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Lockdown já!

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"Vacina para todo mundo já! Auxílio emergencial e emprego já! Fora Bolsonaro já! E lockdown já, em todos os sentidos, fechar tudo pelo tempo necessário, para enfrentar a situação mais que dramática" - Ricardo Stuckert
É preciso radicalizar, para resistir. Ir para a desobediência civil.

Este é o terceiro título deste artigo. Começou com a ‘A Tensão está no Ar’, passou para ‘Nervos à Flor da Pele’, terminando com o que está acima, LOCKDOWN JÁ!, sinal dos tempos em que vivemos, da confusão em corações e mentes, como se lerá abaixo, mas em sintonia com o que Frentes Populares, movimentos sociais, ONGs, igrejas e pastorais estão propondo na conjuntura diante da pandemia: Vacina para todo mundo já! Auxílio emergencial e emprego já! Fora Bolsonaro já! E lockdown já, em todos os sentidos, fechar tudo pelo tempo necessário, para enfrentar a situação mais que dramática.

As finais do Brasileirão de futebol mostraram uma tensão permanente no ar. Não estou falando dos jogos das últimas rodadas, mas do que as cercou antes, durante e depois. Falo de grupos de WhastsApp dos quais participo: debates acirrados sobre futebol, os reais ou supostos erros do juiz, os favorecimentos dos times do centro do país, etc, etc. No caso, os grupos de whats nada têm a ver com futebol, e sim com política, conjuntura, movimentos sociais. Houve quem abandonasse o grupo, dizendo não haver democracia, porque não se permitia o debate livre e democrático. Bombeiros entraram em campo para solicitar o retorno ao grupo e aos bons debates.

Em família, os debates também se acirraram. Começou certo dia, depois da caipa de antes do almoço e das cevas que se seguiram. Eu argumentava que, no caso dos idosos com idade para serem vacinados – caso de mamãe, de 94 anos, que já recebeu a primeira vacina –, o cuidador ou cuidadora principal também podiam ser vacinados. Na roda, houve quem defendesse ardentemente que não, que era impossível. O argumento: ”Imagina se todos os idosos de Venâncio Aires, minha terra, ou de Santa Emília, minha comunidade, seus cuidadores também pudessem receber vacina! Além de eventuais fraudes, não haveria vacinas suficientes para todo mundo.”

Mal se passaram dois dias, chegou em casa a equipe de médicos e enfermeiros em visita de rotina, e foi oferecida a vacina para o principal cuidador de mamãe. Calei o bico, para evitar mais uma rodada ardente de discussão e discordância, podendo trazer consequências para o bom e mais que necessário diálogo familiar no cotidiano.

Os tempos não andam fáceis para ninguém. Todo mundo em casa, quase sem poder sair, sem fazer ou receber visitas há mais de ano, tensão no ar, nervos de todas e todos à flor da pele.

Neste contexto, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse na Abertura da Sessão da Comissão de Direitos Humanos na ONU: “Sociedades inteiras estão se habituando à ideia de que é preciso sacrificar a liberdade em nome da saúde.” Ao mesmo tempo, o presidente da República diz: “Se tudo dependesse de mim, não estaríamos nesse regime.” Isto é, a democracia. E na entrega do projeto que viabiliza a privatização da Eletrobras no Congresso Nacional, disse o presidente: “Nós queremos, sim, enxugar o Estado, diminuir o tamanho do mesmo, para que nossa economia possa ter satisfação, a resposta que a sociedade precisa.”

Imagina se, ao lado dessas posições e visão de mundo, ainda houvesse a liberação geral da compra, venda e posse de armas, defendida pelo governo federal e Presidência da República!

Resumo: a democracia é desnecessária, ou um estorvo. O que interessa é a economia, não a saúde. O Estado deve ser mínimo, para que o Senhor Mercado possa operar livremente. Para que uma Petrobras, uma Eletrobras, uma CEEE, uma Carris, uma CIENTEC, um DMAE, e BB, BNDES, CEF? Para que educação pública? Para que um SUS? Escolas devem funcionar, crianças e jovens devem estar em sala de aula, porque a saúde vem em segundo, ou último, lugar na sociedade. Liberem-se as armas para todo mundo e tudo estará resolvido. Vidas pouco ou nada interessam.

Na complexa conjuntura do Brasil e do mundo, ‘Onde estaremos daqui a um ano?’, pergunta Cristina Serra (FSP, 22.02.2021). E responde: “O neurocientista Miguel Nicolellis disse que ‘começa a ser real a possibilidade de não ter carnaval em 2022’. Chegaríamos, portanto, a dois anos de pandemia, a mais mortes e a população pobre tocando a vida aos trancos e barrancos.” Sem esquecer a proposta de Emenda Constitucional com cortes nos recursos para a saúde e educação.

Não por outro motivo, e com razão, a tensão está no ar e os nervos estão à flor da pele.

Que fazer? É preciso radicalizar, para resistir. Ir para a desobediência civil. Com lockdown já: a sociedade e a população de mãos dadas e conscientes de que não é possível ter mais 250 mil mortes para lamentar e chorar. Fechar tudo o tempo necessário. No mais, exigir e lutar por VACINA PARA TODOS E TODAS JÁ! AUXÍLIO EMERGENCIAL E EMPREGO JÁ! FORA BOLSONARO JÁ!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira