Minas Gerais

SEGUNDO TURNO

"O que emerge desta eleição é uma esquerda com rosto de mulher" afirma Margarida

Ex-reitora da UFJF, Margarida Salomão, disputa a prefeitura do quarto maior município mineiro

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
Margarida Salomão
"Temos que encontrar localmente soluções para os problemas da cidade, através de uma gestão eficaz" - Créditos: Reprodução

O segundo turno em Juiz de Fora será disputado entre a deputada federal Maragarida Salomão (PT), ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e o empresário Wilson Rezato. Se vencer a disputa, Margarida pode se tornar a primeira mulher a governar o município da Zona da Mata mineira, com a quarta maior população do estado.

Em entrevista ao Brasil de Fato, a parlamentar comenta os desafios de sua candidatura e analisa o cenário político estadual e nacional. Margarida defende que é possível, por meio de outro modelo de desenvolvimento de Juiz de Fora, enfrentar a crise sanitária, econômica e social que afeta as cidades brasileiras.

Brasil de Fato - Qual o seu programa para enfrentar a covid-19, o desemprego e a fome em Juiz de Fora? É possível combater essa crise tendo um governo federal que atua para propagar o vírus e reduz o auxílio emergencial pela metade?

Margarida Salomão - Essas questões são interdependentes e exigem, de qualquer gestor, a capacidade de liderar uma articulação de diferentes secretarias e forças da cidade para resolvê-los. Apesar da inabilidade do governo federal em criar propostas e soluções para a crise, acredito que, na cidade, consigamos construir alternativas que ajude a resolvê-los.

É necessário adotar medidas cientificamente comprovadas para coibir a propagação do coronavírus, como algumas cidades no Brasil mostraram ser eficazes e efetivas – testagem suficiente, identificação e monitoramento dos casos, territorialização das ações, medidas de distanciamento social, dentre outras.

Prefeitura tem como agir para enfrentar desemprego e trabalho informal 

Esse debate nos traz à questão do desemprego, mas também dos trabalhadores informais, gente que hoje está no corre para garantir alguma renda. A prefeitura tem como agir, incentivando cadeias locais, comprando do pequeno produtor, investindo na economia solidária.

Há ainda de cuidar de quem está em situação de vulnerabilidade, por vezes em situação de rua. Assim que assumir a prefeitura, vou adotar medidas rápidas e efetivas para esse segmento populacional.

De imediato, colocando o aparelho público para garantir condições mínimas de higiene, como banho e lavagem de roupas. De modo mais geral, mapeando no número de famílias e pessoas nessas condições, para que possamos criar políticas específicas para esses grupos, de combate à fome e a miséria.

Neste momento, o governo Bolsonaro promove uma ofensiva contra o serviço público, por meio da PEC 32 (Reforma Administrativa) e da PEC 186 (PEC Emergencial). Há também o desmonte de estatais como a Cemig e a Petrobras, pelos governos Zema e Bolsonaro, e das universidades públicas. Essas pautas são nacionais, mas afetam diretamente os municípios. O que os prefeitos podem fazer?

O desmonte das estatais afeta a autonomia dos estados e municípios na busca por soluções efetivas para seus problemas. Haja vista a questão atual do “apagão” no Amapá, cuja responsabilidade é de uma empresa privada, que passou a cuidar do fornecimento de energia do estado depois de ser privatizada.

O que eu tenho defendido é que temos que encontrar localmente soluções para os problemas da cidade, através de uma gestão eficaz, inovadora, que incorpore o uso de tecnologias para facilitar os trâmites e resoluções de demandas e que encontre também, no município, formas de garantir autonomia e independência no fornecimento de direitos básicos e essenciais a qualquer cidadão.

Desmonte das estatais afeta estados e municípios na solução dos problemas

De todo modo, o Consórcio do Nordeste pode nos servir de inspiração para uma articulação mais forte entre municípios, de modo a conjuntamente intervir em favor de pautas como a defesa do serviço público.

Com as chuvas fortes neste ano, a população das cidades mineiras se vê às voltas com alagamentos e também perdas de moradia. Que reforma urbana pode dar conta desse problema?

Esse é um problema histórico. As cidades, e Juiz de Fora especialmente, cresceram de forma desordenada, tanto geograficamente quanto para o alto, através de uma verticalização intensa, e que não foi acompanhada por um crescimento no investimento de infraestrutura de drenagem, escoamento e tratamento de esgoto e água das chuvas.

Temos uma agenda antenada com o que há de mais inovador em gestões ecologicamente responsáveis e também responsável com esses problemas estruturais de água e esgoto – que muitas vezes não conseguem tanta atenção do gestor público, por não serem obras que seja possível colocar uma “placa”.

Mas é preciso pensar num outro modelo de crescimento e desenvolvimento da cidade, que leve todas essas pautas em consideração. É o que estamos propondo para Juiz de Fora.

Em 2016, o PT perdeu 60% das prefeituras que governava naquela época. Houve uma leve recuperação nestas eleições, mas o partido e a esquerda, como um todo, ainda estão muito aquém da posição conquistada durante os governos Lula e Dilma. Essa redução é uma consequência do golpe?

O golpe de 2016, por si só, é a expressão de uma articulação política de clara face antipopular, expressa principalmente contra o PT e os governos Lula e Dilma. O fato é que ainda pagamos por anos de demonização da política, liderada por partidos e figuras públicas conservadoras, implementada pela Lava Jato e outros setores do Ministério Público, e reverberada pela mídia.

Temos uma agenda antenada com gestões ecologicamente responsáveis

O que vivemos em 2020 ainda reflete quase uma década de deterioração do ambiente democrático do país, mas também aponta para um novo amanhã, dada a demonstração de força de partidos e figuras de esquerda, especialmente a ascensão de novas lideranças, boa parte delas mulheres, jovens, negras.

As duas candidatas do PT com chances de vitória em cidades mineiras das mais populosas são Margarida Salomão e Marília Campos. Qual o significado dessas candidaturas de mulheres para a luta política em Minas e no Brasil?

Isso tudo demonstra que a esquerda segue forte em Minas. Somos relevantes em muitas cidades, como em Teófilo Otoni. Elegemos tantas vereadoras Minas afora. Macaé e a Coletiva com Sônia em BH, Moara em Contagem, Laiz em Juiz de Fora, Dandara em Uberlândia. Agora, duas mulheres com chances reais de eleição em duas das maiores cidades do estado. O que emerge dessa eleição é uma esquerda com rosto de mulher, rosto negro, de resiliência e empatia.


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Edição: Elis Almeida