Antes da Teoria Microbiana tínhamos explicações mágicas para as causas de uma enfermidade
Sou professor de biologia e divulgador científico. Para mim, é impossível não pensar no caráter pedagógico que esta pandemia tem. Ao longo do ano, me peguei várias vezes pensando em como serão as aulas no futuro. Trabalhar com os estudantes assuntos como saúde pública, microrganismos ou ecologia será mais fácil ou mais difícil daqui para frente?
Por exemplo, nesses meses, quanto aprendemos sobre os vírus! Sua estrutura e tamanho, como se disseminam, se reproduzem e evoluem. Vimos que algo minúsculo, um punhadinho de moléculas orgânicas, ao invadir nossa célula a usa para criar cópias de si. Eis a forma de vida mais simples, antiga e numerosa do planeta. E muito bem adaptada após mais de 3,5 bilhões de anos.
Também tivemos a chance de entender que grande parte das doenças ocorre quando outro ser vivo invade o nosso organismo. No caso da covid-19 ou de outras viroses respiratórias (como gripes e resfriados) não tem nada a ver com “pegar friagem” ou andar desagasalhado, e sim com nossa higiene pessoal.
Pudemos compreender que temos um sistema imunológico que nos defende, que ele tem uma memória e que ela pode ser estimulada por uma vacina
Isso parece algo óbvio, mas a chamada Teoria Microbiana, que explica o surgimento de doenças, foi uma das grandes contribuições da ciência para a humanidade. Antes dela tínhamos explicações muito mais mágicas para as causas de uma enfermidade.
Assim, pudemos aprender que lavar as mãos e evitar aglomerações é muito mais eficaz para se evitar essas doenças do que se agasalhar ou ingerir o alimento milagroso A ou B.
Também pudemos, de uma vez por todas, aprender o quão importante são as vacinas. Compreender que temos um sistema imunológico que nos defende, que ele tem uma memória e que ela pode ser estimulada por uma vacina é algo sensacional.
Outro importante aprendizado é sobre como as doenças evoluem em pessoas diferentes. Algo mortal para alguns pode não passar de um mal-estar para outros. Tudo depende da nossa história de vida e de nossa genética.
E sobre tratamentos, vimos que não é porque algo parece funcionar em uma pessoa que isso seja realmente eficaz. Temos que confiar mais na ciência! Só a partir de testes repetidos e controlados é que podemos aceitar algo como tratamento. Nossa experiência pessoal e nossos sentidos são importantes, mas insuficientes para esse tipo de afirmação.
E você, o que acha que podemos aprender mais sobre ciência com a pandemia? Escreve para a gente e nos conte!
Um abraço e até a próxima!
Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
Edição: Elis Almeida