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Alguma luz no fim do túnel

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Bolívia, manifestação indígena
Áustria, Nova Zelândia e Bolívia e seus resultados eleitorais são os sinais mais claros de que algo está mudando - Créditos da foto: AFP
O engajamento de cada uma e cada um na eleição de 15 de novembro é decisivo, urgente e necessário

Converso com pessoas aqui e ali, em meio ao confinamento, leio opiniões, analiso pesquisas eleitorais. Cheguei à conclusão, em 23 de outubro de 2020, que há luz no fim do túnel, finalmente.

Áustria, Nova Zelândia e Bolívia e seus resultados eleitorais são os sinais mais claros de que algo está mudando. O ultraneoliberalismo reinante já não é o dono do pedaço, sem reação, como há algum tempo. E no horizonte estão as eleições americanas e as do Brasil, que poderão dar um quadro ainda mais positivo sobre o que estou vendo. Estou/estarei enganado, eu que andava pessimista, ou realista, nos últimos tempos?

Não é possível, por óbvio, cantar vitória antes do tempo. Mas dá para respirar. Eleições não mudam um país, muito menos o mundo. Mas em determinadas circunstâncias da história, seu peso político e influência vão muito além do mero voto e do circunstancial resultado eleitoral. Era o caso da luta pelas Diretas-Já, da eleição de deputados constituintes e da primeira eleição presidencial, por exemplo, nos anos 1980. E as eleições de 2002, depois de mais de uma década de neoliberalismo. Ou hoje, no ultraneoliberalismo dominante, é o caso das eleições dos EUA, as do Brasil, mesmo sendo municipais. Ou as vitórias do campo progressista em outros países, especialmente a vitória de Lucho Arce e do aimara Dadi Choquehuanca, de Evo Morales, do povo e dos indígenas bolivianos.

As últimas décadas na América Latina, em quase todos os países, foram de democracia e participação popular, de Fóruns Sociais Mundiais falando de ‘um outro mundo possível’, de governos progressistas, democrático-populares, de esquerda. Como nunca antes, os direitos de trabalhadores e trabalhadoras foram ampliados, a soberania nacional respeitada, a Pátria Grande e a Pachamama se afirmando soberanas e democráticas.

As eleições municipais deste ano no Brasil têm, pois, neste contexto, peso e importância especiais, além do normal. A direita conservadora e fascista se achava, ou ainda se acha, dona do pedaço. Parecia às vezes que não havia oposição, ou que os avanços democráticos dos últimos anos tinham se esfarelado definitivamente. Está sendo provado que não é assim. O povo brasileiro está reagindo, dizendo e mostrando que há vida, que há futuro, que há esperança.

Portanto, o engajamento de cada uma e cada um na eleição de 15 de novembro é decisivo, urgente e necessário, seja nas capitais e cidades maiores, seja nos pequenos municípios. Cada pequeno, médio ou grande espaço conquistado, com mandatos e gestões populares, com diálogo, com projetos de mudança, adquire conotação especial, senão histórica. São vozes individuais e coletivas que denunciam o ódio, a intolerância e o preconceito. São eleitoras e eleitores dizendo não à perda de direitos e dizendo sim à vida. É a comunidade cobrando processos democráticos e dizendo que a soberania nacional não está à venda. É a sociedade dizendo que a pandemia não é apenas uma gripezinha. É o povo brasileiro apoiando a democracia.

A militância está convocada. Para, senão ir às ruas, devidos aos cuidados com a saúde, ou ir com todas as precauções, envolver-se do jeito possível nas candidaturas que enfrentam o ódio, a intolerância, o desprezo com os mais pobres, a perda de direitos, com a violência. É preciso conversar, explicar para as pessoas o que está em jogo, a importância de ir votar e de eleger prefeitas/os e vereadoras/es com compromisso com o povo, com a saúde, com a educação, com a agricultura familiar e camponesa, com alimentação adequada e saudável, com políticas públicas, com o meio ambiente e o cuidado com a Casa Comum. Tempo e oportunidade de disputa de projetos, de diferentes visões de mundo e da própria política e de como garantir a participação social e popular na gestão dos municípios brasileiros.

Poderá ser um tempo de aprendizado, de fazer com que a pedagogia libertadora e da indignação de Paulo Freire seja reinventada no cotidiano e na vida política brasileira. E no segundo turno, onde houver, construir a mais ampla unidade contra o fascismo e a ditadura disfarçada.

Há espaço para chegar em almas, corações e mentes. Faltam três semanas para o dia 15 de novembro. Poderá ser uma nova proclamação da República, ou, em 2020, uma proclamação da República com democracia, voz popular e soberania.

Edição: Katia Marko