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Crônica | Morreu na contramão atrapalhando o trânsito?

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"De repente, houve um acidente na sua frente. Uma batida violenta" - Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
Meu amigo Talmo era desesperado para casar

Meu amigo Talmo era desesperado para casar. Conhecia desde pequeno. Era um pouco inocente e jogávamos bola juntos. Nossas brincadeiras eram embaladas da mais pura harmonia com outros amigos. Éramos felizes! Cada um tomou um rumo na vida.

Aos 20 anos a maioria da turma casou ou namorava. Só nosso amigo Talmo, não! O tempo passou. Muita gente casou, separou, casou de novo.... E Talmo ainda nada. Noticias ficavam cada vez mais raras.

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Isso foi virando obsessão. Fez terapia. Procurou igrejas. Terreiros de candomblé. Terreiros de umbanda. Budismo. Taro. Xangô de Baker Street. Tudo que foi possível e impossível. Nas rodas de conversa não podíamos falar sobre o assunto.

Talmo ficava irritadíssimo. Ele tinha perdido o prazer de viver. Ele queria casar. Sentia -se só no mundo. Um vácuo ou coisa parecida. Oh! Sou infeliz, muito infeliz... dizia Talmo aos prantos! Como eu sofro sem ter uma namorada para casar. Alguém que vai me amar de verdade. Quero encontrar alguém com um perfume da flor mais bela de Pixinguinha e Cartola.

Essa obsessão o tornava poeta. Alguém aconselhou a fazer uma simpatia em uma encruzilhada ao meio dia. Essa simpatia tinha que ser numa avenida movimentada. A pessoa garantiu que depois dessa simpatia, Talmo casaria. Está escrito, Talmo! É só você fazer essa simpatia. Talmo foi para a tal avenida. Tinha que rezar 30 ave marias e andar em círculo quando o sinal tivesse fechado.

Além disso, o dia estava muito quente com o sol a pino queimando tudo pela frente, sem contar que carregava uma sacola cheia de velas e orações. A cena era digna de um filme de comédia do Zé do Caixão.  

De repente, houve um acidente na sua frente. Uma batida violenta. O motorista morreu na hora. A polícia veio e levou Talmo como testemunha. Ele já estava "puto" que não conseguiu fazer a tal simpatia. E ainda foi confundido pela família do morto como o causador do acidente. Ele xingava todo mundo na delegacia, sobrou até para a recente viúva.

Depois de muitos anos encontrei Talmo casado e a família num desses festivais de jazz em Tiradentes todo sorridente. Fiquei sem entender. Ele me contou a incrível história. Casou com a mulher do moço que morreu no acidente quando fazia a tal simpatia.

- Caramba, que história!

- Pois é, né? Agora eu e Aurora vivemos como dois anjinhos de felicidade!

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.

Edição: Elis Almeida