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Crônica | Vovó Delina é gente fina!

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Sá e Guarabyra
Ouviu no rádio que haveria um show do Sá e Guarabyra, no Teatro da Cidade, em Belo Horizonte. E não deu mais sossego! - Créditos da foto: Divulgação
Sorte daqueles que têm lembranças e um lugar para retornar

Sorte daqueles que têm lembranças e um lugar para retornar. Esses são felizes e nem sabem. E falando em lembranças, lembrei-me de avó. Dona Adelina se dizia mulher do batuque. Isso mesmo, mulher do batuque. E batuques dos bãos. Pra ela, batuque era sinônimo de música boa. Gostava do Gilberto Gil, da Gal, do Cartola, do Michael Jackson, Sá e Guarabira, Rubinho do Vale, Lô Borges e muitos outros.

Tinha gosto a danada. Summertime era uma de suas músicas prediletas. Ela pedia para colocar na vitrola que tínhamos na sala de casa. Era uma pessoa de hábitos e de uma sabedoria ímpar, que trouxe do Vale do Jequitinhonha, “lugar de gente que nasce pra vencer na vida”. Ela atravessou todos os desafios e criou seus próprios caminhos.

Um belo dia ela fez um pedido, desses em cima da hora. Ouviu no rádio que haveria um show do Sá e Guarabyra, no Teatro da Cidade, em Belo Horizonte. E não deu mais sossego!

Mais será que ainda tinha ingresso pro show? Era um sábado de primavera, com céu azul bonina, ruas com gente pra todo lado, fumaça de churrasco, rock, samba e rap rolando nas casas do bairro. E lá fui eu atrás dos ingressos.

Era uma pessoa de de uma sabedoria ímpar, que trouxe do Vale do Jequitinhonha

Enfim, consegui! E como ela ficou feliz. Nem sabia a saga que foi pra conseguir essas duas entradas.

Colocou a melhor roupa, botou perfume e lembrou-se da sua mãe, lá no Vale do Jequitinhonha, quando tinha festas populares e batuque bão. Ela era pura alegria. Estava em êxtase.

Chegamos ao teatro, que estava lotado. Ela nem se incomodou, ficou olhando maravilhada pro grande saguão de entrada. E dizia pra mim: “Hoje vai ter batuque do bão”.

Começa o show. Seu olhar estava vidrado em cada acorde, em cada melodia. Batia palmas, cantava junto. Ela não se continha. Que felicidade! Quanta alegria!

Na oitava ou nona música viria um acústico, voz e violão. Uma música mais intimista, uma melodia que falava ao coração. A música requeria um silêncio de todos no teatro. Foi quando minha avó Adelina começou a tossir. Isto mesmo! A tossir alto, a tossir continuamente. E as pessoas começaram a virar em direção à tosse, para tentar visualizar aquela pessoa, aquele incômodo…

O show prosseguiu e foi um belíssimo espetáculo.

Estávamos de saída, quando uma pessoa da organização do evento veio até nós e disse que o Sá e o Guarabira gostariam de conhecer minha avó Adelina. No início ela não entendeu, depois não continha em si de tanta felicidade. 

E foi falando, falando e gesticulando até o camarim. Tirou foto, ganhou beijos, abraços, autógrafos. Aí o Sá perguntou:

- A senhora gostou do nosso show?

Ela parou, pensou, respirou fundo, viu que todos estavam olhando pra ela, deu um belo sorriso e disse:

- Gostei muito. Seus batuques são muito bão!

Eles sorriram e ela também. Vovó Delina é gente fina!

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.


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Edição: Elis Almeida