Paraíba

NOVAS FORMAS DE LUTA

Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia acontece virtualmente neste 8/03

O evento denuncia, na internet, a sobrecarga de trabalho ampliada pela pandemia

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Durante a 11° Marcha pela vida das mulheres e pela Agroecologia - Reprodução

A tradicional Marcha pela vida das mulheres e pela agroecologia, que chega a 12° edição, vai acontecer este ano nas redes sociais. "Vamos realizar a nossa Marcha de uma forma diferente das outras que já fizemos, que a gente se encontrava, revia as companheiras, escutava seus depoimentos, suas histórias de superação e, no dia 8 de março, a gente sempre se encontrava nesta caminhada de 6 mil mulheres. Mas, mesmo nesta pandemia, nós temos a clareza de que não podemos nos calar e é preciso nos reinventar no cenário desafiador que estamos vivendo”, explicou Roselita Vitor, da coordenação do Polo Sindical da Borborema. 

No ano passado, a 11ª edição aconteceu em Esperança. O evento surgiu em 2010, com dois grandes objetivos: dar visibilidade ao papel das camponesas na agricultura familiar e denunciar todas as formas de violência contra a mulher. O Polo da Borborema e a AS-PTA organizam a Marcha todos os anos. O Polo é uma articulação de 13 sindicatos de trabalhadores rurais da região da Borborema, na Paraíba, que há mais de 20 anos atua, com a assessoria da AS-PTA, pelo fortalecimento da agricultura familiar agroecológica no território. 

Este ano, a Marcha será na internet. Vai ser realizada uma live chamada "Sem cuidado não há vida", que acontece neste dia 8 de março, às 16h, abrindo a Jornada de Lutas do Movimento de Mulheres e Feminista deste ano.


Live Marcha pela vida das mulheres e pela agroecologia / Reprodução

Live “Sem cuidado não há vida” 

Em vez de caminhada, várias mulheres vão falar, dar seus depoimentos e tudo vai ser transmitido pelas redes sociais. A live começa às 16h e pode ser vista pelos canais do Youtube e Facebook do Polo da Borborema e da AS-PTA.

Mesmo sendo uma marcha virtual, as instituições organizadoras acreditam que “será um momento de muita energia, vibração, de sentir o calor das companheiras que estão lá nas comunidades rurais, com suas vizinhas, com seus filhos e filhas acompanhando nosso debate e discurso de que é preciso resistir, é preciso ecoar nossa voz”, afirma Roselita.

Depois da live, segue o processo de debates e conversas sobre o tema da Marcha. O planejamento do Polo e da AS-PTA é que haja reuniões comunitárias envolvendo, ao todo, cerca de 600 mulheres. Para dar início ao clima da Marcha, foram organizados dois espaços nas redes sociais e desde o dia 10 de fevereiro, estão sendo publicados nas redes sociais do Polo, da AS-PTA e da Marcha (Veja Aqui), 30 vídeos com agricultoras falando do impacto da pandemia na vida delas.


Instagram da Marcha pela vida das mulheres e pela Agroecologia / Reprodução

O canal no Instagram da Marcha foi lançado na semana passada e já tem vários depoimentos de agricultoras, jovens e lideranças sobre a importância da Marcha na vida delas, como estes:


Instagram da Marcha pela vida das Mulheres e pela agroecologia / @marchapelavidadasmulheres / Reprodução

“Acho que todo mundo foi pego de surpresa. Um momento muito novo, difícil para todos nós, principalmente para nós mulheres. A gente está conseguindo se habituar nesse momento, mas ainda está muito difícil. Muitas companheiras nossas entraram em depressão e a gente só não entra em depressão se a gente estiver juntas. Mesmo longe uma da outra, a gente está sempre em contato, sempre segurando uma a mão da outra, nos fortalecendo nesse momento pra gente não cair, porque essa pandemia é difícil pra nós mulheres”, conta Anilda, agricultora de Remígio-PB, no insta da Marcha.

“Se não fosse a Marcha, eu não chamaria mais Ligória! Porque a Marcha tem uma história muito forte na minha vida e na da minha família também. Eu aprendi a lidar com a violência, aprendi a me defender e também a ter minha autonomia, que eu não tinha. Essa Marcha veio me dar bastante sabedoria”, depoimento de Ligória, agricultora de Esperança-PB, também no instagram.

“Pra mim, a Marcha das mulheres mudou a minha vida de forma porque eu tive conhecimento de coisas que eu não tinha antes. Como eu não sabia que o marido em casa querer que a gente desse tudo prontinho na mão dele, que aquilo ali era um tipo de exploração e agora eu sei que é. Até ele mesmo já mudou o comportamento em casa. Então pra mim, a Marcha teve um grande desenvolvimento pra mim. Eu gosto de participar, eu me sinto à vontade no dia da Marcha por conta disso”, conta Tereza, agricultora de Alagoa Nova-PB também nesta rede social.

No início da pandemia, a escuta de mulheres

Em abril de 2020, a AS-PTA e o Polo fizeram uma escuta com as mulheres para saber como elas estavam vivendo aqueles dias iniciais da pandemia. Neste período, ainda não tinha chovido na região e estavam sem produzir alimentos. A pesquisa foi enviada por WhatsApp para 30 mulheres, 24 delas responderam. Em geral, as mulheres falaram sobre o impacto material, principalmente pela redução da renda devido ao fechamento dos espaços de venda de seus produtos. Falaram sobre o rápido empobrecimento das comunidades e até do retorno à fome, já que muitos não tinha qualquer produção.


Giselda, do Polo Sindical da Borborema / Reprodução

“Mas elas trouxeram também muitas questões do campo emocional e afetivo – falaram do medo da doença, pânico em ser contaminadas, a saudade por não poder encontrar suas mães ou filhos naquele começo de pandemia”, conta Adriana Galvão, assessora técnica da AS-PTA que acompanha de perto a organização da Marcha e o trabalho com as mulheres realizado na região do Polo.

Na pesquisa, as mulheres relataram também o aumento do trabalho dos cuidados em casa. E, ainda por cima, elas tinham que lidar com toda a insegurança gerada por filhos adolescentes e maridos que negavam a doença e não se isolavam. Além disto tudo, havia a dificuldade de partilhar todos estes desafios, dificuldades e receios com outras pessoas devido ao estado de isolamento, necessário para evitar a contaminação do coronavírus.

“O estado foi ausente no tratamento da pandemia e acabou transferindo para as mulheres todo o ônus desse momento”, reflete Adriana. “Foram as mulheres que cuidaram dos doentes. Foram as mulheres que alimentaram a famílias. Foram as mulheres que se responsabilizaram pela educação dos filhos. As mulheres, se responsabilizaram pela sustentação da vida. E o mais desafiador disso tudo é desnaturalizar que esse trabalho seja única e exclusivamente responsabilidade delas, que isso é um trabalho natural das mulheres”.

Por esta razão, para desnaturalizar as situações de exploração da mulher, é que as mulheres do Polo da Borborema reinventam seu espaço de denúncia e vão ocupar o domínio virtual para dizer ao mundo como vivem e reafirmar o primordial papel assumido pelas mulheres, nesta pandemia, com relação à alimentação.

“Esta Marcha traz o debate sobre os cuidados e sem os cuidados não há vida. A história das mulheres é marcada pelo cuidado com a vida e é por isso que estamos na luta pela agroecologia, por um alimento puro, livre de agrotóxico, não só para o mundo rural, mas para todas as pessoas”, arremata Roselita Vitor.

Para quem quer conferir a live, segue as redes sociais da Marcha pela vida das mulheres e pela agroecologia. Instagram: @marchapelavidadasmulheres e Facebook: https://fb.me/e/1UJVz7YpO

Com assessoria da AS-PTA

Edição: Heloisa de Sousa