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Pacote ‘keynesiano’ de Biden: Uma corrida ilusionista contra o tempo?

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A vitória de Biden, um candidato da ala conservadora dos Democratas, foi possível graças à mobilização dos setores mais progressistas e à esquerda dentro e fora do Partido Democrata - Fotos Públicas
A nação imperialista é atravessada por um conflito sem precedentes

O pacote de estímulos para a retomada da economia norte-americana apresentado pelo presidente eleito dos Estados Unidos Joe Biden, na noite do dia 14 de janeiro, é uma tentativa de resposta para a profunda crise econômica, institucional e sanitária em curso no principal país imperialista, que também é sacudido por uma forte polarização política e social.

O pacote de 1,9 trilhão de dólares representa um improvisado giro de tipo keynesiano no país do Tio Sam e foi recebido com frieza e hostilidade por setores do mercado financeiro de Wall Street. Uma análise do plano indica um esforço no sentido de expansão da demanda interna, com a injeção direta de recursos no bolso da população – mais da metade do montante do pacote é destinado ao auxílio direto das famílias, dos trabalhadores e das regiões mais deprimidas pela crise econômica.

Entre as medidas anunciadas por Biden para enfrentar a recessão na economia, e o estrago causado pelo negacionismo do governo Trump no combate ao coronavírus, que já levou a vida de quase 400 mil norte-americanos, estão a promessa de um auxílio de 1.400 dólares para as famílias da classe trabalhadora, a ampliação do seguro-desemprego de 300 para 400 dólares por semana até o mês de setembro, a concessão de licenças remuneradas para os trabalhadores contaminados pela Covid-19 e um plano nacional de vacinação com o custo estimado em 400 bilhões de dólares (2,1 trilhões de reais) para imunizar 100 milhões de pessoas em cem dias.

Além disso, o pacote apresenta a proposta de dobrar o salário mínimo, uma medida que talvez encontre maior resistência entre os congressistas, segundo avaliação de economistas. O rol de medidas destina ainda 440 bilhões (2,3 trilhões de reais) para apoiar diretamente a recuperação de pequenas e médias empresas.

Em seu pronunciamento Biden cogitou que pretende apresentar um projeto de reativação da indústria estadunidense no mês de fevereiro. “Espero trabalhar com todos os partidos na Câmara para recuperar os Estados Unidos. Imaginem o futuro: feito nos Estados Unidos, fabricado totalmente nos EUA por [trabalhadores] americanos. Compraremos produtos americanos, sustentando milhões de empregos na indústria dos EUA”, prometeu. Vale lembrar que o futuro governo tem as demandas permanentes do complexo militar-industrial, um fator de pressão para a drenagem de bilhões do orçamento a favor dos gastos na indústria armamentista e militar.

No plano político, o pacote de Biden aposta no efeito de uma contenção da arremetida de Donald Trump contra o seu governo, esvaziando os apelos dos setores mais extremistas da direita republicana – que encontram ressonância entre segmentos da classe trabalhadora branca desempregada e da classe média rural empobrecida.

Com a posse marcada para o dia 20, Biden tem enormes desafios também no front externo, a começar sobre como vai conduzir a relação geopolítica e comercial com a China, um dos contenciosos herdados da “Era Trump”. Na conturbada agenda da política internacional terá que desmontar – ou manter – as armadilhas acionadas no apagar das luzes pelo governo trumpista : Sanções renovadas contra o Irã e a inclusão de Cuba na lista de países que supostamente apoiam o terrorismo.

A grande questão de fundo reside na capacidade do governo Biden-Harris de unificar o país em torno de um projeto único: A nação imperialista é atravessada por um conflito sem precedentes, que divide as diversas frações da classe dominante e se estende de forma generalizada entre a população -, que nutre sentimentos de rancor e revolta crescente contra o establishment político sediado em Washington.

Resta saber o alcance e a consistência das medidas desse esquálido “New Deal” democrata na vida real da população. Ou será mais uma corrida ilusionista contra o tempo para segurar o processo de decomposição e decadência do imperialismo norte-americano. Pois a crise que engolfa os Estados Unidos é mais uma expressão da agonia do capitalismo em seu atual estágio parasitário, cada vez mais, concentrador, predador e excludente.

Edição: Pedro Carrano