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Breve balanço após cinco anos do mais recente Golpe de Estado no Brasil

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O tempo demonstrou que os interesses em jogo no afastamento de Dilma eram eminentemente políticos e econômicos - Foto do autor da coluna
O tempo demonstrou que os interesses em jogo no afastamento de Dilma eram políticos e econômicos

Durante a tarde para a noite daquele domingo, 17 de abril de 2016, mobilizados na Praça Rui Barbosa, em Curitiba, acompanhamos estarrecidos as manifestações dos/as deputados/as federais ao vivo e em cores para todo o planeta.

Uma parcela do povo brasileiro lutou muito para impedir que a presidenta Dilma (PT) fosse golpeada, mas a derrota imposta pela elite do atraso sobre a maioria do povo brasileiro foi tremenda! Em nome de Deus, da família e dos eleitores, 367 deputados votaram a favor da instalação do processo de afastamento da presidenta legitimamente eleita.

O golpe se consolidou pela escolha de 61 dos 81 senadores em 31 agosto do mesmo 2016. Cinco anos se passaram desde aquela data fatídica e esse distanciamento vai favorecendo a afirmação de balanços que podemos consolidar. A primeira consideração diz respeito à hipocrisia que marca a elite brasileira representada nas afirmações Deus, família, tradições e impedir o perigo do comunismo, dentre outras balelas que foram mais uma vez apenas cortina de fumaça.

Logicamente que o tempo demonstrou que os interesses em jogo no afastamento de Dilma eram eminentemente políticos e econômicos. As questões do petróleo, da autonomia em curso do Brasil, dos avanços na educação e redução das desigualdades promovidas pelos governos petistas incomodaram desde o inicio a elite entreguista e antinacional.

Aliás, esses mesmos interesses se mostram presentes no golpismo que produziu o suicídio de Getúlio Vargas e no golpe civil/militar de 1964. A elite do atraso já aprendeu que uma sociedade com o nível baixíssimo de consciência política como a brasileira é fácil de manipular.

Favorecidas pelas mentiras e pelo ódio disseminados pelas grandes redes de comunicação, lideranças de diversos matizes religiosos, setores empresariais (onde foi parar o ‘pato amarelo’?), e a parte podre do poder judiciário via 'lavajatismo', foi então um pulo para deslocar a manada dos/as congressistas para o golpe.

Lembremos a assertiva do então senador Romero Jucá que, em conversa com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, afirmaram que “tem de ter o impeachment” num grande acordo com o congresso e o próprio STF. A segunda grande constatação é que Dilma foi retirada pela acusação de manobra contábil nas chamadas pedaladas fiscais. Hoje quase não se fala mais nessa peça. Ficou evidente que a escolha foi política, afinal, presidentes como FHC e Lula realizaram o mesmo movimento financeiro e não foram denunciados.

Um terceiro bloco de avaliação diz respeito aos rumos do golpismo. É evidente que uma decisão coletiva pautada na manipulação e na mentira jamais poderia produzir resultados positivos para o povo e a nação como um todo. Do traidor Michel Temer (MDB) à eleição inspirada no ódio e na mentira que levou o defensor da tortura Bolsonaro ao cargo de presidente, nossas desgraças só aumentaram. As reformas profundas realizadas com o condão de que eram necessárias para alavancar o desenvolvimento produziu mais atrasos para a maioria da população e concentrou riquezas no topo da elite. A escolha genocida na condução da pandemia que se consolidou como a pior tragédia coletiva da historia brasileira também é resultado do golpismo que guindou uma aristocracia miliciana ao poder central. Por fim, a correção das injustiças sobre o presidente Lula, após cinco anos de manipulação dos operadores da lava jato identifica a marca golpista que também era anunciada por Jucá no período recuado da engenharia do golpe. O Supremo Tribunal Federal deixou ocorrer a eleição de 2018 sem a presença da principal liderança, Lula. Anunciávamos em alto e bom tom: Eleição sem Lula é fraude.

A História nos deu razão e nesta semana o supremo consolidou as correções de rumos de sua própria miséria doutrinária. Por fim, os rumos do golpismo continuam abertos após esses cinco anos. Superar esse quadro exigirá muitos esforços de mulheres e homens que não escolheram a inércia ou a movimentação das turbas animadas pelos piores interesses das desumanidades que marcam nosso tempo. Construir um novo ciclo histórico pós-pandemia e pós-golpismo será desafiador e instigante.

Edição: Pedro Carrano