ASTEROIDE BENNU

Asteroides, vermífugos e vacinas comunistas... Tão alto no céu e tão fundo no poço.

No último dia 20 a agência espacial dos EUA colheu amostras de rochas do asteroide Bennu distante 320 milhões de km

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asteroide bennu
Bennu faz parte do nosso Sistema Solar e se formou nos seus primórdios, há cerca de 4,5 bilhões de anos - Créditos: Reprodução
Se somos capazes de ir tão longe no espaço, sem dúvida também somos capazes disso por aqui

O capitalismo, modo como a sociedade se organiza hoje, é hiper contraditório. Ao mesmo tempo em que é um imenso gerador de crises, desigualdade e sofrimento, é capaz de desenvolver certas capacidades humanas a níveis nunca antes imaginados. Essa convivência entre progresso e atraso, tão típica desse sistema, permite situações que beiram o ridículo.

No último dia 20, a agência espacial dos EUA realizou um feito científico impressionante. Colheu amostras de rochas do asteroide Bennu. Vejamos a dificuldade imensa do feito. Bennu faz parte do nosso Sistema Solar e se formou nos seus primórdios, há cerca de 4,5 bilhões de anos.

Com uma composição rochosa rica em carbono, mede cerca de 500 metros de diâmetro. Pra se ter uma ideia é algo quase duas vezes maior que o Mineirão. E ele está bem longe daqui, a mais de 320 milhões de km. Se você partisse hoje em seu carro, em uma estrada imaginária pra lá, chegaria por volta do ano 2385...

Imagine o trabalho preciso que é lançar uma sonda daqui da Terra até algo tão distante, colher amostras de sua superfície e voltar pra casa. Pois é esse o tipo de proeza que a equipe de cientistas realizou.

Em setembro de 2016, a sonda OSIRIS-REx foi lançada. Viajou pelo espaço até chegar ao asteroide em 2018. De lá pra cá, ela orbita a uma distância de 20 km de Bennu, de onde realiza inúmeros estudos sobre sua estrutura.

E nao dia 20 de outubro o momento ápice da missão chegou. A sonda se aproximou da superfície de Bennu e, ao tocá-la rapidamente, colheu amostras de suas rochas. Se tudo der certo, a sonda então iniciará sua viagem de volta, com chegada prevista para 2023.

Esse tipo de pesquisa pode nos ajudar a entender a formação do sistema solar, da Terra e até da vida aqui, uma vez que a composição química de Bennu é rica em elementos como os que deram origem aos seres vivos. Além disso, por ser um asteroide com risco de colisão com a Terra (o que pode ocorrer lá pelo ano 2170), estudá-lo nos ajuda a prever meios de impedir tal catástrofe.

Pois bem. Nos mesmos dias em que isso tudo acontecia, o governo Bolsonaro apresentava dados falsos para alegar que um vermífugo é capaz de combater a covid-19; e criava uma irresponsável confusão em relação à compra de vacinas chinesas para o Brasil. E o país chegava à triste marca de 155 mil vidas perdidas na pandemia.

Nosso desafio é este. Romper com o atraso e reorganizar a sociedade em marcos que possibilitem o fim da desigualdade e o pleno desenvolvimento das capacidades humanas. Se somos capazes de ir tão longe no espaço, sem dúvida também somos capazes disso por aqui.

Um abraço e até a próxima!

Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
 

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Edição: Elis Almeida