Paraná

Coluna

Boletim O Sul do Mundo: notícias de um continente turbulento

Imagem de perfil do Colunistaesd
haiti protestos
Seguem ocorrendo no país mobilizações contra Jovenel Moïse, governo já considerados pelos movimentos populares como uma ditadura - Héctor Retamal / AFP
Disputa EUA e Rússia, crise no Haiti, Paraguai, resistência no México são alguns temas deste boletim

Boletim latino-americano O Sul do Mundo, número 1, em parceria com a editora Kotter

Às vezes, os EUA são sincerões

Em duas semanas, Antony John Blinken, secretário de Estado dos EUA na administração de Joe Biden afirmou que o país não terá dúvidas “em usar a força” “quando os objetivos sejam claros e alcançáveis, consistentes com nossos valores e leis, e com aprovação do povo, junto com a diplomacia”.

Para bom entendedor, meia palavra basta. Após dois meses da sua posse, Biden dá sinais de uma política externa estadunidense “com os dentes de fora”, buscando combater direta e indiretamente a área de influência da China. Novos bombardeios à Síria já foram desferidos.

Mais tarde, Biden disse em uma entrevista televisiva que Putin é um “assassino” e alertou que ele “pagará as consequências”. Em resposta dura, o presidente russo elencou o histórico de assassinatos cometidos pelos EUA desde sua fundação, ironizou que Biden estaria “olhando no espelho” com os comentários, e disse que na defesa dos interesses continuará buscando negociação com o país norte-americano. 

Haiti segue resistente


Seguem ocorrendo no país mobilizações contra Jovenel Moïse, governo já considerados pelos movimentos populares como uma ditadura, por ter se prolongado no poder além do prazo de seu mandato. Uma análise do jornal Haiti Freedom é de que a oligarquia busca se manter no poder, subjugar como massas rurais e urbanas, sobretudo como camponesas, abrir espaço para as empresas transnacionais devido ao número de terras à disposição e ao interesse de corporações internacionais e estadunidionenses e estadunentenses.

Maduro manda a real

O governo venezuelano de Nicolás Maduro anunciou que ajudará também o estado do Amapá, enviando cilindros de oxigênio para tratamento de pessoas intubadas com a Covid-19. É o segundo estado brasileiro em crise sanitária gravíssima com a pandemia a ter auxílio da Venezuela. O primeiro foi o Amazonas. O clima, no entanto, não deixa de ser tenso. Maduro classificou o Brasil como ameaça global e criticou o descontrole da pandemia e surgimento de novas cepas do vírus por culpa de Jair Bolsonaro: “Atitude iresponsável com o povo de Brasil. Brasil é uma ameaça para o mundo hoje, por culpa de Jair Bolsonaro. Que podia ter pedido ajuda aos distintos setores científicos, médicos, políticos, de Brasil. Ao mundo, mas ao invés de pedir ajuda, o que faz é dizer para que as pessoas não se protejam da quarentena, uma loucura de verdade, não tem nome”, afirmou o mandatário venezuelano em seu programa dominical.

No México, governo aumenta gasto em aposentadoria (Com La Jornada)

No México, em 2016, ainda sob vigência de um neoliberalismo duro e de quase quatro décadas de vigência, os trabalhadores perderam a referência do salário mínimo e o vínculo com o valor das aposentadorias.
Agora, há pressão dos trabalhadores para que voltem à medição anterior, ou seja, que o salário mínimo continue a ser o que indica o aumento das pensões. Ao menos, o atual governo de Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO) aumentou o orçamento anual de 135 bilhões de pesos mexicanos para 240 mil em 2022, com previsão de 300 bilhões em 2023 e 370 bilhões em 2024, em benefício de 10 milhões 300 mil idosos. A idade para recebê-la também cairia de 68 para 65 anos.
Obrador ressaltou que os recursos virão do que foi obtido com a chamada austeridade republicana, que é o combate do governo à corrupção, "sem aumento da dívida nem dos impostos".


A importância do controle sobre o petróleo nacional

México como país produtor de petróleo consolidou a nacionalização de sua indústria em 1938 durante o governo desenvolvimentista de Lázaro Cárdenas (1934 – 1940), respondendo ao definido na Constituição de 1917, que já havia nacionalizado antes as reservas. Toda a exploração petrolífera passou a ser do Estado. Antes, o recurso energético estava nas mãos de empresas estrangeiras. O controle e o acesso à renda petroleira foi uma ferramenta que permitiu ao México durante o século vinte ser uma das economias mais avançadas da América Latina. Enquanto isso, no Brasil de hoje, Bolsonaro ameaça privatizar 8 de nossas 14 refinarias.

O governo de Cárdenas, pressionado após o fim da recente Revolução Mexicana, ainda implementou direito à greve, educação indígena e o acesso dos indígenas ao modelo de divisão da terra chamado ejido, no qual o camponês tinha o direito à terra, podia produzir individualmente ou coletivamente, não podia apenas vendê-la.

Lopez Obrador, pressionado e por ora firme

Artigo de Miguel Angel Ferrer, na Telesur, aponta que o governo Andrés Manuel Lopez Obrador vem sofrendo pressão da direita no país. Ele exemplifica que haverá eleições para a Câmara de Deputados do país, o que intensifica a pressão das frações conservadoras. De acordo com o analista, Obrador tem conseguido resistir contra os ataques. As fake news contra o presidente envolvem notícias falsas sobre vacinação, de maneira a confundir a população. Andrés Manuel ainda celebrou a recuperação momentânea dos direitos políticos por parte de Lula, no Brasil.

Narcoestado

Em Honduras, reportagem do La Jornada, jornal mexicano, revela como o atual governo de Juan Hernandez e governos anteriores apresentam relações e são chantageados pelo tráfico.

Eixo conservador na América do Sul

Colômbia, Brasil, Paraguai, Uruguai, conformam hoje o eixo conservador do continente (no Peru e no Chile há resistências, então veremos ao longo do ano a correlação de forças entre as classes sociais nestes países).

Na Colômbia, só em 2021, 34 ativistas foram assassinados. Desses países, a situação mais difícil atualmente é a do governo do Paraguai, onde o presidente Mario Abdo Benítez tenta sobreviver à crise política causada pela pandemia, pedindo socorro inclusive em Brasil de Bolsonaro. As lutas nas ruas pedem a saída e o impeachment de Benítez.

De acordo com a repórter Michele de Melo, do Brasil de Fato, há um ano em estado de emergência sanitária, o país acumula 174 mil casos, sendo 1,2 mil em estado grave e 3.387 mortos pela covid-19. Até o momento, apenas 0,1% da população de 7 milhões de habitantes recebeu ao menos uma dose da vacina, com a chegada de quatro mil doses da fórmula russa, a Sputnik V. As denúncias de corrupção e má gestão se multiplicam, já que também há um ano, o governo Colorado e o Fundo Monetário Internacional (FMI) assinaram um empréstimo de US$ 274 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) para combater a pandemia.

Já em entrevista realizada pelo repórter Leonardo Severo com Jorge Querey, senador da Frente Guasú, afirma que há lotação de 100% dos leitos no país.

Edição: Lucas Botelho