Rio Grande do Sul

Coluna

Um Outro Mundo Possível - Fórum Social Mundial 20 anos

Imagem de perfil do Colunistaesd
Mil atividades, debates, diálogos acontecem na semana de 24 a 31 de janeiro de 2021 durante o Fórum Social Mundial virtual - Divulgação
Bandeiras de luta: Vacinação Já! Auxílio Emergencial e Emprego Já! Fora Bolsonaro Já!

Vinte anos depois do primeiro Fórum Social Mundial em 2001, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, em contraposição ao Fórum Econômico de Davos, do projeto neoliberal do grande capital, a pergunta pode ser, ou continua sendo: Um outro mundo é possível?

Porto Alegre e o Rio Grande do Sul acabaram sendo o território do primeiro Fórum Social Mundial porque aí floresceu, a partir de 1989, e continuava florescendo em 2001, a participação popular nos governos populares locais, através do Orçamento Participativo: o povo participava da construção do orçamento público, decidia para onde ia o dinheiro que era de todos, em diálogo com o governo construía e decidia políticas públicas. Florescia uma nova forma de fazer política, com menos desigualdade, com mais justiça social, com vida melhor para todas e todos, especialmente os mais pobres, trabalhadoras e trabalhadores, moradoras e moradores da periferia, e com democracia em todos os poros da sociedade.

Isso nunca tinha acontecido na história do Brasil, e começou a se espalhar pelo resto do país, com mais governos populares assumindo o Orçamento Participativo, e se espraiava pela América Latina, com governos populares e progressistas. A vitória de Lula, em 2002, veio coroar esse período de protagonismo popular, soberania e democracia. 

20 anos se passaram. Em 2016, um golpe ilegítimo e antidemocrático e o impeachment da presidenta Dilma Rousseff interromperam este tempo de luz e esperança, não só no Brasil, com reflexos na América Latina e outros lugares do mundo. As elites capitalistas e escravocratas brasileiras não suportaram o exercício da liberdade e a força das e dos que nunca tiveram vez, voz e direitos. Resolveram, mais uma vez, romper com a democracia, como já tinham feito no Brasil em 1964, de novo com as bênçãos das Forças Armadas, tal como aconteceu em diferentes países latino-americanos e caribenhos ao longo do tempo e da história.  

Estamos em 2021. O mundo está em crise. Não só pela pandemia do coronavírus, mas também porque a desigualdade econômica cresceu violentamente, as emergências climáticas ameaçam a humanidade, as ditaduras, reais ou disfarçadas, estão de volta, a democracia está ameaçada, a soberania dos povos e nações está em perigo.

Há outras grandes mudanças. Pela primeira vez, um FSM é totalmente virtual, por causa da pandemia. Ao mesmo tempo, os donos da internet e das redes sociais são também donos das vidas, donos do poder e donos do mundo. Vasculham tudo, sabem tudo de todos, ganham rios de dinheiro, dominam as democracias, como se viu nas eleições presidenciais brasileiras de 2018, entre outras eleições, como a de Porto Alegre em 2020, quando as fake news a serviço da direita foram vencedoras, à base da mentira, da calúnia, das inverdades e do controle de corações e mentes.

Que fazer? Como ainda pensar num outro mundo possível, e construí-lo? Há luz no horizonte ou no fim do túnel?

Mil atividades, debates, diálogos acontecem na semana de 24 a 31 de janeiro de 2021. Milhares de pessoas, educadoras e educadores, lutadoras e lutadores, militantes, gente de todas as latitudes participam, ultrapassando fronteiras, e preparando o Fórum Social do México em 2022.

Mas uma atividade em 26 de janeiro, embora não diretamente ligada ao FSM 2021, chamou a atenção, depois das grandes carreatas acontecidas em todo Brasil no domingo 24 de janeiro, maiores que o esperado, pelo Fora Bolsonaro e por democracia.

A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo convocaram uma Plenária nacional de Organização das Lutas populares. Mais de 400 participantes: participantes de todos os partidos progressistas e de esquerda, todas as Centrais Sindicais, os movimentos sociais e populares mais importantes do país, representantes de diferentes igrejas e religiões, entre outras representações nacionais. E foram assumidas por todas e todos 3 bandeiras de luta: Vacinação Já! Auxílio Emergencial e Emprego Já! Fora Bolsonaro Já!

A Plenária acordou e estabeleceu um calendário comum de lutas e mobilizações até 8 de março, Dia Internacional da Mulher: carreatas e bicicleatas no domingo, 31 de janeiro; 1 de fevereiro, data da eleição no Congresso Nacional, Dia Nacional de Luta; 6 de fevereiro, retomada das iniciativas de solidariedade; no carnaval, 15 e 16 de fevereiro, manifestações políticas, agitação e propaganda; 21 de fevereiro, supercarreata nacional de mobilização e protesto.

Tudo isso vai acontecer incorporando a celebração do centenário de Paulo Freire em 2021, com muito debate e prática popular da pedagogia libertadora freireana, e a Sexta Semana Social Brasileira, promovida pela CNBB até 2022, com o tema Terra, Trabalho e Teto, Um Mutirão pela Vida!

As duas palavras que mais apareceram na Plenária nacional de Organização das Lutas populares foram solidariedade e unidade. Solidariedade com os mais pobres e com quem sofre com a pandemia, com reforço dos Comitês Populares contra a Fome e Comitês Populares da Saúde. Unidade de todas aquelas e todos aqueles que assumem e lutam pelo Fora Bolsonaro. 

O Fórum Social Mundial 2021 virtual está produzindo frutos e vai canalizar energias, vontade, coragem para o resto do ano. Um novo tempo está chegando, mesmo que o amanhecer ainda demore um pouco.

A luta continua. Um outro mundo é possível, urgente e necessário.

Edição: Katia Marko