Rio Grande do Sul

Arte e Cultura

Série "Nação Preta do Sul" estreia no Youtube dia 20 de abril

Série documental produzida pela TV Nação Preta percorreu diversos municípios do estado

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A jornalista Gabriela Barenho é a produtora executiva do projeto e do canal TV Nação Preta - Foto: Fernando Ramos

Depois de rodar por diversos municípios para retratar as diferentes formas de presença da cultura negra no Rio Grande do Sul, a série documental "Nação Preta do Sul – pela valorização da cultura negra no Estado" tem estreia marcada para o dia 20 de abril.

Os sete episódios estarão disponíveis, simultaneamente, no canal da TV Nação Preta no YouTube. Posteriormente, será lançado um documentário longa-metragem, direcionado para apresentação em festivais e emissoras de televisão.

Foram aproximadamente 50 depoimentos colhidos em Jaguarão, Rio Grande, Praia do Cassino, Pelotas, Santa Vitória do Palmar, Canguçu, Rio Pardo e Porto Alegre. Historiadores, quilombolas, líderes comunitários, artistas, produtores culturais, gestores públicos, professores e religiosos, entre outros, são os protagonistas da série, personagens que representam e trabalham pela valorização da cultura negra. A união dessas vivências contribui para a reflexão sobre resistência cultural, enfrentamento das diferenças, espaço na sociedade e legado.

Segundo Gabriela Barenho, produtora executiva do projeto e do canal TV Nação Preta, o negro gaúcho vai se reconhecer na série. “Seria injusto destacar momentos específicos da série, porque é a união de todos eles que torna essa experiência tão rica e emocionante”, afirma.

Ela lembra também com muito carinho do encontro com um grupo de mulheres quilombolas em Canguçu, que contam suas histórias através do artesanato e da confecção de bonecas.

“Viajar quilômetros por estradas de terra, enfrentando muitas adversidades para enfim encontrá-las, é como achar um pote de ouro no final do arco-íris, depois da tempestade”, recorda a produtora.

Gabriela destaca também que a situação permanente de pandemia acabou gerando um impacto negativo no desenvolvimento do projeto, pois não se imaginava o tamanho do desafio que é fazer uma produção levando em conta as medidas de proteção.

Meses de dedicação e apoio de editais

Desde a concepção, foram sete meses de dedicação emocional e profissional permanentes, com o objetivo de dar visibilidade à cultura negra gaúcha através de um conteúdo capaz de ganhar o mundo. Contemplado pela Lei Aldir Blanc, através do edital Sedac – Produções Culturais e Artísticas, o projeto ganhou reforço através de outro edital que permitiu a aquisição de bens e materiais, que propiciou acesso a equipamentos de alta qualidade.

A associação com a produtora Antro de Criação também foi muito importante, em termos de estrutura e de concepção artística, agregando ainda mais diversidade à linguagem documental.

Ao fim desta etapa do processo, Gabriela Barenho ressalta que a presença negra no Sul não é apenas marcante, mas cresce e evolui a cada geração.

“São inúmeras iniciativas, artistas e projetos que ainda precisam ser mostrados e mostrados novamente, numa situação de enfrentamento, resistência e combate ao racismo, mas também porque são belos.” 

Ela entende que, por muito tempo, a historiografia oficial relativizou a presença do povo negro e até mesmo o processo de escravização no Rio Grande do Sul, e que o projeto contribui para reconstruir essa relação. Satisfeita com a oportunidade de realizar a série documental, grata pelos inúmeros apoios recebidos, ela vislumbra o dever de enfrentar novos desafios para dar sequência ao trabalho.

“É por nossos Mestres e Mestras, que lutaram e resistiram para que hoje tenhamos esse espaço. Seguimos e não seguimos sozinhos. Vera Cardozo vive na Nação Preta do Sul!”

Herança de Luta

As raízes do projeto Nação Preta do Sul têm origem numa bonita história de família. Foi em 2012 que a jornalista Vera Cardozo (1955-2019), mãe da produtora Gabriela Barenho, criou o Programa Nação (TVE/RS). O documentário semanal foi pioneiro no país, ao abordar a negritude como tema central.

A partir de 2014, o Nação passou a ser exibido pela TV Brasil e pelo canal internacional da EBC. Em 2015, ganhou o Prêmio Vladimir Herzog (Categoria Documentário) pelo especial “A Revolta da Chibata”, contando a história de João Cândido, o Almirante Negro.

Em 2017, com o desmonte da comunicação pública, o programa acabou saindo do ar. Para dar continuidade ao projeto, o canal TV Nação Preta foi lançado no YouTube, como forma de resistência no campo do jornalismo alternativo. Dedicado ao registro, divulgação e valorização da história e da cultura afro-brasileira, tem o objetivo de dar visibilidade e representatividade ao povo negro.

Com ampla e diversificada produção de conteúdo, grande engajamento da comunidade e forte conexão com outros coletivos, o trabalho vem sendo reconhecido como um exemplo de sucesso na inclusão do negro no jornalismo e no entretenimento. Em 2019, Gabriela Barenho assume a produção executiva do canal, e dá sequência ao trabalho e à luta da mãe – herança que é a principal inspiração do projeto Nação Preta do Sul.


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Edição: Katia Marko