização de cinco atacantes e por substituições que soaram esquisitas para muita gente.

O segundo jogo, no entanto, conseguiu ser ainda pior.

O Flamengo simplesmente foi massacrado pelo Atlético Goianiense nesta quarta-feira (12). A derrota por 3 a 0 para o simpático Dragão saiu até barato para os comandados de Domènec Torrent. Primeiro pela escalação de Rodrigo Caio na lateral (posição que não é estranha para ele, mas onde não se sente nem um pouco confortável). E depois pela clara pasmaceira de toda a equipe rubro-negra. O argumento da falta de ritmo também caiu por terra a partir do momento em que o Atlético-GO estava há mais de cinco meses sem realizar uma partida oficial.

Não é por acaso que as redes sociais já foram tomadas por protestos, impropérios e xingamentos dirigidos ao técnico Domènec Torrent. Torcedores se perguntam onde foi parar o time que amassava os adversários em 2019 e no início de 2020 e apontam o treinador espanhol como o principal responsável pela ruína momentânea do Flamengo.

Confesso que assisti às duas partidas meio atônito e incrédulo com o que via dentro de  campo. É como se os meses com Jorge Jesus no comando da equipe tivesse sido um sonho e nós fôssemos acordados pelo banho frio de uma realidade bem doída. Ao mesmo tempo, uma frase do analista tático Téo Benjamin não saiu da minha cabeça nos últimos dias.

Futebol é contexto. E ele precisa ser levado em consideração nesse caso.

Vamos lembrar que o velho e rude esporte bretão é tão cheio de detalhes que cada decisão precisa ser tomada levando-se em consideração uma série de situações como as que vamos colocar agora.

Se Domènec Torrent errou feio e errou rude no desastre diante do Atlético-GO, os jogadores também possuem uma considerável parcela de culpa. De acordo com o jornalista Mauro Cézar Pereira (da ESPN e do UOL), Dome e sua comissão técnica tomaram um susto com as condições físicas dos atletas quando chegaram ao Fla. E pior: o clube não fazia os registros físicos do elenco há pelo menos um mês. Por conta disso, Dome não pôde realizar mais do que um treinamento tático com o grupo. O tempo restante teve que ser dedicado à recuperação física de todo o elenco.

Isso justifica a escalação de Rodrigo Caio na lateral? Não, de forma alguma. Mas apenas explica o contexto que levou Dome a escolher a escalação que mandou pro campo na quarta (12). Rafinha vinha de lesão e recebeu proposta do Olympiacos da Grécia. Arrascaeta está mal fisicamente. Bruno Henrique não é o mesmo desde a lesão sofrida contra o Independiente del Valle pela Recopa Sul-Americana. Éverton Ribeiro parece perdido em campo. Fora o estado de nervos de todo o elenco rubro-negro ao final da partida contra o Atlético-GO.

Vale ainda lembrar que o meia Gustavo Ferrareis (autor de um belíssimo gol na vitória do Dragão sobre o Fla), afirmou, em entrevista ao canal FOX Sports, que os jogadores perceberam que Gabigol, Willian Arão, Gérson e companhia pareciam não saber o que fazer durante a partida, dada a confusão que se instalou na equipe carioca por problemas provocados pelo bola fora da diretoria e do departamento de futebol na preparação física dos atletas. Ao mesmo tempo, Ferrareis também destacou que o Fla não estava bem fisicamente. Pois é.

Toda essa confusão tem um contexto que precisa ser levado em consideração em todas as críticas dirigidas a Domènec Torrent.

Pelo menos nesse primeiro momento. Não que o treinador catalão seja completamente inocente. Bem longe disso. Ainda mais com as mexidas erradas nas duas últimas partidas. No entanto, cada um dentro do clube tem a sua parcela de responsabilidade e é altamente necessário que isso seja dito. Ainda mais quando a diretoria largou o Departamento de Futebol ao “Deus dará” após a saída de Jorge Jesus.

Ao que parece, os jogadores pediram uma reunião com Domènec Torrent para debater as mudanças no time. Fato totalmente positivo e já esperado de um elenco acostumado a vitórias. O que ninguém me explica é a pasmaceira das últimas partidas. Algo aconteceu ali nos bastidores. Isso é nítido.

Se essa reunião vai surtir efeitos já na partida contra o Coritiba, só saberemos assim que a bola rolar. Certo é que o clima no Flamengo anda bem esquisito. Não somente por causa do treinador e das suas tentativas de deixar a sua “marca” na equipe, mas por todo um contexto que ajuda a entender bem os motivos de cada escolha. E o tal do “contexto” precisa ser levado em consideração no velho e rude esporte bretão.

Edição: Mariana Pitasse